não venho falar do abstrato,
mesmo com as filosofias
mais bonitas, não posso explicar
nem sequer um único
espectro de luz.
não venho falar de sentimentos,
nem de números, ou metafísica.
esse tipo de coisa não se explica:
deve-se acreditar em
sua estranha e bela existência.
cor, por exemplo, está diante
de nossos olhos, no entanto
não há como guardá-la no bolso.
mas ela nasce nas fendas,
brechas de qualquer lugar,
como pequenas flores.
ah, eu posso falar de flores:
quantas dessas já mandei
para mulheres amadas!
amor é assim:
o amante faz-se em presentes,
olhos brilhantes e fogo,
no entanto, em troca,
recebe, de vez em quando,
uma palavra, um sorriso -
nunca ganhei nenhuma poesia.
(...)
caberia aqui uma estrofe inteira
sobre poetas, sociedades anônimas,
se esses não fossem
concretamente-abstratos
para fugir de meus dedos.
em algum lugar, guardei
um discurso sobre o homem
e sua inebriante
dádiva de poder viver.
acho que perdi, se não poderia
recitá-lo inteiro e sem aplausos.
eu poderia falar de tanta coisa,
mas atropelo as idéias e
acabo não-falando de nada.
calo-me.
e tento decifrar
esfinges nas nuvens.
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