24.9.09

dois dedos de prosa.

descobrir reticências e não saber
como preenche-las, dói.
não como um partir de sol
ou saudade aberta em ferida.

dói como furacão, tristeza pura
sem definição de dicionário.

descobrir como mudei.
todos os invernos que começam
neste floco de neve refletindo solidões.

no vulto das folhas,
no vermelho incêndio por
trás do universo branco,
foi lá que mudei.

sem poder ver o mundo
e quantos passos de tragédia
e quantas prosas de comédia
e quantos de mim mesmo
deixei no infinito.

sem poder me encontrar,
mudei.

e me refiz diante do universo
branco e calmo da tarde que
esmorecia no ventaval.

dói saber que as luas foram embora.

quantas primaveras não contei
nesse jardim da vida!
quantas flores já parti ao partir os versos!

descobrir que os olhos no espelho não sorriem
e as marcas no asfalto não correm
e os reflexos não se apagam;
descobrir a nuvem negra que vem na neblina
e a onda que me engole, dói.

dói como só pode doer um passar de horas
vendo quem carrega o sol nos ombros,
enquanto madrugada a dentro faço em mim.

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