A mãe fazia o almoço
apressadamente,
enquanto o pai amava
o colo d'uma morena
e o filho mais velho
matava aula de física
pra comer pastel de feira.
Deu meio-dia.
O menino chegou em
casa fazendo cara de
doença para a comida
posta em seu prato.
O pai ligou meio tarde
avisando que tinha
trabalho por fazer e
pouco tempo pra
almoçar em casa.
O filho mais novo
tinha ido pra creche.
E a mãe sentou-se só
à mesa para devorar
um prato fundo de sopa
de letrinhas, cheia de
palavras bonitas que não
faziam nenhum sentido.
A única frase que seus
ouvidos gostariam de
ouvir, precisava ser dita
Por olhos sinceros:
- Muito obrigado por tudo.
28.8.08
25.8.08
alguma certeza.
CONCRETO
T
CONCRETo
CONCREto
TE
CONCreto
TEM
TEMP
Concreto
concreto
TEMPO
depois de enDURecidO,
um (coração)
qU
e
B
rA
fácil;MENTE.
T
CONCRETo
CONCREto
TE
CONCreto
TEM
TEMP
Concreto
concreto
TEMPO
depois de enDURecidO,
um (coração)
qU
e
B
rA
fácil;MENTE.
18.8.08
14.8.08
esfinges de luz.
não venho falar do abstrato,
mesmo com as filosofias
mais bonitas, não posso explicar
nem sequer um único
espectro de luz.
não venho falar de sentimentos,
nem de números, ou metafísica.
esse tipo de coisa não se explica:
deve-se acreditar em
sua estranha e bela existência.
cor, por exemplo, está diante
de nossos olhos, no entanto
não há como guardá-la no bolso.
mas ela nasce nas fendas,
brechas de qualquer lugar,
como pequenas flores.
ah, eu posso falar de flores:
quantas dessas já mandei
para mulheres amadas!
amor é assim:
o amante faz-se em presentes,
olhos brilhantes e fogo,
no entanto, em troca,
recebe, de vez em quando,
uma palavra, um sorriso -
nunca ganhei nenhuma poesia.
(...)
caberia aqui uma estrofe inteira
sobre poetas, sociedades anônimas,
se esses não fossem
concretamente-abstratos
para fugir de meus dedos.
em algum lugar, guardei
um discurso sobre o homem
e sua inebriante
dádiva de poder viver.
acho que perdi, se não poderia
recitá-lo inteiro e sem aplausos.
eu poderia falar de tanta coisa,
mas atropelo as idéias e
acabo não-falando de nada.
calo-me.
e tento decifrar
esfinges nas nuvens.
mesmo com as filosofias
mais bonitas, não posso explicar
nem sequer um único
espectro de luz.
não venho falar de sentimentos,
nem de números, ou metafísica.
esse tipo de coisa não se explica:
deve-se acreditar em
sua estranha e bela existência.
cor, por exemplo, está diante
de nossos olhos, no entanto
não há como guardá-la no bolso.
mas ela nasce nas fendas,
brechas de qualquer lugar,
como pequenas flores.
ah, eu posso falar de flores:
quantas dessas já mandei
para mulheres amadas!
amor é assim:
o amante faz-se em presentes,
olhos brilhantes e fogo,
no entanto, em troca,
recebe, de vez em quando,
uma palavra, um sorriso -
nunca ganhei nenhuma poesia.
(...)
caberia aqui uma estrofe inteira
sobre poetas, sociedades anônimas,
se esses não fossem
concretamente-abstratos
para fugir de meus dedos.
em algum lugar, guardei
um discurso sobre o homem
e sua inebriante
dádiva de poder viver.
acho que perdi, se não poderia
recitá-lo inteiro e sem aplausos.
eu poderia falar de tanta coisa,
mas atropelo as idéias e
acabo não-falando de nada.
calo-me.
e tento decifrar
esfinges nas nuvens.
13.8.08
sussuro surdo.
silêncio solene, sereno,
sepulcro selado.
súbito sorriso sóbrio.
súditos seguem seus
sacerdotes sob céu
cintilante, cegamente,
sem certeza sobre
suas sinas secretas.
sábios segredos
sombrios secretados,
subitamente, cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
rezam.
suas sinas, seguem.
sepulcro selado.
súbito sorriso sóbrio.
súditos seguem seus
sacerdotes sob céu
cintilante, cegamente,
sem certeza sobre
suas sinas secretas.
sábios segredos
sombrios secretados,
subitamente, cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
cessam.
sussuros surdos.
rezam.
suas sinas, seguem.
6.8.08
fim da linha.
Passei dias procurando frases perdidas, alguma coisa ainda não-dita para por no papel em branco, mas não havia nada em mim - nem sequer um conselho meio irônico. O silêncio mais-que-breve estava instalado aqui dentro, não sei porquê - eu, antes cheio de palavras, agora sentia sua fuga dos meus dedos, como areia bem seca.
Se-ca.
Bem seca estava minha alma, perdida n'um labirinto tão escuro como noite de lua nova. Não, não havia lua, nem astro algum por aqui. Não havia nenhuma palavra também, por mais que as procurasse incessantemente - estavam todas com medo da pouca-chuva e céu nublado que insistiam em rondar a minha esperança. Inútil e pobre esperança que mal vazava das idéias. Droga, não há idéias por aqui. Apenas tentativas, receios. Sentimentos comprados em feira aos montes, com o dinheiro que sobra de troco.
Tro-co.
Eu troco essa minha esmola (um pouco esquecida) dentro do bolso por qualquer inspiração. Ou, se preferir, podemos estreiar um mercado negro de palavras - se você as possuir aos montes e inesgotavelmente, claro. Também posso procurá-las nos rascunhos perdidos no lixo.
Li-xo.
É como eu me sinto. Sem palavras.
Pa-la-vras.
Não há mais nada aqui além d'um antigo e esgotável ego.
Se-ca.
Bem seca estava minha alma, perdida n'um labirinto tão escuro como noite de lua nova. Não, não havia lua, nem astro algum por aqui. Não havia nenhuma palavra também, por mais que as procurasse incessantemente - estavam todas com medo da pouca-chuva e céu nublado que insistiam em rondar a minha esperança. Inútil e pobre esperança que mal vazava das idéias. Droga, não há idéias por aqui. Apenas tentativas, receios. Sentimentos comprados em feira aos montes, com o dinheiro que sobra de troco.
Tro-co.
Eu troco essa minha esmola (um pouco esquecida) dentro do bolso por qualquer inspiração. Ou, se preferir, podemos estreiar um mercado negro de palavras - se você as possuir aos montes e inesgotavelmente, claro. Também posso procurá-las nos rascunhos perdidos no lixo.
Li-xo.
É como eu me sinto. Sem palavras.
Pa-la-vras.
Não há mais nada aqui além d'um antigo e esgotável ego.
2.8.08
efeito caleidoscópio.
dê-me a paz das
mariposasdoriodejaneiro
e verei a resposta do
enigmamaisqueperfeito
do nosso tempo.
pro caleidoscópiodavida,
quem não tem visão
vira gente.
mariposasdoriodejaneiro
e verei a resposta do
enigmamaisqueperfeito
do nosso tempo.
pro caleidoscópiodavida,
quem não tem visão
vira gente.
1.8.08
ensaio sobre meninos perdidos.
explodiu como se fosse bomba,
a nossa estranha pomba da paz
e mesmo sem surtir efeito,
desapareceu solenemente
sem pedir qualquer aplauso.
haveria alguma lembrança
no pouco-vento quente e pesado
daquele faroeste perdido no tempo
se, naquele instante, bem depois
da morte súbita da esperança,
alguém gritasse o nome
singelo de sua mãe.
mas não houve nada, além de
um lamento breve, um sussuro
gélido e meio cinza de adeus.
não.
não foi um sussuro de adeus,
apesar de ter sido gélido.
e meio cinza.
era um suspiro de alívio ao ver
a única pomba, que jamais teriam,
voar para um vazio distante dos
livros de velhas poesias.
explodiu como se fosse bomba,
a velha e inútil sina das crianças
perdidas, as quais mal sabiam
o que era essa tal de paz.
a nossa estranha pomba da paz
e mesmo sem surtir efeito,
desapareceu solenemente
sem pedir qualquer aplauso.
haveria alguma lembrança
no pouco-vento quente e pesado
daquele faroeste perdido no tempo
se, naquele instante, bem depois
da morte súbita da esperança,
alguém gritasse o nome
singelo de sua mãe.
mas não houve nada, além de
um lamento breve, um sussuro
gélido e meio cinza de adeus.
não.
não foi um sussuro de adeus,
apesar de ter sido gélido.
e meio cinza.
era um suspiro de alívio ao ver
a única pomba, que jamais teriam,
voar para um vazio distante dos
livros de velhas poesias.
explodiu como se fosse bomba,
a velha e inútil sina das crianças
perdidas, as quais mal sabiam
o que era essa tal de paz.