amor-bandido, ferido,
amarrotado, ofendido.
amor que cresce sem
medo e deixa como
está, não muda,
não amadurece,
não acrescenta à alma.
(mas quem ama
não percebe a alma,
prefere as disputas de
olhos fechados e espera
o tiro acertar o alvo).
que alvo?
se o coração já
é latente,
que alvo?
brincamos de
atirar dardos
em sentimentos.
ainda não sei
se dói, você
não meu ensinou
a abrir as ataduras.
nem a desfazer nós
e desembrulhar
bombons - não sei
nenhuma dessas artes
seculares de amantes
por perfeição.
talvez,
porque eu ame.
mas não saiba
amar
esse amor-bandido
de faroeste e poeira
e cowboys que seguem
rastros cegos e donzelas
nos espartilhos, frágeis.
eu sei amor ensinado
na escola - de respeitar
o outro e segurar a porta,
só não me peça para
amar assim: fora da lei.
30.3.09
24.3.09
a cortina.
véu
cobre
o pudor
que envolve
o corpo e disfarça
toda forma de cada riso.
a cortina tece um rasto,
pelo vento, de fumaça
sublimada que toca
o corpo e refaz,
sob o medo,
o cheiro:
fel.
cobre
o pudor
que envolve
o corpo e disfarça
toda forma de cada riso.
a cortina tece um rasto,
pelo vento, de fumaça
sublimada que toca
o corpo e refaz,
sob o medo,
o cheiro:
fel.
23.3.09
sigo viagem.
outro dia.
uma mesa de metal,
seis pares de conversa.
três risos de gente.
perguntei, então,
se a vida era dura.
disseram que sim.
eu disse que não.
disseram:
é jovem, imprudente,
cego e desmantelado.
eu disse:
sou bravo, guerreiro,
ando sempre armado.
brindamos.
segui viagem:
mochila nas costas,
pés trilhando o mato
(quase) virgem dos
lençóis - amarrotado.
e trôpego, um dia,
derramei o corpo
pra dentro do
gargalo.
eu, meio cheio.
o mundo
sempre meio vazio.
disseram:
toma cuidado,
senão acaba sem estado.
eu disse:
se estou sozinho,
fico quieto para
escutar o vento.
o chão não é meu limite,
mas é meu aliado.
uma mesa de metal,
seis pares de conversa.
três risos de gente.
perguntei, então,
se a vida era dura.
disseram que sim.
eu disse que não.
disseram:
é jovem, imprudente,
cego e desmantelado.
eu disse:
sou bravo, guerreiro,
ando sempre armado.
brindamos.
segui viagem:
mochila nas costas,
pés trilhando o mato
(quase) virgem dos
lençóis - amarrotado.
e trôpego, um dia,
derramei o corpo
pra dentro do
gargalo.
eu, meio cheio.
o mundo
sempre meio vazio.
disseram:
toma cuidado,
senão acaba sem estado.
eu disse:
se estou sozinho,
fico quieto para
escutar o vento.
o chão não é meu limite,
mas é meu aliado.
19.3.09
rios.
ontem, quando eu acordei,
você não estava à porta,
nem cutucou minhas bochechas
amassadas com olhos de risada.
coloquei a coberta sobre a cabeça
e deixei o despertador derramar
seus soluços por todo o quarto.
mas ontem foi um dia bonito.
pena que havia silêncio dentro,
bem fundo, duma gaveta minha.
silêncio é o pretexto da solidão,
o anti-passo da saudade.
silêncio é o berro mais incontrolável
da nossa alma, não há rédias que
o segurem dentro das palavras.
ontem, eu aprendi a andar com
as minhas próprias pernas.
você não sabe, nem pode imaginar,
como dói olhar crianças brincando
de vida... enquanto a minha vida
brinca de ajuntar cacos de esperança.
mas, agora, eu sei.
sei o peso da mão do mundo,
quantos passos são precisos para
subir essa escada.
estou só no começo, ainda me
assusto com vultos, com marionetes
iluminadas por velas brandas.
ontem, eu dormi sorrindo.
eu tinha certeza que você estava
à porta, me observando, calado.
mas não abri os olhos, não tive
coragem de ver a escuridão
dançando solitariamente.
sem você, à procura de mim.
assim é a vida, o curso das águas.
rios que cruzam leitos e se compartilham
(quando em foz rasa), mas nunca
fazem parte do mesmo mar.
rios que seguem viagem, solitários,
sorridentes, sonhadores, silenciosos.
hoje, eu sinto o silêncio.
eu sou o silêncio das águas em calmaria.
você não estava à porta,
nem cutucou minhas bochechas
amassadas com olhos de risada.
coloquei a coberta sobre a cabeça
e deixei o despertador derramar
seus soluços por todo o quarto.
mas ontem foi um dia bonito.
pena que havia silêncio dentro,
bem fundo, duma gaveta minha.
silêncio é o pretexto da solidão,
o anti-passo da saudade.
silêncio é o berro mais incontrolável
da nossa alma, não há rédias que
o segurem dentro das palavras.
ontem, eu aprendi a andar com
as minhas próprias pernas.
você não sabe, nem pode imaginar,
como dói olhar crianças brincando
de vida... enquanto a minha vida
brinca de ajuntar cacos de esperança.
mas, agora, eu sei.
sei o peso da mão do mundo,
quantos passos são precisos para
subir essa escada.
estou só no começo, ainda me
assusto com vultos, com marionetes
iluminadas por velas brandas.
ontem, eu dormi sorrindo.
eu tinha certeza que você estava
à porta, me observando, calado.
mas não abri os olhos, não tive
coragem de ver a escuridão
dançando solitariamente.
sem você, à procura de mim.
assim é a vida, o curso das águas.
rios que cruzam leitos e se compartilham
(quando em foz rasa), mas nunca
fazem parte do mesmo mar.
rios que seguem viagem, solitários,
sorridentes, sonhadores, silenciosos.
hoje, eu sinto o silêncio.
eu sou o silêncio das águas em calmaria.
17.3.09
meta.
cenestesia:
essa fagulha de vida(jorrando em foz)
mantida dentro
de um envólocro
pul-san-te.
segredo, fundo de mim.
cinestesia:
vulto de vela.
toco a mão do vento,
balança os cabelos
e colo, sempre, no colo da espera,
os ouvidos.
eco, som de hora.
sinestesia:
o vulto da fagulha de vida.
toca a mão da foz do vento.
balança os cabelos mantidos dentro
no envólocro do colo da espera, colo
os ouvidos pul-san-tes.
concha, som de mim.
10.3.09
sombra urbana.
essa urbanidade, que
ocupa os poros, os capilares
e faz-me suar petróleo,
pinta um aviso de perigo
na minha testa.
placa amarela.
radioatividade:
sou urbano.
bomba-relógio que sangra
rosas por entre os campos.
antes, de cerejeiras;
hoje, de destruição.
erros e misticismo gritando
na espuma concrética da
fumaça escura da fagulha
mais estrangeira da fenda
mais falha de um átomo.
parte unitária de quem sou,
meu ego quebrantado,
meu narcisismo desvendado.
o amontoado de cargas,
de soluções para a equação
mais extensa do universo.
tudo gira junto a nossa
órbita de elétrons e certezas.
sim, somos o núcleo, o maciço
dessa história vagável.
desse capítulo mal-escrito de
Dom Quixote, em que os dragões
são maiores que moinhos de vento
e não se parecem mais com dragões.
parecem com vasos de titânio,
férreas caixas de Pandora.
espalhando por aí crianças de Picasso,
cubismo tatuada na pele,
na arquitetura retorcida.
sim, sou urbano.
e o preço dessa urbanidade corrói
os degraus da escada, em que
estou sentado apreciando essa
luz estranhamente bela vindo
ao meu alcance.
quando a história pertencer a
esse momento e tudo for apenas
o relato de uma garota nua,
chovendo memórias numa sala
escura... espero que essa minha
mão que toca o infinito não seja
apenas sombra na calçada.
ocupa os poros, os capilares
e faz-me suar petróleo,
pinta um aviso de perigo
na minha testa.
placa amarela.
radioatividade:
sou urbano.
bomba-relógio que sangra
rosas por entre os campos.
antes, de cerejeiras;
hoje, de destruição.
erros e misticismo gritando
na espuma concrética da
fumaça escura da fagulha
mais estrangeira da fenda
mais falha de um átomo.
parte unitária de quem sou,
meu ego quebrantado,
meu narcisismo desvendado.
o amontoado de cargas,
de soluções para a equação
mais extensa do universo.
tudo gira junto a nossa
órbita de elétrons e certezas.
sim, somos o núcleo, o maciço
dessa história vagável.
desse capítulo mal-escrito de
Dom Quixote, em que os dragões
são maiores que moinhos de vento
e não se parecem mais com dragões.
parecem com vasos de titânio,
férreas caixas de Pandora.
espalhando por aí crianças de Picasso,
cubismo tatuada na pele,
na arquitetura retorcida.
sim, sou urbano.
e o preço dessa urbanidade corrói
os degraus da escada, em que
estou sentado apreciando essa
luz estranhamente bela vindo
ao meu alcance.
quando a história pertencer a
esse momento e tudo for apenas
o relato de uma garota nua,
chovendo memórias numa sala
escura... espero que essa minha
mão que toca o infinito não seja
apenas sombra na calçada.
8.3.09
meu rastro.
ando por aí errando,
tropeço nas linhas, nos limiares,
tombando para lados diferentes
a cada decisão imatura.
ando por aí acertando,
construo meu erros, sensações,
fugindo do bom vendedor,
que vem me cobrar a dívida.
ando por aí vivendo,
crio uma arquitetura, um fogo,
guardando tesouros debaixo
dos alicerces reais da construção.
ando por aí.
e nessa rua imensa do universo
há sempre uma bifurcação,
uma rotatória, um parachoque
perdido no chão, no grito.
ando por aí.
e meus pés não tocam, por
duas vezes, os mesmos espaços
de terreno, de vida alheia.
pois sigo sem deixar pistas e
corro com a areia até os tornozelos.
tropeço nas linhas, nos limiares,
tombando para lados diferentes
a cada decisão imatura.
ando por aí acertando,
construo meu erros, sensações,
fugindo do bom vendedor,
que vem me cobrar a dívida.
ando por aí vivendo,
crio uma arquitetura, um fogo,
guardando tesouros debaixo
dos alicerces reais da construção.
ando por aí.
e nessa rua imensa do universo
há sempre uma bifurcação,
uma rotatória, um parachoque
perdido no chão, no grito.
ando por aí.
e meus pés não tocam, por
duas vezes, os mesmos espaços
de terreno, de vida alheia.
pois sigo sem deixar pistas e
corro com a areia até os tornozelos.
6.3.09
lua nova, cheia.
mil diamantes refletindo a
escuridão de todo o infinito.
sobre nossas cabeças divaga,
entre nuvens, a grande esfera
mãe de todas as estrelas.
lua, nua, completa.
e se pudesse tocá-la,
bailaria com ela pelo universo,
contando cometas e fugindo
do tempo... dos lapsos cor
de solidão que me perseguem.
quando fitar, lá de cima,
o meu corpo refletido nas
ondas calmas da orla recortada
dos seus olhos, verei em
milhares de fagulhas todos
os diamantes.
mil diamantes refletindo
a escuridão de toda a alma.
de todas as almas.
então, se vier o sol,
se a alvorada chegar,
e, sem pudor, meus sonhos
voltarem ao colchão
enrolado em cobertas...
fecho o tempo, a porta,
o quarto, o medo.
e espero.
porque a lua sempre volta
pra me ver sorrir.
escuridão de todo o infinito.
sobre nossas cabeças divaga,
entre nuvens, a grande esfera
mãe de todas as estrelas.
lua, nua, completa.
e se pudesse tocá-la,
bailaria com ela pelo universo,
contando cometas e fugindo
do tempo... dos lapsos cor
de solidão que me perseguem.
quando fitar, lá de cima,
o meu corpo refletido nas
ondas calmas da orla recortada
dos seus olhos, verei em
milhares de fagulhas todos
os diamantes.
mil diamantes refletindo
a escuridão de toda a alma.
de todas as almas.
então, se vier o sol,
se a alvorada chegar,
e, sem pudor, meus sonhos
voltarem ao colchão
enrolado em cobertas...
fecho o tempo, a porta,
o quarto, o medo.
e espero.
porque a lua sempre volta
pra me ver sorrir.