28.12.09

serenata de um.

vai! e leva embora
a solidão do amor,
a completude da dor.
o riso na partida,
o medo de voltar.

vai! e não esqueça nada,
e vire a página do avesso
(pronta pro novo começo)

começo que pintei há tanto tempo.

o que é velho e persistir
(retrato ainda meu)
porém que continue velho.

o gosto da vida é bom
quanto mais sofrida sua safra.

que minha safra
apodreça cantando
sonhos de ninar.

que não me apareça
crianças pedindo pra
recomeçar.

não quero o velho
moldado de novo,
não quero o antes
recortado em futuro.

quero o som da novidade
mesclado ao passo
mais surdo e mudo
e cego e tudo e tudo
do velho e bom eu.

completude em mim.

verso de sereneta.
verso inverso invero.
verso de mim mesmo
verso de cantar, pintor.

que comece a pintar
por cima.
deixa ver as bordas
coloridas.
deixa ser as bordas
da vida.
que leve embora!
vai! mas não volta.
leva o que tem que
partir - só o que tem
que partir.

 enfim.

15.12.09

azulado.

lá onde o céu toca
as bordas do oceano
e as pessoas chamam
de linha do horizonte

eu vejo o infinito beijar
seu anti-oposto com carinho,
com saudade - perdidos
no relógio nosso.

cheios de seu próprio tempo,
aproveitando o desejar sincero
de amantes tão velhos como
o sempre.

cheios de querer se amar,
se completam e se possuem
num azul sereno de paz.

apoética.

saudade é querer,
um querer estar
despreenchido.

uma decisão de
quem sabe que
esquecer dói

e que lembrar
também.

ausência
(de toda forma)
é anagrama
de martírio.

saudade é
uma opção de
quem prefere
suportar toda
a lembrança
impassageira

a entregar ao
vento noturno
o perfume doce
das camisetas
suadas de amor.

11.12.09

maniqueísmo.

vi fender na pedra
sólida e imaleável
de seu rosto um
sorrir discreto.

forte e sensível.

talvez uma alma
moldada em puro
concreto tenha
amolecido com o
chover secreto
do tempo.

talvez uma vida
nasceu em flor:

veja luz,
viderva daninha!

9.12.09

porcentagem.

vou lhe contar como são
as meninas de niterói,
da lapa ou do guanabara,
seja lá de onde for!

por que as meninas do rio
são todas iguais às paulistas,
às novaiorquinas,às alemãs:

numa sociedade-em-lata
chorando um amor alheio,
cantando um querer qualquer,
buscando o intangível na
palavra ocre de um bem-me-quer.

vende-se novo sentimentalismo,
quem compra?

8.12.09

desse jeito.

ao caminhar, não olhe para o alto:
há sempre andorinhas migrando.
não olhe para frente:
há sempre alguém que lhe sorria.
mas olhe para baixo:
onde pisamos é o que somos.

por vezes não pisamos em nada.
por vezes pisamos em gente.

não se distraia.