quando eu nasci, ninguém veio
pra decretar minha sina,
desenhar meus medos
ou rasbiscar minha vida.
sou gauche por conta e
nunca voei muito alto.
não rio das flechas que
vem em minha direção.
prefiro o solo, sou o
príncipe da contramão.
tudo que sinto é saudade
da minha terra longe,
velha terra de palmeiras.
sabiá não canta mais,
prefere o refúgio quieto
das noites de fogueira.
de manhã bem cedo,
há uma noite de clareira
em mim - escuridão.
eu vivo procurando o
amanhã e nasço em
cada verso vão.
mas escrevo porque
o instante existe
e a alegria está no vento.
não edifico, nem desmorono:
fujo do tormento.
e na fuga há sempre fingimento.
finjo ser esta dor pungente,
que no fundo da alma quieta
é a dor que me olha de frente.
agora, tanto faz: sou o que escrevo
e vivo do que sou - isso, só isso.
e, se há voo nas palavras, deixo
que assentem na minha caligrafia,
enquanto traduzo o que não vejo.
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