8.9.08

frágeis amuletos.

o retrato na parede tem a mesma
fisionomia dessa outra foto
que guardo comigo, no bolso,
junto de outros papéis, perto da
carteira e longe da alma.

guardo por força do hábito,
para não perder a prática de
segurar seu rosto dentre as mãos
antes de cada manhã de trabalho.

e na sala, ainda deixo o seu
perfil para enfeitar e dar graça.
quando perguntam, digo que é
uma velha conhecida, amiga
de infância e brincadeiras de rua.

e, assim, permuto você em mim,
como um amuleto - sem sorte.
como santo de papel - sem santidade.
como mocinha de cinema - sem filme.
como você - sem você mesmo.

somente um rosto ingênuo para
ludibriar a realidade - uma tentativa
de esquecer a fragilidade de estar só.

Um comentário:

M. disse...

um poema,de amor.
realmente tocante o jeito com que voce poem as palavras,perfeitamente encaixadas.
voce sabe,eu sei.
amo o que escreve,e quem escreve.