apareceu quando não havia luzes,
caminhando em passos leves,
procurando um coração sincero.
a noite, dama sem pudores,
não o advertiu... divertia-se,
no entanto, com o visitante.
e, num relance, descobriu as
minhas pálpebras, os meus olhos
agudos sofrendo calados.
invadiu meu sonho...
que não era bonito também,
apenas uma ilusão qualquer
para dar graça ao sono.
quem é? - não houve resposta.
quem é? - a minha pergunta vagando
(sutilmente) pela brisa de verão.
acordei assustado, suando,
uma lágrima pendendo do olho.
e vi a silhueta no vulto.
escutei a voz no que era mudo.
contemplei a lembrança estampada
no móvel - um passado, o sorriso...
quem sou?
responde-me aos poucos,
gotejando as palavras
para afixá-las em mim.
eu sou a sua vontade mais intensa,
o seu sentimento sem sentido...
eu sou o dilema ao pé da estrada
entre o futuro e o passado:
de vez em quando, me chamam saudade.
26.12.08
21.12.08
moinhos de concreto.
do pedestal em que me encontro,
tudo parece mais bonito.
a beleza, presa dentro dos corpos,
liberta-se entre os vãos.
vejo os seres correndo em forma
de fragmentos, quem sou eu
para julgá-los? corri, um dia.
eu também corria por cima
das pedras silenciosas da calçada.
escuto o eco do tempo, do vento,
de mim, de tudo - são vozes bonitas
que passeiam lado a lado nas
passarelas de São Paulo.
tornam-se uivo pleno e confuso,
perturbador à minha consciência frágil.
daqui, onde as mãos não me agarram,
a plenitude é minha e sou dono do próprio
destino (desenhado em terra molhada,
outro dia mesmo, pelas minhas pegadas).
manipulo aqueles que cismavam em
prender a minha criatividade em nó italiano
de gravata, terno um pouco curto.
agora, sou livro...
sim, agora sou livro, pois a liberdade
não me importa mais.
livro cheio de figuras, enredos,
onde o verossímil não importa,
crio-me em personagens
(dane-se a esquizofrenia!)
sou eu, sou... sou tudo!
sou esse uivo pleno e confuso que
margeia a minha história,
enquanto os figurantes brincam de rotina.
esse pedestal, no alto da humanidade,
não é real, palpável, mas não chega
a ser teatral, figurativo.
também, não há salto...
apenas sonhos, ilusões, vontades, delírios.
sou Dom Quixote, entre o cinza claro
dos moinhos de concreto,
dos leões em forma de estátua,
e o meu cavalo, madeira nobre e podre,
nunca aprendeu falar inglês.
tudo parece mais bonito.
a beleza, presa dentro dos corpos,
liberta-se entre os vãos.
vejo os seres correndo em forma
de fragmentos, quem sou eu
para julgá-los? corri, um dia.
eu também corria por cima
das pedras silenciosas da calçada.
escuto o eco do tempo, do vento,
de mim, de tudo - são vozes bonitas
que passeiam lado a lado nas
passarelas de São Paulo.
tornam-se uivo pleno e confuso,
perturbador à minha consciência frágil.
daqui, onde as mãos não me agarram,
a plenitude é minha e sou dono do próprio
destino (desenhado em terra molhada,
outro dia mesmo, pelas minhas pegadas).
manipulo aqueles que cismavam em
prender a minha criatividade em nó italiano
de gravata, terno um pouco curto.
agora, sou livro...
sim, agora sou livro, pois a liberdade
não me importa mais.
livro cheio de figuras, enredos,
onde o verossímil não importa,
crio-me em personagens
(dane-se a esquizofrenia!)
sou eu, sou... sou tudo!
sou esse uivo pleno e confuso que
margeia a minha história,
enquanto os figurantes brincam de rotina.
esse pedestal, no alto da humanidade,
não é real, palpável, mas não chega
a ser teatral, figurativo.
também, não há salto...
apenas sonhos, ilusões, vontades, delírios.
sou Dom Quixote, entre o cinza claro
dos moinhos de concreto,
dos leões em forma de estátua,
e o meu cavalo, madeira nobre e podre,
nunca aprendeu falar inglês.
15.12.08
stalingrado.
a neve suavemente branca
jaz sobre os trilhos sujos
e encobre toda a realidade
estendida aos meus lados.
não há nada mais para ver
além do céu sem nuvens
e a certeza eminente de
que o trem está vindo.
um trem bonito,
muito melhor que aquele
usado para me levar aos
campos de trabalho forçado.
meus olhos polacos
esperam ansiosamente
por esse novo trem:
a redenção.
agora, a morte não vive
mais ao meu lado:
ela corre a minha frente.
e o meu fôlego da vida
pode acabar a qualquer
instante: basta saber
quanto tempo a morte
precisa para me alcançar.
rodas enferrujadas rangem
murmúrios secretos no
fundo dos meus ouvidos.
na neve suja de graxa,
respingam porções cálidas,
pulsantes, minhas.
vejo a luz - sim, uma luz!
e suspiro, enfim... paz.
a noite chega para somar
mais um fantasma:
vulto congelado.
jaz sobre os trilhos sujos
e encobre toda a realidade
estendida aos meus lados.
não há nada mais para ver
além do céu sem nuvens
e a certeza eminente de
que o trem está vindo.
um trem bonito,
muito melhor que aquele
usado para me levar aos
campos de trabalho forçado.
meus olhos polacos
esperam ansiosamente
por esse novo trem:
a redenção.
agora, a morte não vive
mais ao meu lado:
ela corre a minha frente.
e o meu fôlego da vida
pode acabar a qualquer
instante: basta saber
quanto tempo a morte
precisa para me alcançar.
rodas enferrujadas rangem
murmúrios secretos no
fundo dos meus ouvidos.
na neve suja de graxa,
respingam porções cálidas,
pulsantes, minhas.
vejo a luz - sim, uma luz!
e suspiro, enfim... paz.
a noite chega para somar
mais um fantasma:
vulto congelado.
14.12.08
córtex do tempo.
Apago um texto inteiro.
Releio minhas palavras velhas
e sinto o escroto gosto de nostalgia.
Não gosto da minha nostalgia.
Não gosto do meu ontem.
Pois ontem passaria a eternidade
sem colocar o meu silêncio no papel,
mas hoje acordei prolixo.
Não apenas de palavras,
mas de sentimentos, gostos e gestos.
Ontem eu aceitaria viver
os mesmos erros em todas as manhãs,
mas hoje criei coragem para aceitar
a minha palpável realidade e,
de alguma maneira quase humana,
sonhá-la debaixo de cobertas pesadas.
Ontem eu odiaria cobertas e amores,
pois os dois esquentam demais
essa minha alma quase cor de gelo.
Hoje eu quero almoçar em família
e abraçar meus avós para dizer
a falta que eles me fazem.
Hoje eu quero não-sentir o peso
das dores de todo o mundo.
Quero a felicidade plena dos
astros solitários que cintilam
em todas as noites sobre
nossas mentes quase-pesadas.
Hoje eu quero a certeza de não saber
onde o infinito do horizonte pode acabar.
Ah, o hoje chegou junto ao
meu sorriso mais breve, sincero, belo e único!
Ontem eu aceitaria ser presenteado
com um pequeno espelho de sentimentos.
(espelho turvo para dissimular essa
minha falsa-sensação de bem-estar).
Mas hoje eu quero um canhão de palavras.
Munido como atiradores de rosas
numa guerra mundial.
Hoje pretendo lançar nos outros
essa minha lógica pobre e honesta,
essa minha razão simples e ingênua.
Hoje eu quero fazer dos sonhos
a nossa mais perfeita companhia.
Releio minhas palavras velhas
e sinto o escroto gosto de nostalgia.
Não gosto da minha nostalgia.
Não gosto do meu ontem.
Pois ontem passaria a eternidade
sem colocar o meu silêncio no papel,
mas hoje acordei prolixo.
Não apenas de palavras,
mas de sentimentos, gostos e gestos.
Ontem eu aceitaria viver
os mesmos erros em todas as manhãs,
mas hoje criei coragem para aceitar
a minha palpável realidade e,
de alguma maneira quase humana,
sonhá-la debaixo de cobertas pesadas.
Ontem eu odiaria cobertas e amores,
pois os dois esquentam demais
essa minha alma quase cor de gelo.
Hoje eu quero almoçar em família
e abraçar meus avós para dizer
a falta que eles me fazem.
Hoje eu quero não-sentir o peso
das dores de todo o mundo.
Quero a felicidade plena dos
astros solitários que cintilam
em todas as noites sobre
nossas mentes quase-pesadas.
Hoje eu quero a certeza de não saber
onde o infinito do horizonte pode acabar.
Ah, o hoje chegou junto ao
meu sorriso mais breve, sincero, belo e único!
Ontem eu aceitaria ser presenteado
com um pequeno espelho de sentimentos.
(espelho turvo para dissimular essa
minha falsa-sensação de bem-estar).
Mas hoje eu quero um canhão de palavras.
Munido como atiradores de rosas
numa guerra mundial.
Hoje pretendo lançar nos outros
essa minha lógica pobre e honesta,
essa minha razão simples e ingênua.
Hoje eu quero fazer dos sonhos
a nossa mais perfeita companhia.
7.12.08
refúgio meu.
cá estou - de novo.
as mãos submersas
nesse refúgio impalpável.
suor frio na testa
e olhos de garrafa
beeeeem fundos.
outra e mais uma
vez, cá estou.
e não há nem
indícios da sua
ilustre presença.
é um sonho ruim,
mas não chega
a ser pesadelo.
a noite é bonita
e cai completamente
do outro lado da porta.
rituais, somente isso.
vivo na eloqüência
dos rituais velhos.
esses que aprendi
com a vida,
esses que me calam
os murmúrios
quando o espanto
me chega perto:
você.
cá estou - de novo.
e da mesma forma
como em todas
as outras vezes,
os segredos da
pálpebra são mais,
beeeeem mais
bonitos que a triste
e imutável vida.
dane-se a falta de sorte,
hoje, à noite, sozinho,
na cama, debaixo da colcha,
você, só você é minha.
e o amor é
deliciosamente sonhável.
as mãos submersas
nesse refúgio impalpável.
suor frio na testa
e olhos de garrafa
beeeeem fundos.
outra e mais uma
vez, cá estou.
e não há nem
indícios da sua
ilustre presença.
é um sonho ruim,
mas não chega
a ser pesadelo.
a noite é bonita
e cai completamente
do outro lado da porta.
rituais, somente isso.
vivo na eloqüência
dos rituais velhos.
esses que aprendi
com a vida,
esses que me calam
os murmúrios
quando o espanto
me chega perto:
você.
cá estou - de novo.
e da mesma forma
como em todas
as outras vezes,
os segredos da
pálpebra são mais,
beeeeem mais
bonitos que a triste
e imutável vida.
dane-se a falta de sorte,
hoje, à noite, sozinho,
na cama, debaixo da colcha,
você, só você é minha.
e o amor é
deliciosamente sonhável.