14.12.08

córtex do tempo.

Apago um texto inteiro.
Releio minhas palavras velhas
e sinto o escroto gosto de nostalgia.

Não gosto da minha nostalgia.
Não gosto do meu ontem.

Pois ontem passaria a eternidade
sem colocar o meu silêncio no papel,
mas hoje acordei prolixo.

Não apenas de palavras,
mas de sentimentos, gostos e gestos.
Ontem eu aceitaria viver
os mesmos erros em todas as manhãs,
mas hoje criei coragem para aceitar
a minha palpável realidade e,
de alguma maneira quase humana,
sonhá-la debaixo de cobertas pesadas.

Ontem eu odiaria cobertas e amores,
pois os dois esquentam demais
essa minha alma quase cor de gelo.
Hoje eu quero almoçar em família
e abraçar meus avós para dizer
a falta que eles me fazem.

Hoje eu quero não-sentir o peso
das dores de todo o mundo.
Quero a felicidade plena dos
astros solitários que cintilam
em todas as noites sobre
nossas mentes quase-pesadas.

Hoje eu quero a certeza de não saber
onde o infinito do horizonte pode acabar.

Ah, o hoje chegou junto ao
meu sorriso mais breve, sincero, belo e único!

Ontem eu aceitaria ser presenteado
com um pequeno espelho de sentimentos.
(espelho turvo para dissimular essa
minha falsa-sensação de bem-estar).

Mas hoje eu quero um canhão de palavras.
Munido como atiradores de rosas
numa guerra mundial.

Hoje pretendo lançar nos outros
essa minha lógica pobre e honesta,
essa minha razão simples e ingênua.

Hoje eu quero fazer dos sonhos
a nossa mais perfeita companhia.

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