um trem-de-ferro é uma coisa linda,
tem um quê de humano,
de apitar cansado como um velho
depois da guerra.
se fechar os olhos e escutar,
então parece a morte chegando,
com seu passo branco.
por que a morte é branca,
brancura de névoa no horizonte,
como um passageiro inocente:
uma bagagem de mão
e uma roupa no corpo.
e quando apita é por que pede
os trilhos limpos e desarmados.
pede que abram passagem.
e o trem-de-ferro que parece
homem, que parece morte,
que parece guerreiro depois
de limpar o sangue das mãos,
corta a madrugada com
ritmo de ferro pulsante,
de besta ferida, repugnante.
e da noite, parece a dama,
a anti-dama rasgando poesias
no cobertor turvo de estrelas,
refletido nos trilhos molhados
de orvalho frio.
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