28.12.09

serenata de um.

vai! e leva embora
a solidão do amor,
a completude da dor.
o riso na partida,
o medo de voltar.

vai! e não esqueça nada,
e vire a página do avesso
(pronta pro novo começo)

começo que pintei há tanto tempo.

o que é velho e persistir
(retrato ainda meu)
porém que continue velho.

o gosto da vida é bom
quanto mais sofrida sua safra.

que minha safra
apodreça cantando
sonhos de ninar.

que não me apareça
crianças pedindo pra
recomeçar.

não quero o velho
moldado de novo,
não quero o antes
recortado em futuro.

quero o som da novidade
mesclado ao passo
mais surdo e mudo
e cego e tudo e tudo
do velho e bom eu.

completude em mim.

verso de sereneta.
verso inverso invero.
verso de mim mesmo
verso de cantar, pintor.

que comece a pintar
por cima.
deixa ver as bordas
coloridas.
deixa ser as bordas
da vida.
que leve embora!
vai! mas não volta.
leva o que tem que
partir - só o que tem
que partir.

 enfim.

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