29.7.09

mãos geladas.

acho que a tua ausência
me traz silêncio e leitura
de estrelas ao pé da cama
enquanto espero o sonho,
que não me deixa fugir
da sua lembrança.
acho que a tua ausência
é o que me faz estar longe
de mim.

21.7.09

tratado de quem sou.

eu acredito no amor de cinema,
só acho que não existe.

acho que a paixão pra ser boa,
não precisa acabar em bom final.
a tragédia é tão mais intensa,
poética e memorável que o riso.

acho que o amor sem ódio é
brincadeira de corações partidos:
junta cacos e remodela sentimentos.

acho que não existe amor de cinema,
só que eu acredito.

e passo a vida acreditando que dá pra
se apaixonar por quem rouba o troco,
por quem finge não saber sua existência,
por quem mente pelas costas.

acreditando que perder o sono é
uma boa cruzada pra quem perde o fôlego
ao lhe ver perdida em outros ombros.

acreditando que dá pra ser feliz
longe dos discos melancólicos,
quando alguém lhe ama perdidamente.

acreditando que o amor joga dados
do tamanho do universo pra juntar
casais que não sabem que sorrir sem jeito
é amar perdidamente.

se existe ou não esse amor feliz,
não me conte.
prefiro a ignorância de acreditar
numa mentira
do que o ceticismos de morrer
sozinho.

20.7.09

miragens.

ouço aves e o verso
tão suave que me
trazem para roubar
minha canção.

ou suaves aves
que me trazem
versos roubados
de outra canção.

as aves que me
avoam, descem dos
meus sonhos de
menino pra correr
a estrada dessa
canção que não me
fala nada.

ouço o canto da
maria que vai embora
no meio da fumaça.
maria-fumaça e a bagagem
esquecida do lado de fora:
a partida é sempre a
página mais alva dessa
estrada, dessa canção.

ouço aves a rasgar a
noite tão clara
de estrelas tão caídas.

ou suaves aves que
ecoam uma estrela
tão brilhante no
pensamento.

vai-se embora com
a maria, maria-fumaça.
pega tua bagagem,
tua estrada, tua estrela,
teu canto e teu verso.

pega esse atalho de
dentro da poesia
e segue viagem.

15.7.09

pianíssimo.

ao passar.
fique em silêncio
e olhe a lua.

não faça pedidos,
não crie esperanças.

só olhe
e passe

devagar e pensativo,
a absorver a mágica
do céu iluminado:
onde não há partida
e nem ponto de chegada.

caminhar é colher estrelas
e semear os sonhos.

lá, onde não há infinito,
tudo é belo e a noite,
uma estrada.

não pare; passa.

9.7.09

letreiro.

eu falei de você.
não lembro se
havia um motivo.
sei que falei de
você pra alguém.

nem sei se lhe
conhecia como
eu conheço,
mas concordou
com a cabeça
e passou sorrindo.

eu falei de você.
eu me lembrei.
eu me aproximei.
eu li meus e-mails
pra ter certeza
que você não voltou.

eu olhei pro céu
e desenhei seu nome
com a esponja das
nuvens e dois pincéis
de lágrimas.

eu me apaixonei.
eu me amarrei um
pouco mais na lembrança
do aconchego das suas
palavras tão lentas e lindas.

e, depois, segui.
sorrindo.

passei.
como os dias passam,
como a dor passa,
como a saudade fica.

porque me lembrei
e me completei
e me refiz com o seu
"te amo" que me persegue.

3.7.09

choro de chuva.

não há cores no céu. nem azul, nem verde,
nem marrom dos seus olhos, nem.
não há movimento no céu, dança de sonhos
e moinhos de nuvens: não há nada no céu.

só um clarão muito grande e bem opaco,
que esquece o sol, desfaz o dia.

e chove;

e chove: a escorrer lágrimas pela vida.