sabe-se lá que, num lugar distante,
desce o mundo um barco quieto
sem tripulantes.
virgulando a orla pequena
que divide o real do infinito.
um barco cheio de um nada
completo.
um barco à vela
movido ao vento das palavras.
um barco que traz e carrega
versos ao poeta que procura amar.
sabe-se lá que, numa tempestade,
um pescador descobriu o barco.
tentou domá-lo e fazê-lo
refém de sua fúria
de homem das marés.
e a vela não resistiu à sua força,
sem lutar,
deixou-se rasgar em flanelas.
o vento das palavras passou-lhe
sem mexer seu casco.
e o barco parou... perdido.
e o pescador deitou... calado.
e o mundo foi ficando mais
cheio do mundo, tão mais real.
cheio de um mar escuro.
e as águas secaram e a terra surgiu
e a areia cobriu os pés de quem
andava sobre as ondas,
de quem domava o mar.
o mar escuro subiu ao céu,
a noite mais densa cobriu
a noite menos densa...
o dia apagou-se.
e o barco bebeu do vento,
embriagou-se e afogou.
pouco a pouco deixou de existir,
criou uma lembrança e só.
o pescador deitado sob
o infinito fechou os olhos para
não ver morrer o irreal.
e chorou a partida do barco,
da vela, do sopro, do mar.
e chorou sua ira de homem
dos mares bravios.
cantou um verso.
e as lágrimas molharam areia.
cantou um poema.
e água molhou sua alma.
cantou um poeta.
e o canto tornou-se mar.
o barco se reergueu bonito
e a vela parecia outra.
ondas e ventaval...
e o vento levou o barco
para o infinito
e o verso cantou bonito
um novo final:
a vida segue as ondas
e as ondas seguem...
e as ondas seguem...
o pescador saltou no mar,
o barco não era seu porto,
deveria passar.
e o barco,
virgulando a orla pequena
que divide o real do infinito,
voltou a ficar cheio de um nada completo.
trazendo e carregando versos
ao mundo...
que precisava ver o mar.
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