25.12.07

sobre o Natal.

Feliz Natal!


e eu volto ano que vem!

24.12.07

sobre a véspera de Natal.

Minha família está reunida na sala enquanto escrevo aqui. Dá para escutar que estão falando mal de alguém - mas eu não sei quem é, talvez saiba e não queira falar. Minha avó ri alto após um comentário maldoso da minha tia - os outros escutam a conversa calados, fingindo não estarem interessados. A porta de algum carro bate lá fora e eu tenho a certeza de que meu pai chegou com as pilhas para a câmera.
Nada de novo acontece por alguns segundos.
Eu respiro profundamente, tentando achar forças para enfrentar a tal confraternização familiar. A porta se abre, meu pai entra em casa com uma gargalhada típica. Eu rio pensando na cena. Sinto um cheiro de comida pronta e meu estômago ronca - estou com fome. Sei que é a hora certa para me juntar à ceia. Corro as mãos pelos cabelos ainda um pouco molhados. O barulho familiar de refrigerantes sendo abertos, estrala nos meus ouvidos.
Me olho no reflexo da tela do computar e decido descer as escadas, mas antes ligo para ela e desejo um ótimo Natal para toda sua família - mas era um pouco de falsidade, não gosto do irmão dela. Desligo e percebo que há um par de olhos parado junto ao vão da porta - antes de ver quem era, já podia imaginar: minha prima.
- Vem, estão a sua espera.
- Eu sei, estou desligando.
Respiro mais uma vez e gosto da minha confiança - eu vou sair vivo dessa ceia de Natal.
Desligo o computador.

23.12.07

sobre um conselho III.

Pode ter certeza: o Natal cansa.

22.12.07

sobre uma conversa alheia III.

- Feliz Natal!
- Boa sorte.
- Boa sorte?
- Boa sorte com as contas.

21.12.07

sobre um brinde.

Acendo as luzes pisca-pisca que enfeitam o muro de casa. Escuto, dentro de mim, uma dessas antigas canções natalinas. O guarda da rua passa com sua moto, eu aceno e grito "Feliz Natal!", ele pára, olha para trás e me cumprimenta de volta. Ele vai embora, mas eu fico alguns outros segundos do lado de fora, respirando o cheiro de Peru assado que vêm das outras casas.
- Vem, o jantar está na mesa! - minha mãe me chama.
Eu corro, antes que orem sem minha presença - é costume aqui em casa orar antes de qualquer refeição, principalmente em jantares/almoços comemorativos.
Escuto o começo da oração quando chego no meio do caminho. Paro, fecho os olhos e fico escutando cada palavra de agradecimento.
- Amém - um coro de vozes termina a reza.
- Amém - eu digo sozinho.
Abro os olhos e continuo minha jornada rumo a sala, onde todos se reúnem em volta da mesa enfeitada e do Chester recheado. A maioria dos meus familiares está de branco e se servem desesperadamente como se nunca tivessem visto uma ceia. Eu espero a confusão acabar para pegar minha comida - não estou com fome, comi uns chocolates antes dos convidados chegarem. Alguém derruba molho de manga no tapete preferido da minha mãe - ela nem repara enquanto conversa com a irmã. Num dos cantos da mesa, meu tio conta uma piada, alguém ri e os outros não entendem a graça da história. Vejo de relance meus avós darem as mãos por debaixo da mesa, como dois namoradinhos de escola.
O telefone toca e meu irmão se levanta rapidamente para atender - ele sabia que era a namorada. Eles conversam uma boa meia-hora, se despedem e cada um volta pra sua família - seu mundo.
De repente silêncio, todos enxem a boca de um garfadas fartas de comida, meu pai me cutuca e pergunta se eu não vou comer - eu respondo que sim e começo a amontuar comida no meu prato. Todos riem quando, sem querer, eu deixo cair um tomate dentro do copo do meu primo - ele e eu também damos risadas.
- É onze e cinqüenta! - minha tia grita com um tom histérico na voz.
Num passe de mágica, várias taças de champagne são traziadas da cozinha e, quando faltam dez segundos para a meia-noite, o mesmo coro que disse amém no termino da oração, começa a fazer uma contagem regressiva - dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, UM! FELIZ NATAL! Cada um ergue o seu copo e depois toma goles grandes da bebida.
Uns riem, outros se abraçam, mas todos estão felizes.
Ou demonstram estar.
É Natal mais uma vez, mas poderia ser Natal por toda vida.

20.12.07

sobre uma noite de Natal.

É noite de Natal e estou fugindo das reuniões familiares constrangedoras, pois não tenho paciência suficiente para fingir - por muito tempo - que eu gosto da convivência familiar. É costume: eu sempre brigo com pelo menos um dos meus parentes - geralmente com ELA por ser a mais falsa - e acabo ficando com a fama do "chato e estraga-festa da família". Por isso, esse ano não vou aparecer as festividades, não quero. Cansei de comer o mesmo Peru com nozes da minha vó e o bolo trufado da minha tia - que, por sinal, não são tão bons quanto dizem por aí.
A estrada São Paulo-Campinas está vazia e eu não gosto dessa sensação de solidão. Ligo o rádio e deixo que a progamação da CBN inunde minha alma fria - como a noite que se faz lá fora. Estou com fome, mas não trouxe nada para comer, além de uns pedaços de papel que encontrei por aí - sim, eu tenho o péssimo vício de comer papel e tampa de caneta.
Procuro algum lugar aberto onde haja café forte e pão-de-queijo, mas os postos para caminhoneiros estão fechados e os poucos restaurantes beira-de-estrada, desertos. Minha barriga ronca, eu vejo a placa indicando Campinas, sigo as indicações.
Viro a esquerda numa bifurcação.
Sinto o cheiro diferente de asfalto molhado e percebo que chovia até pouco tempo nesse trecho da estrada, tento olhar para o céu, porém não há nenhuma estrela e uma grande nuvem cinza cobre a lua - que hoje, deveria ser cheia.
Eu estou cheio. Engulo um pedaço de nota fiscal que estava mastigando, percebo um gosto de fome na boca. Volto a prestar atenção ao que o locutor da rádio está falando:
- Pessoas que passam o Natal sozinhas têm mais tendência à cometerem suicídio.
Rio alto da ironia da minha vida.
Eu estava sozinho naquele momento e nem por isso queria me matar.
- Estar sozinho não é tão ruim, babaca - grito.
Desligo com raiva o rádio.
Silêncio e meu coração batendo acelerado. Avisto uma placa luminosa, finalmente achei um restaurante aberto! Paro no estacionamento, desço do carro - a comida estava servida, mas não tinha uma alma-viva para comê-la. Eu entro no estabelecimento e, gentilmente, a garçonete vem me atender. Gosto do sorriso dela - é verdadeiro. Perco a fome. Uma felicidade inesperada toma conta de mim - finalmente, alguém estava feliz - de verdade - pela minha presença de última hora.
Eu sou o herói da noite dela.
Ela será a minha heroína de todos os Natais seguintes.

19.12.07

sobre um conselho II.

1) Não perca as oportunidades.
2) Agarre seus sonhos.
3) Seja feliz.

Não necessariamente nessa ordem.

18.12.07

sobre ler de madrugada.

A luz do abajur está fraca e dificulta a minha leitura. Eu sei que três da manhã não é a hora ideal para começar a ler um novo livro, mas essa minha ânsia por novos horizontes literários não tem hora para chegar.Viro a página desse grosso encadernado que me ocupa o tempo, chego ao terceiro capítulo e fico esperando os momentos empolgantes da história. Gosto de enredos surpreendentes, com finais chocantes e originais. Nada de contos-de-fadas onde o bem vence o mal e a mocinha casa com o príncipe.Prezo também pela literatura contemporânea, prefiro ler esses novos autores que não usam de um vocabulário antigo e de situações-modelo que não fazem mais parte do nosso dia-a-dia. Não menosprezo os grandes escritores, que fique claro, admiro-os por sinal, mas deixo que a escola recomende quais clássicos literários devo ler.Às vezes, reclamam que eu só leio textos traduzidos, porém a culpa não é minha! Quando chego na livraria, encontro várias estantes com os mais diversos autores ingleses, franceses, americanos e o escambau! E, lá no canto, quase sem ninguém olhando, duas ou três estantes com os livros nacionais. Eu até procuro um bom, mas pela pouca quantidade de títulos, acabo não me interessando por nenhum. Todavia, já prometi para meu pai: qualquer dia desses eu leio um autor brasileiro, já até sei que livro será: A décima segunda noite de Luis Fernando Verissimo.Mas, enquanto o tão esperado dia, em que lerei um autor brasileiro, não vem, prefiro me dedicar à leitura desse livro traduzido que tenho em mãos - que é muito interessante, por sinal.

17.12.07

sobre uma conversa alheia II.

- O que você quer ser quando crescer?
Perguntei para minha prima de oito anos.
Ela pensou um pouco e começou dar risadas.
Eu continuava com os olhos fixados nela, esperando a resposta.
- Eu? Nada.
Ela fez uma pausa antes de continuar:
- Eu não vou crescer. Eu não quero.

16.12.07

sobre meu dia no divã.

Eu estava deitado no divã e havia um gordo senhor com cara de alemão na minha frente, que estava sentado em uma poltrona confortável de couro - melhor que o velho sofá de camurça no qual eu me encontrava. Ele me perguntava e eu fazia o meu máximo para parecer confiante nas minhas respostas. Numa prancheta cor de carvalho, ele fingia anotar cada uma das minhas palavras - no fundo, imagino que ele estava desenhando e nem prestava atenção nas coisas que eu falava.

Eu sempre imagino, esse é o problema. Se eu mentisse menos, ou não viajasse tanto nas histórias que invento, a escola nunca teria me mandado para o psicólogo. Qual o problema de acrescentar uns detalhes mais emocionantes nos fatos do meu dia-a-dia? Por quê um dinossauro não pode invadir a minha casa e ter comido minha lição de matemática? "Um dinossauro? Dessa vez eu fora longe demais".
Uma vez, pouco depois de começo das aulas da primeira série, descobri que a mãe de uma amiga minha estava grávida! Ah, não demorei pra dizer em alto e bom som na classe:
- Professora, minha mãe também está grávida e serão gêmeos!
(Eu tenho uma fissúra por gêmeos, por causa do meu signo).
Não bastou muito tempo para a notícia se espalhar, mas se espalhou muito. Num belo dia, minha mãe foi me buscar na escola - eu ia embora de perua - e a professora comenta com ela:
- Mas você não aparenta estar grávida. Ainda mais de gêmeos!
Pronto, não preciso nem dizer que aquela noite eu dormi com a orelha quente. Mal sabia, que aquela seria a primeira de muitas noites cheias de sermões sobre o mesmo assunto: Mentira. Os comentários eram basicamente sempre os mesmos e, por mais que os escutasse por diversas vezes, não consigo parar com esse vício maldito.

A voz rouca do loiro senhor me fez voltar à realidade.
- Por quê você mente?
Eu pensei na verdade e bolei uma mentira. Analisei qual era melhor.
- Eu? Minto? Sabe que eu não tinha percebido!

É, eu não nasci para falar a verdade.

15.12.07

sobre as voltas do mundo.

O mundo dá voltas, mas não queira ficar no topo.
De lá a queda é mais evidente e pode ter certeza:
Quando você cair, todo mundo vai bater palmas.

14.12.07

sobre violões e começos.

Há um violão encima da cama, que por sinal está desarrumada, mas eu gosto desse estilo desleixado - combina com meu amor-humor do momento.
Coloco o instrumento no colo e tento por diversas vezes criar uma nova harmonia, mas não há nenhum acorde novo na minha cabeça, na verdade nada novo me ocorre há muito tempo: tudo permanece numa confortável monotonia que me cansa só de pensar.
Preciso inovar, esquecer essa meia dúzia de histórias velhas que me atormentam a cabeça diariamente: brigas, brigas, brigas. Eu quero ousar, sair sem ter que dizer a hora que irei voltar, ou pra onde vou! Quero ser livre, mas sem ter que pagar o preço por sê-lo.
Bato nas cordas de qualquer jeito e escuto o som de várias notas juntas - dói nos ouvidos, mas me alivia. Bebo, sinto e vivo aquele ruído amistoso.
De súbito, meus dedos começam a dançar sincronizadamente pelas cordas do violão, criando novas notas. A melodia vem aos poucos em minha cabeça, percorre todo o meu corpo - sinto um arrepio e canto, as estrofes não são coerentes, mas são belas e cheias de sentimentos.
Percebo que a nova música está desobstruindo minha alma. Começo a chorar como uma criança perdida, as lágrimas molham minha camiseta e o corpo do violão.
Começo a lembrar cada momento ruim que já passei e me envergonho de mim mesmo. Paro de tocar e o som da minha voz se prendi atrás dos lábios. Com raiva do meu dia-a-dia sem-graça, jogo o instrumento contra a parede.
Grito angustiado.
Em câmera lenta, eu consigo ver o violão se espatifar no chão e, junto dele, sinto minha vida se quebrar em mil pedaços.

Hora de um novo começo.

13.12.07

sobre uma carta.

Papai Noel,

Faz tempo que desmascararam sua lenda para mim - uma pena, pois o mundo era tão fácil quando o senhor existia! Sabe, as coisas não precisavam de tantas explicações, bastava acreditar e tudo podia acontecer. Perguntas como "De onde viemos?", "Para onde vamos?", "O que fazer agora?", "O que é o infinito?", "Quem somos nós no universo?", simplesmente não passavam por nossas cabeças e, se passavam, eram logo respondidas com a ingenuidade que só crianças podem ter:

- Nós viemos do repolho.
- Nós vamos para onde quisermos.
- Agora, vamos brincar!
- O infinito é mais do que se pode contar!
- Nós somos a gente no universo.

E se acreditássemos de verdade no que estávamos falando, ficava tudo certo! Pena que as coisas não são mais assim para mim, agora entrou na minha cabeça um tal de raciocínio lógico e umas outras matérias escolares, que me fazem tentar entender essas questões intrigantes cada vez mais a fundo - e que fique claro: eu continuo sem explicação para a maioria delas.
Deve ser por isso que lhe inventaram, para terem uma resposta mais fácil na ponta da língua quando o jogo aperta, porém não se limitaram no senhor, criaram o coelhinho da Páscoa, os super-heróis e um tal de Barney - sim, o dinossauro rosa.
Papai Noel, se ainda posso acreditar um pouco em você, peço licença para um último pedido: espero que a vida nos dê motivos para sorrir em 2008, pois se assim for não terei motivos para me queixar.

Obrigado pela atenção,
Stefano.

12.12.07

sobre meu filme.

"Luz, câmera, ação", não foram as primeiras palavras do médico assim que eu nasci, porém acredito que elas combinam perfeitamente com a minha vida. Não falo do meu antigo desejo de ser ator, e sim do meu dia-a-dia que tem pitadas de humor, drama e romance.
Às vezes no banho, eu fico lembrando das coisas que já fiz e caio na gargalhada sozinho - é bom rir da gente mesmo, ainda mais quando são situaçõs cômicas espontâneas que depois viram o assunto do momento - eu mal posso recontar todos que eu já fiz ou presenciei, desde a "queda no cavalinho de madeira" à "queda de cima da bola de futebol". Romances são os outros pontos fortes dessa minha vida-filme, desde as paixonites infantis ao amor platônico da sexta série - eu lembro de cada uma e penso "nossa como eu era infantil", mas vou fazer o quê? Faz parte amar desse jeito bobo e ingênuo.
Porém, de nada adiantaria um protagonista engraçado se não fosse pelas outros personagens que, muitas vezes, fazem papel de ator principal. Começando pela família, espaço de criação de brigas, risos, confissões e muito, muito amor. Foi com meus pais e irmão que acabei fazendo as coisas mais idiotas ou emocionantes de minha vida.
Há os amigos, desde os certinhos que dão um ar de "The Big Bang Theory" para história, com seus cálculos matemáticos estranhos, piadas nerds, estilo nerd, assuntos nerds e falta de vida social, aos loucos que trazem divertimento e momentos non-sense para o enredo, numa mistura de "Jackass" e "Débil e Lóide".
E no final de cada "dia de filmagem", eu contabilizo "cenas" que eu gosto e outras que não. Mas no fundo, eu não mudaria nada, porque cada momento é tão especial que se torna único nesse filme sem erros de gravação e tomadas dois.

Esse filme da minha vida.

11.12.07

sobre estar bem.

- Eu estou bem! - menti quando me perguntaram sobre meu humor.
Era uma tarde de verão, eu acabara de fazer compras quando encontrei um velho amigo. Eu sorria naquele momento, por mais que os músculos das minhas bochechas doessem, impedindo que eu parecesse realmente feliz.

Eu sei mentir, é fato, ainda mais quando tento mascarar um sentimento - mais ainda quando tento parecer alegre e, nas últimas semanas, minha dissimulação tem sido posta à prova constantemente.
O que se passa é que um emaranhado de fatos ruins vem acontecendo, me fazendo acreditar que meu mundo vai desabar ou me fazendo cogitar a idéia de fugir do Brasil, mas ainda assim tenho a capacidade de responder positivamente quando questionado sobre meus dias, minha vida e meu temperamento atual. Eu gosto de parecer otimista, pois deixa nas outras pessoas uma lembrança agradável de mim:
- É incrível, toda vez que eu falo com o Carlos ele está feliz!
Gosto de criar essa impressão e me deixo, às vezes, acreditar nela.

Após um ou outro assunto, me despedi do conhecido e fui em busca do meu Fiat no estacionamento - o encontrei depois de muito procurar. Abri o carro e coloquei as compras no porta-malas; me sentei no banco do motorista e pude ver meus olhos no reflexo do pára-brisa. Eu sabia que dentro deles, havia um monte de lágrimas e sentimentos ruins guardados, só que por fora eu só conseguia enxergar um brilho estranho e consolador.
- Eu estou bem! - repeti para mim mesmo antes de ir embora.

10.12.07

sobre minha covardia.

Às vezes duvido da minha sorte ou da falta dela e é duvidando mesmo, que acredito que amanhã será um dia melhor. Talvez seja muito pensar que tudo se resolverá no dia seguinte: nada de guerras, armas, pobreza, fome e essas coisas que nos fazem dormir pesado, mas eu acredito e me basta.
Basta, para eu me sentir melhor e com a sensação de que um fardo foi tirado das minhas costas - é aliviante saber que, talvez, amanhã não terei que me recriminar ao deixar comida no prato ou desdenhar um pouco de arroz-com-feijão.
Não gosto dessa sensação de culpa por um problema que diretamente não é meu, por isso prefiro acreditar que o culpado é o governo de cada país e não eu, por não ajudar nem quem está ao meu redor! Droga, por que é tão difícil falar um bom dia para a moça que limpa o chão do prédio? Ou abaixar o vidro pra escutar a súplica de um mendigo no trânsito, com medo de ser assaltado? Ou arrecadar dinheiro para uma ação solidária? Eu quero ajudar, mas minha consciência pobre insiste em me impedir: "Tenho vergonha", "Não tenho tempo", "Depois eu faço", "Não tenho dinheiro!", "Não tenho talento", "Não quero" - são pensamentos constantes a cada vez que decido fazer alguma coisa pelo próximo.
Por isso, prefiro acreditar no amanhã. Caso o mundo mude amanhã, não terei que me culpar mais. E o quê mais dói é saber que eu prefiro mudar o mundo à dar um passo em prol da solidariedade.

9.12.07

sobre o tempo.

Cai uma tempestade aqui dentro, mas faz sol lá fora.

8.12.07

sobre uma pergunta.

- E agora, José? - me perguntaram na saída.

Eu não demorei muito para responder.
Já tinha as palavras na ponta da língua.

- Agora? Eu vou fazer o quê eu sempre faço.

Ninguém entendeu, mas eu sabia a resposta:
Eu vou mentir. De novo.

7.12.07

sobre um conselho.

Amar é uma droga.

Um dia você entende os dois lados dessa frase.

6.12.07

sobre gostar.

Eu gosto do inverno, cobertas e travesseiros; de churrasco em dias ensolarados; de sorvete com calda quente no frio; de tomar vários banhos em dias quentes; de usar mais de uma meia em cada pé quando faz frio; de ficar na piscina no verão.
Eu gosto de viajar pra longe; de ficar sozinho; de falar comigo mesmo; de rir de coisas bobas; de gostar dela; de cantar no chuveiro; de ficar sem fazer nada o dia inteiro; de dormir nas horas erradas; de tocar bateria pra desestressar; de jogar basquete; de dormir assistindo televisão; de tirar fotos.
Eu gosto de comida não muito quente; de pouco açúcar no suco de maracujá; de coca-cola zero; de salada de rúcula; de kiwi; de purê de batata no cachorro-quente; de cheiro de comida sendo feita; de coca-cola normal sem gás; de nuggets; de pão de queijo; de cozinhar.
Eu gosto de comédias inteligentes; de filmes bombásticos; de livros best-sellers; de seriados americanos; de Irritando Fernanda Young; de telecine nas horas vazias do dia; de ler outdoors; de escrever o quê vem na cabeça; de frases que não vão até o fim da linha; de ponto-e-vírgula; de ponto final; de frases sem-sentido denotativo.
Eu gosto de estudar biologia; de escrever redações; de passar de ano sem recuperações; de entrar em férias; de matérias fáceis; de usar calculadora; da minha cadeira-mesa de canhoto; de comentar o quê os professores falam; de escutar conversar alheias; de rabiscar a apostila.
Eu gosto de pensar no futuro; de ficar inseguro; de meditar sobre o passado; de estar pronto pro presente; do carpe diem; de deixar coisas por fazer; de fazer coisas inúteis; de não ter o quê fazer; de ser feliz; de não entender o porquê das coisas; de saber tudo primeiro.

Eu gosto e basta.

5.12.07

sobre vacas, cabras e cavalos.

São poucas as coisas que eu odeio, mas dentre elas está uma que me irrita só de pensar - fazenda. Não gosto da sensação da falta do caos urbano, do som dos carros, do tumulto e de estar sempre atrasado, pois essas são coisas que convivem comigo todos os dias e largá-las seria negar uma parte minha: a parte urbana.
Quero deixar claro que estou falando aqui das fazendas típicas, aquelas nas quais você tem que ordenhar as vacas, fazer queijo, matar galinha, pegar ovos, cuidar de cavalos, arar a terra, colher da horta, plantar de novo e tudo isso debaixo de um solzão quente e sem essas parafernalhas tecnológicas que existem hoje.
Fora isso tem o pequeno problema: o cheiro de terra molhada. Não tenho nada contra, mas toda vez que ele aparece, me dá falta de ar - como se minha garganta estivesse fechando, a minha cabeça começa a doer e eu me sinto enjoado. Por isso, seria uma desgraça para mim toda vez que chovesse por lá.
Sem contar os irritantes barulhos de animais: vacas mugindo o dia toco, galos berrando as 5 horas da manhã, sapos e grilos fazendo suas sinfonias a noite toda, cavalos relinchando e cigarras fazendo aquele som dos infernos. O pior é quando junta tudo! Haja paciência e, convenhamos, paciência não é uma das minhas maiores virtudes.
Por tudo isso, prefiro continuar no meu confortável mundo urbano sem vacas, cabras, cavalos e o escambal.

4.12.07

sobre ontem, hoje e o futuro.

Ontem era muito mais legal pensar sobre o futuro.
Hoje o futuro chegou para mim.
Chegou totalmente sem-graça.
Preciso voltar a pensar sobre o futuro.
Um outro, diferente do futuro de ontem.

3.12.07

sobre um pirata.

- Victor era o pirata mais malvado dos quatro cantos do mundo, não tinha nenhuma nação que não temesse seus ataques relâmpagos. Quando visitou a escócia, não sobrou um saiote xadrez para contar a história: ele saqueou tudo que pudia e mais, fez uma lei para que os homens usassem calças naquela região (eles até o agradeceram).
Posso dizer até, que as jóias da rainha nunca mais foram as mesmas depois do seu saque à Inglaterra: ele teve piedade e deixou por lá uma ou duas coroas velhas. Ainda suspeitam que os imigrantes ingleses que colonizaram a Améria anglo-saxônica, saíram de sua terra natal por medo do temível pirata Vic-olho-de-vidro (era assim que gostava de ser chamado).
Quando desembarcou na Holanda, as tulipas tremeram de medo e logo murcharam (naquela primavera o lucro pela exportação de flores holandesas foi zero). Para todos os holandeses escutarem onde ele estava passando, começou a usar um belo par de tamancos de madeira (só pelo som os nativos fugiam de medo), depois que foi embora sem matar ninguém, os sapatos tornaram-se típicos do país.

Na Suíça, a coisa foi feia, muitas suíços tiveram que se abrigar no alto dos alpes para fugir dos tiros de canhão e das barbaridades feitas por lá: para começar, Vic-pé-de-ferro (outro apelido do pirata) tirou o máximo de leite que conseguiu de todas as vacas do país. Em seguida, comeu todas as barras de chocolate que encontrou. Querendo riquezas, entrou de casa em casa procurando ouro, mas as poucas jóias que encontrou eram banhadas ou falsas. Não preciso dizer que ele ficou furioso, porém o país pagou caro pela má recepção: todas as casas da capital foram incendiadas (ninguém morreu, ele deixou as pessoas fugirem. Sabe como é, ele era malvado e bonzinho - ao mesmo tempo).
Depois de muitos saques e anos de vida, Victor veio construir uma vida de pirata aposentado no Brasil e foi aqui que ele se casou (aos 70 anos de idade) com uma linda mulher (de 65 anos), era o amor que ele nunca encontrou em seus roubos e dinheiro.
Finalmente, ele era feliz.
Fim.
- Parabéns, filho! Você fez toda essa história sozinho?

Victor não precisava sair do seu quarto para viver a alucinante vida de pirata que ele sempre sonhou: ele tinha imaginação, papel e caneta. Bastava para criar a história perfeita.

2.12.07

sobre uma conversa alheia.

- Quanto tempo, Gabi!
- Paulo? Nossa, você tá diferente, hein?
- Deve ser a barba. Você cresceu também!
- Ah, para! Você sempre me zoa. Sou baixinha mesmo!
- Haha. O que você está fazendo por aqui?
- Ah, nada. Esperando uma pessoa. E você?
- Também. Era pra ela já ter chegado.
- É, ele também.
- Shoppings são péssimos lugares para encontro!
- Ainda mais quando é encontro marcado por internet.
- Verdade, essa de chats de encontro não dão certo.
- Nunca, mas eu ainda tento. Vai que um dia... Sei lá!
- Pode ser. Você sempre foi cheia das esperanças.
- Melhor assim. Eu gosto, melhor que você que sempre vê o lado ruim.
- Na verdade, eu vejo o lado certo dos acontecimentos.
- Pode ser, vai.
...
- É.
...
- Ela não vem?
- Quem? A que eu to esperando?
- É né.
- Vem, eu acho. E o seu "prícipe encantado" vem?
- Ah, nessa altura do campeonato: duvido.
- Porquê?
- Era encontro marcado pela internet e sempre 'mia'.
- É, o meu também era um desses.
...
- Quer tomar alguma coisa, Gaby?
- Mas e se...
- Se chegarem? Ah, eles ligam pra gente. Já esperamos muito!
- É... isso é verdade. Tá, tá, vamos, mas pelos velho tempos. Ok?
- Tudo bem. Pelos velhos tempos.
Paulo e Gabrielle eram ex-namorados, mas ainda se amavam. O destino só deu um jeito de se encontrarem denovo:
Quando é pra ser amor, dá certo de algum jeito.

1.12.07

sobre uma enxada.

Os olhos eram sofridos, cansados e pareciam pesar na face, o corpo estava arqueado e cavava insistentemente um buraco com uma enxada velha, as mãos calejadas pulsavam doloridas pelo esforço, uma esperança morria dentro dos pensamentos, uma alma ferida - quase morta - gemia de dor dentro do peito.
"Só mais um pouco" ele pensava entre uma enxadada e outra, mas não falava nada; a terra sangrava vermelho entre uma pancada e outra, mas não reclamava também. Ninguém dizia nada, mas o vento brincava de fazer barulho nos ouvidos do coitado cavador.
"Você precisa mesmo fazer isso?" a voz da consciência condenava-o e trazia a resposta logo em seguida: "Não, mas eu quero". Talvez seja isso, as pessoas têm que parar de querer o que não precisam. Ele precisava de muitas outras coisas, mas só essa ele queria de verdade.
Ninguém podia impedí-lo, ele não estava acompanhado de ninguém, naquele momento eram ele, a enxada, a terra, o vento e a amarga solidão.
O buraco ficou pronto e um pouco molhado pelo suor de seu criador: uma cova perfeita pro que seria posto nela: ele as despejou, aos poucos e com cuidado, até transbordar um pouco. Colocou uma densa camada de terra com humus e vestígios de grama por cima para cobrir.
Olhou um pouco arrependido para a obra-prima que tinha feito aos seus pés, mas estava feliz por ter terminado tudo. Certificou-se que ninguém havia espionado-o e foi embora.
Deu passos pequenos e decididos por aquele campo gramado, no qual estava enterrado um punhado de lembranças de um simples homem que não tinha nada além de sua enxada e umas fotos velhas de seus pais.
Era um novo começo pra quem sempre tentou achar o fim da vida.