19.4.10

codinome.

o problema do desamor
não é ficar perdido ou
deveras encontrado.

há sempre uma dança
de cosmos que recola
cada estrela em seu
devido lugar.

o erro do caminho,
se o pé pisa fora do trilho,
se tudo vai errando e
se concretizando, assim,
tão tortamente belo.

o problema do desamor
não é a completude que
parece não chegar.
um dia estar completo
perde totalmente o sentido.
(por mais incrível que possa
parecer-me, aprendemos que
estar vazio é a melhor forma
da nossa arte).

o desamor não é frágil,
nem deseja que assim sejamos.
o desamor é uma força
que não temos,
mesmo de coração inteiro
- quando podemos ofertá-lo?-

não pede que brinquemos,
não pede que sejamos.
não pede, não pede nada,
mas oferece.

oferece um quinhão que
vale tanto quanto toda
riqueza desta vida.

um peso em a-ouro,
uma jóia desprezada:
o desamor segue na calmaria
das águas em pedras.

e separam a nova paixão
das corrosivas marcas
do desamor.

mas esse não é o problema.

o problema não está em nós,
nem tranzpassa-no.

o problema vai além,
caminhando só nas avenidas
caladas do universo.
o problema é maior,
muito maior que o depois,
mas não podemos vê-lo.

somos pequenos, aprendizes.
somos codinomes.
somos a fagulha e não podemos
ver completamente tudo.

o problema do desamor é toda
a sua imensidão.
não podemos conhecê-lo,
sem antes senti-lo um pouco.

e o pouco do infinito é imenso.
e o imenso é a falta que carrego.

Um comentário:

Jiquilin disse...

Uma graça essa poesia!