Gosto de músicas assim:
Que não dizem, sem obscuridades.
Gosto de músicas nuas, desvendadas.
Gosto do som táctil, fictício,
De pensar na música como
Uma passagem, um portal em mim.
O som que me leva do visível
Ao intocável, o tato pelo avesso,
O toque da voz do mundo.
Gosto do som, só pelo som.
Gosto do vento que sussurra
Na quebrada das ondas.
Do relampejar quieto das minhas calmarias,
Do furacão noturno de um olhar perdido.
Gosto de ouvir e ouvindo
É quando o mundo parece fazer sentido
E me pego criando lógicas;
Ouço uma voz no escuro, um dilema.
Ouço a música simples que há
Quando o dia nasce e a clareira
Se torna a boca do mundo a ressoar
Vozes de andarilhos e poemas de meninos.
Gosto do som quando é sensação, sem precisar ouvir.
Gosto da música-essência que me traduz
Quando traduzir não é repartir em outros versos,
Nem amontoar carismas.
Gosto da tradução que antidiz a mim mesmo
Fácil em sua complexidade.
Gosto do som que toca em mim.
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