10.11.08

delírio datilografado.

escrevo.

e as palavras jorram
e molham minha roupa,
inundam a sala,
lavam meus pés
(cheios de sangue).

afogo-me nas palavras,
enquanto me entorpecem,
desejam e esquecem.

escrevo.

e meu coração aperta numa
agonia inflamada de ódio.
há um mundo inteiro que
me rodeia e abraça, mas há
um medo irracional que
me aprisiona nessa gaiola
de paredes translúcidas.

escrevo.

e a caneta chora implorando
piedade, meu pulso cala calúnias
dentro de sua tinta espessa.
máquina, delíro ainda minha vida
por cima da folha e relembro
ecos de memórias quentes.

escrevo.

e nos olhos uma sensação
nostálgica turva o sol
que se põe cheio de cores,
sem nenhum pecado.
enquanto eu, aqui,
poeta sem opção,
padeço cheio de culpas
e não nego meu martírio eterno:

o que me dói e fere é escrever.

Um comentário: