24.6.10

um canto rouco.

Pai, agora que meu cálice transborda,
que a senda do vale da morte é funda
e densa como um abismo cortado com
Seu dedo na pedra feroz de um vulcão,
estenda a mão?

o vinho é amargo;
o passo é vacilante;
o frio é intenso;
a noite é murmurante.

Pai, Você que me olha do alto
e como formiga preta me vê,
Você que carrega meu coração
como diamante tirado da lama,
chegue mais próximo.

já não peço um abraço,
o afago diminui a culpa.
caí. e tornarei a cair enquanto
em passos vacilantes contornar
esse desfiladeiro.

caí porque meu coração é fraco,
como uma doença que me deixa
pálido num quarto escuro de hospital.

hoje ouço o eco da vida caminhando,
sei que estou muito longe da luz,
mas vejo um feixe, uma claridade.
por favor, cubra-a com Sua mão
de construtor, de oleiro que tirou do pó
misturado com lágrimas de amor
o sopro sublime do ser vivente.

Pai, peço pela mão,
um toque que esquente meu corpo,
que quebrante esse ego.

não me carregue, toque-me.
porque caí sozinho
e preciso me reerguer olhando em Seus olhos,
admitindo ser formiga preta,
enfrentando Sua compaixão até sentir vergonha
de suplicar sem fé.

Um comentário:

Carolina M. Stock disse...

Não sei como cheguei aqui nesse blog, sei que meu apreço foi grande pela leitura. Parabéns!