um café cheio de mágoa,
amargo e frio, sobre
a mesa de metal jaz.
o rapaz conta o dinheiro,
pega as notas miúdas
pra pagar o almoço
- um monte delas estampa
no fundo branco da conta
uma natureza.
vem um vento que
sopra-se manso e leva
ao céu araras.
o céu azul turquesa.
lindo, límpido, lindo.
no café frio
a lembrança das nuvens
se faz (tão ocre quanto).
(tão)
o garçom, que bate
na mulher em noite ímpar,
simpático, recebe o dinheiro,
agradece a caixinha magra
inocente - calado,
baterá na mulher no fim do mês
por falta de muita sorte.
mas o rapaz guarda
a carteira na bolsa.
e as araras não voltam
pra cantar de noite.
as araras são livres
como livre é a vontade
de estar frio, amargo,
sobre a mesa de metal,
no centro da cidade quente,
esquecido das nuvens
e do tempo, jazido.
um café, uma mágoa.
um canto de ave no poente.
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