5.2.09

faroletes, vão.

sobre a mesa de canto,
ao lado do sofá,
entre a parede e
o vão-espaço da sala,
olhando para todos os rostos,

dorme calmamente um retrato
(de uma mãe feliz que olha
para um filho feliz que olha
para um pai feliz que olha
para o infinito da lente fotográfica).

presos à eternidade do papel:
o que eram antes e nunca
deixarão de ser.
errantes continuamente
dia a dia.

como farol que acende em
todas as noites e, mesmo sem
saber o porquê, permanece
iluminando as rotas difusas
de todos os navios,
de todos os mares,
de todas as sereias,
de todas as ilusões...

ilusões passageiras,
que consomem o corpo e
permanecem impregnadas
na pela, no gosto, no gesto.

a certeza de que não há
como ficar sozinho,
quieto no escuro,
longe, muito além, do
mundo das incertezas.

vontades quentes,
rostos frios,
uma fenda profunda
para dentro da alma.

ilusões, todas elas,
despejadas aos montes
sobre areial

da vida, da praia.

onde as ondas que,
às vezes, quebram,
podem levar para
outros continentes
toda a solidão.

um retrato.
e, ao redor,
um oceano
por inteiro.

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