31.10.07

sobre um causo popular.

Terezinha do Norte é conhecida pelas suas lindas praias e seu folclore popular passado de geração em geração. Assim como todo ano, no dia 31 de Outubro, quase toda a cidade se reúne na praça municipal a fim de trocarem histórias folclóricas desde as mais antigas até aquelas que as pessoas que vivenciaram estavam vivas para contar.
O relógio da catedral badalou 12 vezes, indicando que estava na hora de começar a reunião. Cada um pegou seu banquinho e se acomodou a fim de ouvir as mais estranhas histórias da cidade. O orador da noite era Emanuel, um jovem estudioso que foi fazer faculdade de História na capital e estava vindo para a comemoração. O problema era que ele estava atrasado e este tipo de atitude era quase uma afronta para os espectadores.
- Onde ele se meteu? - perguntou o prefeito da cidade para a mãe do desaparecido.
- Ele está vindo da capital. Deve ter pego trânsito.
- Trânsito para chegar nessas bandas que ninguém visita? Duvido.
Do outro lado da cidade, entre a estrada e a placa de boas vindas de Terezinha, Emanuel se perguntava por que o combustível do carro havia acabado repentinamente. "Droga, mas eu reabasteci o carro antes da viagem! Não é possível", os olhos negros e cansados do viajante, se encheram de desespero por um instante ao perceber que ele estava sem carro, atrasado e sem ninguém para ajudá-lo.
Olhou desesperadamente em volta, mas todas as casas estavam apagadas, todos haviam ido para a comemoração. Apenas uma casa estava iluminada, o conservatório municipal, que não era um prédio desses de filme americano, e sim uma casa tombada de paredes ladrilhadas, já deteriorados e quebrados pelo tempo; grandes janelas em um tom fosco de poeira; um portão baixo para impedir a passagem de cães e gatos; uma música tocada ao fundo deixava a casa com um ar mais sombrio que o normal. Ele pressentiu que ali conseguiria ajuda, chegou bem perto da grade e bateu palmas várias vezes, mas ninguém atendeu. Os acordes do piano continuavam, ele decidiu entrar. Ao chegar perto do piano, encontrou uma senhora que há algum tempo marcou sua humilde adolescência: Era Gertrudes, a professora de piano da escola Santa Cecília.
- Professora, quanto tempo!
As mãos da velha senhora pararam repentinamente, ela se virou e com olhos profundos e amedrontantes o encarou.
- Emanuel! Que saudade! - um sorriso e um tom de alegria se esboçaram no rosto cheio de rugas da velha - Mas que surpresa, o que faz por aqui?
- Eu fui convidado para ser o mediador do festival de lendas e folclore que acontece hoje.
- Sei sei, Já são quase 1:00 da manhã, você está atrasado.
- Eu sei, mas meu carro me deixou na mão, não tenho como chegar lá.
- Lembra daquele meu velho fusca?
- Como esquecer o "trambolho-branco"!
Os dois deram risadas.
- Então, está lá fora. Eu já estava indo embora, quer uma carona?
- Seria pedir demais.
- Eu insisto, venha comigo.
Saíram rumo à escuridão da noite pouco iluminada pelos postes, o fusca estava do outro lado da rua, limpo e alvo como um fantasma de quatro rodas.
Foram, calados, até o cruzamento da rua Carminha do Valle com a rua Eurico Neves - dois quarteirões para cima chegava-se na praça, alguns para baixo, na casa da gentil senhora.
- Posso te deixar aqui?
- Pode, mas você não vai para a festa?
- Não, você sabe que nunca fui chegada à festas.
- É, você nunca gostou dessas manifestações em massa.
Outros risos.
- Poderia até te acompanhar, mas estou de preto.
- Luto?
- Quem sabe...
- Meus pêsames. Bom, preciso ir andando. Muito obrigado, Gertrudes. Até outro dia.
O pequeno automóvel foi desaparecendo aos poucos na penumbra da noite. Correndo, Emanuel conseguiu chegar na reunião da cidade antes das duas da manhã. O secretário da Cultura abriu a festividade, para que ela não se atrasasse muito. O jovem historiador esperou o causo que era contado se acabar, para subir no palanque e se desculpar.
- Oi, eu sou o Emanuel. Sim, eu sei que deveria ter aberto esta reunião, mas na entrada da cidade eu acabei tendo um pequeno problema com o carro: acabou a gasolina. Sem esperanças de chegar aqui a tempo, vi a luz do conservatório ligada, graças a Deus havia alguém ali, a qual me trouxe até aqui de carona: Dona Gertrudes.
Os olhos dos expectadores se arregalaram e um tom de espantou tomou conta da praça:
- Mas ela morreu há dois meses!

30.10.07

sobre músicas.

É fato: a vida de cada um é marcada por músicas. Não importa o estilo e o motivo, mas para cada momento vinculamos uma canção especial - desde lavar banheiro escutando Wando até se declarar para a namorada com Chico Buarque.
Querendo ou não a música é a melhor forma de expressão do ser-humano, basta algum sentimento bater no coração para nos afundarmos debaixo do chuveiro cantando músicas conhecidas ou compondo as nossas próprias. Se eu fizesse um acervo das minhas composições de chuveiro, aposto que me daria um disco de platina! Na verdade, talvez só eu comprasse os exemplares por que, quando você cria as suas próprias canções, elas só fazem sentido pra você mesmo.
Por isso, não é de se admirar a quantidade de bandas novas que surgem por aí: pessoas que se juntam pra 'fazer um som' e escrever os primeiros sentimentos que vierem na cabeça como letras. Há pessoas que criticam esta forma de expressão cultural dizendo que a qualidade das músicas é cada vez pior, eu discordo em parte. Eu não vou mentir: sim, há letras muito ruins, daquelas que você tem vontade de esmurrar o cantor, mas este é gosto da geração atual e é o que vende 'pra moçada'. É perfeitamente aceitável que você não goste das músicas e prefira uma outra geração musical.
Tenha seu gosto e escolha o seu repertório, afinal se você lava banheiro escutando Chico Buarque e se declara pra namorada com Wando, o problema é seu, ninguém precisa opiniar no seu gosto, desde que você não opine no dos outros.
O importante é não negar a si mesmo o direito à musica, pois ela faz parte do nosso dia-a-dia e da nossa vida.

29.10.07

sobre o armário.

Lucinda era uma senhora simpática, vestia-se como vó, tinha o fenótipo de vó, tricotava nas horas vagas, mas todos a conheciam por sua língua! Caramba, ela não perdia uma chance de criticar ou meter o bedelho onde não era chamada.
Seus quatro filhos já estavam acustumados ao seu jeito peculiar de ser, menos o caçula, Davi, pois a mãe já tinha 'botado pra correr' quatro das cinco namoradas dele. A nova, Clarinha, ele amava de paixão e não deixaria que sua projenitora acabasse com o romance.
- Filho, larga mão de viadagem. Você tem mais outros três irmãos e eles não pensam em casar! Usa ela e parte para outra, assim é a vida!
- Mãe, eu a amo! Eu cansei de você ficar me atrapalhando. Desta vez eu me caso com ela, você querendo ou não.
Ele nem imaginava que ela já tinha um plano.
- Puxa, já que você quer tanto assim, traga-a aqui. Para eu conhecê-la.
- Não, mãe. Não vou cair nessa denovo, você sempre faz isso.
- É verdade, você sempre cai! Seu bobinho.
- Ha-ha, mamãezinha.
- Tá bom, tá bom. Vamos fazer assim, você traz ela aqui em casa, eu me escondo no armário, ela não vai me perceber.
- Mas qual a graça?
- Ué, pelo menos eu a vejo, sem atrapalhar vocês dois.
- Ah, mãe... não.
- Tudo bem, filho. Se eu morrer, você não chore, hein?
- Pára de ser trágica! Não é pra tanto!
- Você não me ama que eu sei.
- Pára, mãe! Quer saber? Eu a trago, então!
- Oba! Quando?
- Hoje?
- Perfeito.
Eram 16:15 quando a campainha tocou, em um pulo Lucinda se escondeu no armário do quarto do filho e ele foi buscá-la no portão. Depois dos cumprimentos iniciais, eles entraram e foram diretamente para o quarto de Davi.
- Cadê sua família, amor?
- É... meus irmãos estão no trabalho.
- E sua mãe?
- Foi num chá de uma amiga.
- Estamos sozinhos?
- É... sim, é...
- Melhor ainda.
Foi então que ela se jogou para cima do jovem que, por sua vez, intendeu as segundas intenções e deixou acontecer. Clarice tirava a roupa dele...
- Não, seu burro! Filho quantas vezes eu tenho que te dizer que você conduz a mulher?
Lucinda 'esqueceu' do combinado e saiu nua do guarda-roupa. Sim, um choque duplo!
Clarice nunca mais voltou lá, Lucinda se sentiu realizada com seu plano e Davi... ah, o Davi foi pra bem longe da mãe, ver se dessa vez ele casava.

28.10.07

sobre encontros casuais.

Dentre as coisas que ilustram minha lista de mais odiados está os encontros casuais - caramba, como eu não suporto 'dar de cara' com aquele conhecido em lugares inusitados.
Pra começar, você sempre está mal vestido ou com um péssimo humor na ocasião e, por conseqüência, o papo não flui e acabam acontecendo silêncios totalmente constrangedores.

- Stefano?
- Oi, Carolina!
- Que saudade, meu!
- Pois é, faz muito tempo que não te vejo.
- É.
- O que tem feito?
- Ah, estudos e saido as vezes. E você?
- Eu? O mesmo, vida de estudando é corrida, né?
- É.
[...] silêncio.
- É.
- Bom te ver, Stefano.
- É, a gente precisa marcar alguma coisa!
- Pode deixar.
[...] silêncio.
- Pois é.
- Nossa, olha a hora! Preciso ir. Tchau.
- Tá bom. Tchau.
- Ah, marca mesmo, hein?
- Pode deixar.

Não pense que só eu sou assim, conheço uma garota que assume:
"Fujo mesmo, no clube então! Uma vez cheguei a pular na moita pra não encontrar uma professora, mas também, iríamos falar sobre o quê? Notas? Não, muito obrigado, mas não queria falar de escola naquele momento".
Vai ver é por isso que evito essas casualidades, quando vejo um conhecido lá longe, já desvio de caminho. Disseram-me que isto chama "Síndrome de Fugitivo", um nome simpático que eu tenho quase certeza que foi inventado na hora, mas sabe como é, vale tudo quando falta assunto.

27.10.07

sobre o alvorecer.

Ele estava indo embora, desta vez era definitivo. Antes de amanhecer, Fernando já havia feito suas malas e tinha partido rumo à um lugar bem conhecido por ele: a casa de sua mãe. Está certo que não era o lugar mais honroso para alguém que planejou uma fuga estratégica, mas o dinheiro daquele mês estava curto e ir para um hotel - bom -, estava à cima das suas economias.
Os motivos que o levaram à essa atitude não eram muito plausiveis, desavenças com algumas pessoas, uma vida amorosa mal-sucedida, um emprego (mal remunerado) que ele não gostava e várias contas atrasadas - digamos que sua vida esperava por uma virada completa.
No carro levava, como acompanhantes, uma mala cheia das primeiras roupas que conseguiu pegar, sapatos espalhados pelo banco traseiro e, um punhado de sonhos mal-resolvidos. A trilha sonora ficava nas mãos de um CD feito em casa com todas as músicas que marcaram sua extensa vida de apenas 23 anos.
Faltavam ainda 2 horas de estrada e o viajante começou a se perguntar se aquilo estava certo, cedo ou tarde, essa dor-de-culpa iria chegar, ele já esperava e, por mais que desejasse voltar para seu apartamento no Cambuí, preferiu continuar com sua atitude rebelde rumo à Sertãozinho - SP.
Começava o alvorecer por trás de algumas árvores altas, "Nossa que visão linda!", pensou. Fernando se inclinava cada vez mais para perto do pára-brisa, afim ter uma visão melhor daquele momento.
Em um fatídico segundo ele se desiquilibrou e, tentando retonar o controle do carro, virou o volante para esquerda, invadindo a outra pista: o caminhão que voltava não teve tempo de parar. A colisão entre os dois foi fatal: o pequeno Corsa capotou e depois de três rodopios no ar se viu jogado contra uma densa parede de árvores altas.
O sol acabava de nascer atrás da explosão.

26.10.07

sobre estantes.

Nas minhas estantes, guardo meus livros e nossas lembranças - velhas e amarelas por causa do tempo. Eu nunca as tirei de lá, também não pretendo, pois assim sempre saberei aonde ir para te encontrar mais uma vez.

25.10.07

sobre outro dia.

Seria uma normal tarde de Outubro, destas que custam a passar, se ela não aparecesse. Daniela era umas das garotas mais bonitas que já conhecera e o que diferenciava-a das outras, era seu carisma e bom-humor.
- Fred?
- Dani!
- O que você está fazendo aqui?
- Ah, nada demais.
- Está bom, então. Você vem para a praça de tarde pra não fazer nada?
- É que eu estava esperando alguém.
- FREDERICO! Você está namorando e não me contou?
- Mas eu não estou namorando. Era só uma pessoa, aí.
- Pára de mentir pra mim, quem era? Me conta.
- Ah, deixa pra lá, você não conhece mesmo.
- E por que eu não conheço, você não pode comentar comigo?
Ela se sentou ao lado do tímido menino loiro.
- Mas...
- Vai, fala logo!
Ele pensou um pouco, mas decidiu falar.
- É que eu estou gostando de uma menina.
- Eu imaginei isso mesmo. Ela sabe?
- Acho que não, ainda não contei pra ela.
- Ah... Ela vem sempre nessa praça?
- De vez enquando, mas sempre que ela passa...
- O que que tem?
- Sempre que ela passa eu não tenho coragem de falar com ela.
A garota deu uma longa gargalhada.
- Ai ai, vocês meninos são tão estranhos.
- Ah, mas ela não ia querer namorar comigo.
- Como você sabe?
- Tenho certeza.
- Que boba que ela é. Quando você estiver com ela, me mostra quem é?
Seu coração estava pulsando muito forte, ele tomou coragem e disse as palavras decisivas:
- Sabe... eu posso... mostrar... agora.
- Ela está aqui?
- Está.
- Aonde?
- Aqui.
Foi neste instante que Fred se aproximou de Daniela e deu-lhe um longo beijo na boca. Os lábios pareciam não querer se desgrudar, mas eles também não queriam parar, até que ela jogou o rosto para trás, acabando com a poesia da cena.
- Fred! Seu pilantra.
Ela levantou-se e foi embora, ele ficou lá mais alguns minutos, com um sorriso enorme de felicidade. Confiante e realizado levantou-se para ir embora.
- Meninas são tão ingênuas. Melhor pra mim.

24.10.07

sobre manias.

Gustavo esbanjava manias por onde passava, não importava o lugar.
Hoje mesmo aconteceu uma dessas crises Magnos Bif, um dos restaurantes mais chiques da cidade, ele estava acompanhado de alguns amigos do trabalho. Chegou a hora de se sentarem:
- Pára tudo - gritou Gustavo assustado.
Todos olharam para ele impressionados.
- O que foi, Gusta? - o amigo dele sabia que estava na hora de vexame.
- Minha cadeira é de cedro?
- Sim, senhor. - respondeu o garçom gentilmente.
- Ótimo, mande trocá-la, caso contrario não almoço aqui.
Alguns risos baixos e caras de indignação completavam a cena.
- É pra já, senhor.
Logo veio um outro assento, desta vez de plástico.
- Me desculpe, senhor, mas tirando as cadeiras de cedro, só temos essas de plástico.
- Senhor? Você me chamou de senhor? Pode me chamar de você.
- Ótimo, você.
- Você, não. Gustavo fica melhor.
O jovem garçom já estava se irritando com as regalias do ruivo cliente.
- Gustavo, por favor sente-se.
- Ele gosta de comer em pé - sussurou um outro colega.
- Sinta-se à vontade para comer de pé.
- Eu não preciso que você deixe.
- Gustavo, mais educação...
- Com pão.
A outra senhorita esquecera de uma das manias mais estranhas de Gustavo: rimar tudo que terminasse em "ão".
- Vocês já sabem o que vão querer?
- Desejo sentar-me.
- Mas você não ia comer de pé?
- Mudei de idéia. Nossa, cadeira de plástico?
- Você pediu pra que fosse trocada a cadeira de madeira por essa, se esqueceu?
- Eu pedi que a cadeira de madeira fosse trocada, mas não por isso.
- Mas é a única que temos.
- Comerei de pé, então. Posso tirar os sapatos?
- É, não sei... mas nada o impede.
- Que seja, pode desamarar então.
- Eu? Desculpe-me, mas eu sou só o garçom.
- Então chame alguém para tirar meus sapatos.
- Nós não temos ninguém que faça isso, senhor.
- Senhor, não. Eu já te disse...
- Me desculpe, Gustavo, mas o restaurante está enchendo. Você não gostaria de pedir.
- Claro que sim. Quero uma água e uma colher de açúcar.
O garçom realmente achava que era uma piada de mal-gosto.
- Você tem certeza?
- Absoluta. Ah, na verdade quero 500 grãos de açúcar.
Era demais para o garçom, o qual já tinha perdido a paciência.
- Escute aqui, o senhor me faz ficar perdendo tempo aqui pra você pedir 500 grãos de açúcar e um copo de água? Meu amigo, a preferência é do cliente, mas aqui você não entra mais. Quer se retirar, por favor?
Foi nesse instante que Gustavo soltou uma alta gargalhada e com um brilho nos olhos disse:
- Gostei de você, vou pagar seus 10 por-cento. Obrigado pela gentileza de me servir, o almoço foi ótimo.
Confuso e constrangido, o garçom pegou o cheque do cliente, o qual saiu feliz por ter sido tão bem atendido.

23.10.07

sobre Bianca.

Seu coração não se aguentava dentro do peito, os olhos transmitiam a mais pura paz, os lábios riam sem motivo, os cabelos voavam tão lindamente ao vento, a vida nunca pareceu tão fácil.
Bianca, não era a mais bonita de todas as meninas da escola, mas naquele dia ela estava simplesmente fabulosa: cumprimentava todos que passavam com um cordial "Bom dia" e mais algum elogio:
- Bom dia, Senhora Dogmar! Seu cabelo está lindo!
- Bom dia, Lucas. Nossa, que perfume bom!
- Bom dia, Clarinha. Essa roupa está ótima em você.
E assim foi por toda a manhã daquele quente dia de verão.
O problema foram as aulas que custaram a passar para ela, enquanto sua mente tentava se concentrar nas fórmulas e professores, seu coração insistia em voar longe para outros assuntos que ela mal sabia que gostava.
Por todo o restante do dia foi assim, sua mãe não intendia o que acontecia, talvez não tivesse razão para toda aquela alegria, mas Bianca não se importava com isso.
- Minha filha, o que você tem?
- Eu? Porquê? Não tenho nada!
- Ah, tem sim! Você está toda assim...
- Assim?
- Alegre demais!
- Vai ver minhas glândulas risonhas estão com problemas!
- Glândulas o quê?
A garota caiu na risada.
- Nada, mãe. É só uma besteira que eu inventei durante a aula.
Sua mãe tentou falar mais alguma coisa, mas a menina nem escutou - estava, de novo, perdida em pensamentos.
Mal ela sabia que o seu problema era o amor.
Bianca amava e não sabia.

22.10.07

sobre uma dúvida mortal.

Se você soubesse o amanhã, você faria as mesmas coisas que fez hoje?

É, eu também não.

21.10.07

sobre futebol.

Ele queria fazer o gol da vitória, mas nem sequer pisou no campo. Não, ele não era reserva de um grande craque, mas, sim, um torcedor fanático.

20.10.07

sobre a velha Adolfa.

Os olhos fechavam periódicamente para não se cansarem, as mãos trêmulas seguravam o cobertor com toda a força que possuía, um frio percorria todo seu corpo deixando-a arrepiada, o fôlego faltava em seus pulmões vez ou outra - a vida parecia ir e vir de seu corpo antigo. Adolfa sabia que o fim estava chegando, restava-lhe apenas mais alguns minutos neste mundo: era a hora de revelar seu segredo.
Por 65 anos ela o guardou trancado a sete chaves no seu coração, ninguém nunca suspeitou e por isso ela precisava confessar.
Em volta da cama estavam seu marido, Ernesto, e os filhos - Joel, Ricardo (e a esposa, Joana), Graça (e o namorado, Tonny).
- Eu preciso... contar uma coisa... para todos vo...cês.
- Não, querida, repouse, é melhor.
- Não posso, eu passei todos esses anos escondendo isso de vocês, está na hora de revelar.
- Nã...
- Deixe-a, pai, deixe-a falar.
- Filhos queridos, seu pai foi o melhor me aconteceu na vida, mas... mas...
Uma única e sutíl lágrima riscou o rosto pálido da velha.
- Sogra...
- Mas não foi o primeiro.
Todos os olhos que a observavam se arregalaram, ninguém intendia ou não queria intender.
- Mãe, você não está bem, pare de gastar seu fôlego.
- Não, filho, não posso mais. Antes de encontrar seu pai... - outra lágrima - eu trabalhei em uma casa... um bordel.
Os olhos de Ernesto se encheram de raiva, Graça soltou um estridente grito de espanto, ninguém dizia nada, um silêncio contemplava a cena.
De repente, um som mais forte que a alma de qualquer um rasgou o quarto de um lado ao outro: Adolfa soltou a mais deliciosa flatulência de sua vida. Logo, suas bochechas, antes com pouca vivacidade, se encheram de vergonha - ela não iria morrer, fora um alarme falso.
Daquele dia em diante, ela entendeu por que "segredos devem ser levados para o túmulo".

19.10.07

sobre janelas e segredos.

Ele tinha o que muitos fofoqueiros adorariam ter: uma grande janela que dava-o vista para a rua toda. Tudo que acontecia por lá, tinha-o como testemunha: desde pais brincando com seus filho até a cena mais estranha, que se passou na noite passada. A história, narrada por ele, é exatamente assim:

"Eu estava, assim como todos os dias, com minha janela aberta. Apesar da vista que tenho atravéz dela, nunca me empenhei em bisbilhotar a vida dos outros: o que não quero pra mim, não faço pra ninguém.
Hoje não era diferente, por mais que ela estivesse escancarada eu nem sequer olhava pra ela, até escutar uns barulhos estranhos na rua. Nada de muito extraordinário, parecia o estouro de alguns traques infantis, mas eu não escutava mais nada além daquele 'tec tec tec' intimidador. Curioso, virei-me, vagarosamente, para a janela - afim de averiguar. Nenhum garoto ou garota na rua, todas as casas estava apagadas, as ruas estariam vazias se não fosse pela presença do meu vizinho na calçada oposta a da minha casa. 'Que diabos ele tá fazendo de pijama na rua agora?' eu pensei enquanto observava-o, ele estava de costas pra mim.
Num fatídico momento, ele se virou para a minha janela e eu pude ver, então, a cena que eu desejava nunca ter visto, o cara segurava uma pistola apontada pra mim, apesar da distância, o medo foi tão grande como se estivesse do meu lado. Uns segundos à mais de tensão, o disparo veio: a arma não tinha munição. Acho que ele me viu, ficou constrangido, colocou a arma dentro do samba-canção e entrou para sua casa. Eu fiquei estático olhando um pouco mais para o 'cenário do crime'.
O que se passou depois me deixou mais apavorado.
Eu voltava a pé da escola como todos os outros dias.Parei na guarita do condomínio para me identificar.
- Boa tarde, Lucas, deixaram uma carta pro senhor.
- Pra mim? Você tem certeza?
- Tenho. Foi o Chico da casa 301.
Um frio percorreu todo o meu corpo, Chico era o vizinho que eu flagrei na noite passada.
- Muito obrigado, Jair.
Abri a carta tentando não mostrar pavor, mas não tinha como ficar calmo com a mensagem nela escrita:
'O que você viu ontem à noite é um segredinho nosso. Espero não descobrir que você espalhou a notícia. Coopere e eu te deixarei em paz.'
Saí correndo para minha casa, entrei desesperadamente no meu quarto, traquei aquela janela - para nunca mais abrir."

Ele tinha o que muitos fofoqueiros adorariam ter e se amaldiçoava por isso.

18.10.07

sobre papos no elevador.

Se encontraram no elevador do prédio.
- Bom dia.
- É, oi.
- Você é do 201, certo?
- Aham, você é do 103? No andar de baixo e de frente pro meu?
- Isso mesmo.
- Sabia que te conhecia.
- Me conhecia?
- Aham, já te vi tomando banho.
Ela não sabia se respondia. Respondeu:
- Não, você deve ter visto meu marido.
- Não, foi a senhora, tenho certeza. A janela tava aberta e deu pra ver tudo do meu quarto.
- Que indescência! O senhor não tem mais o que fazer?
- Indescênte é você que toma banho de janela aberta!
- Se eu soubesse que você me observava eu teria fechado.
- Você precisa saber que eu estou olhando pra fechar?
- Preciso.
- Então saiba que o Marcelo do 102 também consegue te ver.
- Tomando banho?!
- Não.
- Ufa.
- Ele consegue te ver puxando uns fumos na área de serviço.
A porta do elevador se abriu. A mulher estava sem reação. cinco palavras vieram à sua cabeça:
- E minha privacidade fica onde?
- Aposto que não é no quarto, por que o Ricardinho do Bloco B, te viu ontem no rale-e-rola.
Ela estava sem palavras e totalmente constrangida.
- Por favor, vocês todos tenham mais o que fazer! Passar bem. - saiu correndo rumo à garagem.
"Odeio puxar papo no elevador", ele pensou pouco antes de chegar ao seu Corolla prata.

17.10.07

sobre falsas esperanças.

Não é sempre que eu consigo acreditar que algo irá dar certo. Não importa o quanto eu pense "Isso vai dar certo, isso vai dar certo, vai dar certo!", no fundo eu continuo achando que é 'a maior roubada'. Prefiro ser neutro - nem otimista, nem pessimista - para algumas coisas, pelo menos não crio falsas esperanças.
Hoje, por exemplo, terá jogo do Brasil e, por mais que eu queira goleada, meus pensamentos insistem em me dizer que não passará do 2x0 - se ganhar. Espero estar errado, prefiro assim, mas enquanto o juiz não apita o término da partida, não vou criar expectativas: se ganhar, ficarei muito feliz; se empatar, empatou; se perder, "Tudo bem, foi só um jogo".
De certo, não sou o mais adepto do famoso, "quem confia no seu taco, não tem inimigos", até por que, por maior que seja sua auto-estima, você continuará acordando de manhã sujeito a várias inimizades ou desavensas ao longo do dia. Não é pelo fato de você "se achar o cara" que seu time não irá perder, que não vai ter congestionamento, que seus filhos não vão falar que você é chato, que seu chefe não vai lhe demitir e que o mundo não vai olhar feio para você. Papos estilo auto-ajuda nunca foram meus preferidos, e nunca serão - eu espero -, pois eles tentam lhe fazer acreditar que o mundo é perfeito, você é perfeito e nada pode te derrubar! Pode haver maiores falsas esperanças que achar que tudo ao nosso redor e nós próprios somos perfeitos como nos contos-de-fadas ou no mundo da física? Que piada.
Saiba que o mundo não é perfeito, mas nem por isso deixa de ser belo e inspirador; cada um possui os seus defeitos, mas estes não fazem dos seres-humanos seres menos fantásticos; viver, por mais poético que seja, tem seus altos e baixos, por isso todos caem, mas o difícil é se levantar, tirar a poeira e partir para a próxima.
Se eu pudesse corrigir esta bendita frase de todos os lugares que já a li, eu colocaria assim:
"Quem confia no seu taco, vence seus inimigos".

15.10.07

sobre professores.

Outro dia, numa discussão qualquer, alguém tentou me convencer que o bom de ir à escola era pra conversar. Qual a utilidade prática, então, de ter que se arrumar às 6:00 da manhã pra ir à escola e, chegando lá, encontrar nada mais que alguns amigos e boas conversas? Oras, se eu quisesse só isso, eu não acordaria tão cedo, deixaria pra fazer o 'social' nas matinês dos cinemas ou nos shoppings lotados.
A razão maior pra me fazer levantar todo dia cedo da cama e sentar animado numa carteira dura, são os professores, o que eles têm a me dizer e o conhecimento que estão dispostos a me ensinar. O mais legal é que professores sempre estão de bom-humor, prova de que gostam do que estão fazendo! Logo, como poderia recebê-los com a cara fechada desejando que eles sumissem da minha frente? Não posso, seria injustiça. Esta é a maior razão do meu sorriso de todas as manhãs. Obrigado professores, se não fosse por vocês, amanhã de manhã eu não acordaria tão feliz.

14.10.07

sobre ter um sonho.

Saiu o vencedor do Nobel da Paz, assim como o esperado, este foi Al Gore. Pra quem não sabe, o prêmio é destinado a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz. Al Gore ganhou pelo seu esforço em ter maior conhecimento sobre as alterações climáticas induzidas pelo homem e por lançar as bases necessárias para inverter tais alterações.
Ao me deparar com a premiação, fui pesquisar um pouco mais sobre ela e descobri que Martin Luther King foi o mais jovem ganhador do prêmio. Méritos para merecer o prêmio não faltaram, já que se empenhou em pregar o amor ao próximo e a paz entre as raças. Suas idéias eram tão marcantes que ele foi assassinado antes de uma das suas famosas passeatas em prol dos seus objetivos.
Anos se passaram, King continua sendo lembrado pela sua insistente luta pelos direitos dos negros na sociedade e pela paz mundial. Por causa dele, muitas coisas mudaram, mas falta muito pra chegar no ideal proposto por ele.
No fundo, assim como Al Gore e tantos outros, Martin só quis concretizar seu maior sonho.
Eu tenho o sonho de ver um dia meus 4 filhos vivendo numa nação em que não sejam julgados pela cor de sua pele, mas sim pelo seu caráter. Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio. Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre.
Martin Luther King

13.10.07

sobre uma menina.

Seu coração parecia querer sair pela boca, suas mãos trêmulas indicavam seu medo, sua consciência teimava em alertar o erro e seu coração implorava para ela continuar, já que aquela poderia ser sua única chance. Ela não queria fazê-lo, mas não tinha escolha, sua vida dependia disso e ela necessitava-o urgentemente.
Olhou de um lado e do outro, para se certificar que ninguém a observava. Seu plano estaria chegando ao fim, se não fosse por uma moça que a olhava fixamente todo o tempo.
"Droga, olha pro outro lado, mulher!", a garota de quinze anos pensava enquanto amaldiçoava a outra. Nenhuma das duas se mexia, os olhares se cruzavam de vez enquando, mas logo a criminosa disfarçava.
Todo o êxtase do primeiro roubo havia passado, já que ela não consiguia efetuar o delito com aquele par de olhos a vigiando. Preferiu andar um pouco, "Se eu andar pra lá e pra cá, quem sabe ela não descola de mim". Ao primeiro passo, a mulher ameaçou se levantar da mesa. A menina parou, não conseguia pensar em nenhuma saída estratégica, decidiu correr pra fora da loja.
- ESPERE! Eu compro para você!
Espanto. A menina, que já chegava perto da porta, voltou-se para a mulher e, com passos miúdos, chegou perto dela:
- Compra mesmo?
- Compro. Eu vi seu desespero. Você realmente queria-o.
- Nossa! Sério? Muito obrigada!
A presenteada não se agüentava de felicidade! Finalmente! Finalmente ela ganharia o tão almejado prêmio. As duas nunca mais se virão, mas ela levou consigo pra sempre o presente: o último livro da coleção "O Sítio do Pica-Pau Amarelo".

11.10.07

sobre a vida.

É tão difícil tentar descrever a mais abstrata e pessoal das coisas: a vida. O que é a vida? Para os religiosos, o sopro divino, o livre-arbítrio e uma caminhada com Deus. Para os cientistas, o período entre o nascimento e a morte. Para os jovens, "uma alucinante aventura da qual não sairemos vivos". Para os mais adultos, uma sucessão de acontecimentos que formam nosso caráter. Para os bem novinhos, ser grande.
As várias épocas históricas também levam consigo uma definição própria sobre o tema. Para os neo-clássicos, a vida deveria ser aproveitada da forma mais intensa, o famoso "Carpe Diem", mas sempre se espelhando nos pastores. Já no século XXI, criamos uma filosofia totalmente diferente, para nós durante a vida devemos trabalhar o máximo que conseguirmos e ter a maior riqueza possível, independente dos métodos utilizados para que estes ocorram.
O certo é cada um ter a sua própria opinião sobre a vida e acreditar nela. Para mim, a vida é uma arte.
Artes não precisam ser explicadas.

10.10.07

sobre tecnologia.

Em 10 de Outubro de 1980, no Japão, era lançado o primeiro exemplar de "Pac-Man", um clássico para Atari 2600. Todos, na época, almejavam ganhar o jogo, multidões fizeram filas para adquirirem o entreterimento. Só no ano de estréia, cerca de 100.000 máquinas arcades do Pac-Man foram construídas e vendidas. A idéia do jogo era simples: o jogador era uma cabeça redonda com uma boca que se abre e fecha, posicionado em um labirinto simples repleto de pastilhas e 4 fantasmas que o perseguiam. Ganhava quem comesse todas as pastilhas sem ser alcançado pelos fantasmas.
Hoje, 27 anos depois, a indústria de jogos evoluiu muito. Cada dia mais, os produtores tentam deixar seus jogos mais parecidos com a realidade, desde o balançar dos cabelos dos personagens até os detalhes das rugas dos avatares. Para isto não faltam recursos e força de vontade, por isso novos clássicos para video-game já foram inventados e superados, mas nenhum conseguiu apagar a fama do velho e bom Pac-Man.

9.10.07

sobre enfeites de Natal.

É incrível os opostos do brasileiro, ao mesmo tempo que nós adoramos chegar atrasados pra fazer 'charme', adoramos antecipar tudo quanto é data comemorativa. Peguemos o Natal como exemplo, ontem eu fui no shopping e curiosamente as lojas já estava se munindo de enfeites para a data! Caramba, faltam mais de dois meses paras festanças acontecerem, mas já tá todo mundo enfeitando os pinheiros sintéticos. O motivo óbvio para o adiantamento é lucrar mais: quanto antes colocam na vitrina os papai-noéis, mais chances os vendedores têm pra vender todo o estoque das lojas e terem uma comissão mais farta.
Outra coisa é que cada ano os enfeites estão mais sofisticados! São bonecos motorizados que dançam, cantam, falam e nos fazem rir; luzes sincronizadas que piscam a noite toda; pinheiros com fibra óptica; já até vi árvores que soltavam bolinhas de isopor - fingindo ser neve.
Até o dia 24/12 minha casa estará toda arrumada para a data festiva, cheia de enfeites novos que vieram para tirar o lugar dos antigos, mas estes continuarão nas caixas ocupando lugar no armário.
Aposto que a ceia de Natal vai atrasar pelo menos uma hora, sabe como é, para fazer aquele 'charme' costumeiro.

8.10.07

sobre banhos.

Tomar banho sempre foi uma diversão pra mim. Hoje, por exemplo, eu me contive em ler o rótulo do shampo, apesar de já o ter lido várias vezes. Ontem foi diferente, eu passei 20 minutos fazendo planos pro resto da semana. Um dia desses, eu me peguei inventando músicas e melodias debaixo do chuveiro. Apenas uma coisa se repete todos os dias: eu escrevo com o sabonete alguma coisa no vidro, por isso vários nomes, contas, frases e palavras avulsas já passaram por ele.
Há aqueles dias que eu fico espiando a vizinhança pela janelinha do banheiro, mas ainda não presenciei nada por ela: uma pena. Ainda espero descobrir um tráfico ilegal que aconteça no quintal de um vizinho, mas do jeito que a vizinhança é pacata por aqui, duvido que isso aconteça: outra pena.
Falando em espiar, por uns bons meses da minha vida, eu quis ser espião na C.I.A! Cara, deve ser demais ter todos aqueles computadores e laboratórios escondidos ao seu dispor, ou então saber várias coisas sobre qualquer um! Adoraria descobrir esquemas ilícitos, encontrar foragidos e todas aquelas coisas secretas que os agentes fazem nos filmes.
Num belo dia, após ler as notícias sobre o agente russo que morreu envenenado, eu caí na realidade: muito obrigado, mas não quero morrer cedo por 'saber demais'. Por enquanto, prefiro continuar lendo meus rótulos de shampo, pois assim eu não me meto na vida de ninguém.

7.10.07

sobre dentes do ciso.

Seria só mais uma ida à dentista se não fosse por uma notícia, aquela que quase ninguém quer ouvir: "Você precisa tirar os dentes do ciso". Caramba, eu achando que já tinha dentes suficientes na boca, descubro que precisam nascer mais quatro, mas tem aquele detalhe adicional: não tem espaço para os benditos.
Estava tudo marcado, o começo da minha 'luta contra os quatro dentes' seria em Março do ano passado - não me lembro o dia, porém ele chegou. Não tinha como voltar atrás, tomei todos os remédios necessários e fui pro dentista, após pouca espera fui chamado. Um nervosismo tomou conta de mim, pois, aqui em casa, existem temas que são pouco falados, dentre eles: dentes e sangue, e eu estava entrando numa sala na qual os dois estariam relacionados. Foi um procedimento rápido, por isso não esperniei - dois já haviam sido retirados.
Os outros já tinham data marcada para serem tirados, só que no dia acordei com febre, logo teve que ser remarcado. Adivinha? Sim, desmarcado de novo - o dentista tinha um congresso. A terceira data era certa, eu não estava com febre e ele não tinha reuniões, mas um outro obstáculo apareceu: meu exame de sangue acusou uma falta de leucócitos. A quarta data foi hoje - mais de um ano da outra. Ocorreu tudo bem, mas um dos meus cisos, caramba! Era um monstro aquilo lá, gigante, tinha 4 raízes e bem feio, sorte que ele não nasceu!
O lado bom de tal cirurgia é tomar sorvete pelos três dias posteriores, que paraíso! Eu queria Häagen-Dazs, mas não tinha. Tudo bem, nada que um Nestlé não resolva.
Talvez eu perca parte do minha semana-do-saco-cheio por causa dos dentes, mas melhor fazer agora que ninguém vai ver, do que ir inchado para escola: que mico. Espero não encontrar ninguém nos próximo quatro dias, nos quais minha buchecha ainda parecer um pão de queijo bem rechonchudo.
Ao fim de tudo, só uma pergunta me ficou sem resposta: Pra que ter um dente, se teremos que tirá-lo antes de nascer? Desgraça, já está na hora desses dentes e do apêndice - outro inútil - se mandarem da nossa espécie.

6.10.07

sobre comédias ruins.

Hoje, eu fui ao cinema. Fazia tempo que eu não gastava boas 2 horas sentado numa cadeira confortável de frente pra'quela grande tela. O filme que assisti - Morte no Funeral -, me fez dar boas risadas e ter a certeza de que meus 7,50 - sim, eu pago meia - foram bem empregados.
Ao chegar em casa, fiquei pensando nas 10 comédias mais engraçadas que já assisti, mas não consegui encontrar apenas dez. Logo, fiz a listagem das 10 piores comédias, esta segue abaixo:

10. Uma comédia nada romântica.
Assistível, digamos assim, mas não me arrancou nenhuma gargalhada sincera.
9. O virgem de 40 anos.
Alguém avisa pros roteiristas dessa 'pérola do cinema', que eu não estou afim de saber como é a vida sexual frustrada de um fracassado?
8. Kung-Fusão
O trocadilho do nome, é tão ruim quanto o filme todo.
7. Noivo em fuga.
Alguém avisa que esqueceram de por situações cômicas neste filme.
6. Churrasco da pesada.
A melhor parte do filme: os créditos. Caramba, que comédia ruim.
5. Borat.
Não sei o que dizer deste. Não gostei. Ao término, eu estava quase dormindo. No máximo, dei 3 pseudas-risadas no longa todo.
4. Ace Ventura 1 e 2.
Putz, tá na hora dos produtores reverem seus conceitos sobre o Jim Carrey contracenando com animais. Não bastava o um - que é péssimo por si só -, tiveram que fazer o dois. Este é tão pior que não conseguiu nem ser passado na Sessão da Tarde.
3. O pentelho
Só lembrei deste 'clássico', enquanto procurava outro. De verdade, Jim Carrey poderia não ter feito esse filme, quer dizer, ele poderia não ter feito um monte. Não sei o fim do filme, pois durmi no meio.
2. O Coronel e o Lobisomem.
Não tenho nada contra filmes brasileiro, mas esse é muito ruim. Uma história digna que causos folclóricos mal-contados, um 'lobisomem' super mal-feito em computação gráfico e o pior, quando você já está de saco cheio do filme, o persongem diz: "Mas calma, por que só estou na metade da história". Haja paciência.
1. Mortadela e Salaminho.
O filme não é ruim, é péssimo. Efeitos, atores, piadas, cenários e todo o resto que dão sono em qualquer um. Depois de 20 minutos assistindo-o, nós voltamos pra devolvê-lo na locadora.

5.10.07

sobre carolina e stefano.

Estou divulgando o meu outro blog:

http://nessahistoria.blogspot.com/

O que é?
Nessa história é um blog-história, no qual o enredo vai acontecendo a partir dos posts. No começo são dois personagens que seguem suas vidas normais até se encontrarem. Antes do encontro, são duas histórias diferentes. Após o encontro é uma história vista por 2 pontos de vista diferentes.
O casal principal sou eu (Stefano) e Carolina.
Começamos hoje, dá uma passada lá e não perca nenhum momento!
Afinal, Nessa História tudo pode acontecer.

4.10.07

sobre sentir-se culpado.

Pra todo caso, eu vou lá na cozinha tomar um analgésico pra ver se passa essa dor. Essa dor-da-culpa.

3.10.07

sobre tirar sangue.

Amanhã farei exame de sangue. Não tenho medo, mas não gosto de fazê-lo. Imagino que a grande maioria da população deve odiar a idéia de ter um canudinho metálico dentro do seu braço. (Conheço apenas uma única sem-miolos que adora tirar sangue. É óbvio que todos a acham estranha por isso e eu não penso diferente da maioria).
Idas ao Laboratório nunca são convenientes. A começar pelo clima de 'vírus no ar'. Depois você aguarda, sentado ao lado de uma pessoa que sempre parece estar muito pior que você. Então chega sua vez, você entra na sala e a enfermeira já se torna sua pior inimiga. Você, depois de muita luta interna, estica o braço. A enfermeira amarra aquela borracha no seu braço - convenhamos, dói mais que a picada. Passa na dobra do braço o temido algodão com álcool, fato: nessa hora sempre bate aquela brisa pra te deixar arrepiado. Daí pra frente vocês já sabem.
A única parte boa de todo o processo é o lanche depois: bolachas sem recheio, manteiga e leite com café. De certo não é a refeição dos deuses, mas é um manjar pra qualquer coitado que não come a 12 horas e necessita urgentemente de comida. Após comer, quase indo embora, você lembra do atestado médico.
Depois você vai pra aula. Chega atrasado e os curiosos fazem a mesma pergunta ao verem o curativo: "Nossa! Você tirou sangue!?". Dá vontade de responder em alto tom de voz: "Não, fiz o teste do pézinho!", mas não se diz por educação.
E no fim de tudo, tem a hora de tirar o adesivinho do braço. Caramba, aquilo dói na alma! Esses 'arranca-pêlos' deveriam ser proibidos.
Tá certo que tirar sangue não é o melhor progama para se fazer, mas pelo menos dá uma mudada na rotina.

1.10.07

sobre dias passados.

Ontem ainda era setembro: o único mês que começa com a mesma letra do meu nome, mas isso não interfere em nada. De qualquer maneira, neste mês pequenas peculiaridades aconteceram, de tal forma que o deixou um pouco mais especial. Não saberei as datas exatas, porém, logo nos primeiros dias, eu fui convidado para uma festa na praia que não poderei ir. Dias após me ocorreu cortar o cabelo - preciso visitar o cabelereiro de novo. Passei o 7 de Setembro no clube, o que me fez lembrar bem pouco da causa do feriado. No meio do mês, fui à São Paulo, ver uma exposição e almoçar no Mercadão (O tal pastel de bacalhau é famoso, mas não é bom). Fui ao Hopi Hari com a escola: 2 horas de fila na montanha-russo, ser cantado pela monstra e ir embora as 10h do parque de Kombi é para poucos. Quase no fim, fui à um acampamento, o qual me trouxe ótimas lembranças. Uma palestra sobre sexo e adolescência deu uma pitada de sacanagem ao contexto. Montei uma banda (Pancagode) com os meus amigos: sim, temos três músicas e já fizemos pseudos-shows. No último dia, 30/09, fui assistir a Orquestra tocar, digamos que os músicos fizeram sua parte direito, o coro e os solistas estavam afinados, o maestro regeu muito bem, o problema é que a peça era barroca e toda em alemão (não entendi uma palavra). Fiquei pensando um tempo e pude concluir que, diferente do recital barroco, meu mês não foi cheio de exageros, conflitos e confusões, por isso que muito do que vivi neste, lembrarei por muitos outros Setembros.

Que venha Outubro!