no meu documento de identidade
tem uma foto pequena e velha.
dizem, umas vozes de parente,
que aquele rosto é meu.
- como você era gordinho,
olha que bochechas grandes!
minha avó não cansa de limpar
as lentes dos óculos para
observar melhor a fotografia.
- parece seu avô, que saudade.
não pareço, me convenço depois,
mas não digo isso para ela,
faz tão bem para seus sentimentos
ver em mim um outro amante.
e o retrato permanece me flertando:
meio sem jeito, com um sorriso
antiquado e um futuro embaçado
dentro e quase fora dos olhos.
recuso, mas depois aceito vagarosamente
que, a despeito de todas as minhas
pedras no sapato, o futuro-presente
da foto, é totalmente meu.
guardo o documento na gaveta,
junto ao meu caderno de notas cheio
de atalhos para minha estrada-vida.
ainda permaneço eu aqui:
dividido e ímpar na carrapaça de gente.
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