21.12.08

moinhos de concreto.

do pedestal em que me encontro,
tudo parece mais bonito.

a beleza, presa dentro dos corpos,
liberta-se entre os vãos.
vejo os seres correndo em forma
de fragmentos, quem sou eu
para julgá-los? corri, um dia.
eu também corria por cima
das pedras silenciosas da calçada.

escuto o eco do tempo, do vento,
de mim, de tudo - são vozes bonitas
que passeiam lado a lado nas
passarelas de São Paulo.
tornam-se uivo pleno e confuso,
perturbador à minha consciência frágil.

daqui, onde as mãos não me agarram,
a plenitude é minha e sou dono do próprio
destino (desenhado em terra molhada,
outro dia mesmo, pelas minhas pegadas).

manipulo aqueles que cismavam em
prender a minha criatividade em nó italiano
de gravata, terno um pouco curto.

agora, sou livro...
sim, agora sou livro, pois a liberdade
não me importa mais.

livro cheio de figuras, enredos,
onde o verossímil não importa,
crio-me em personagens
(dane-se a esquizofrenia!)

sou eu, sou... sou tudo!
sou esse uivo pleno e confuso que
margeia a minha história,
enquanto os figurantes brincam de rotina.

esse pedestal, no alto da humanidade,
não é real, palpável, mas não chega
a ser teatral, figurativo.
também, não há salto...
apenas sonhos, ilusões, vontades, delírios.

sou Dom Quixote, entre o cinza claro
dos moinhos de concreto,
dos leões em forma de estátua,

e o meu cavalo, madeira nobre e podre,
nunca aprendeu falar inglês.

Um comentário:

Veri. disse...

Ultima estrofe já dá um poema.

sua fã numero um!
HAUSHAUSHA
cliche ²³²³