19.3.09

rios.

ontem, quando eu acordei,
você não estava à porta,
nem cutucou minhas bochechas
amassadas com olhos de risada.
coloquei a coberta sobre a cabeça
e deixei o despertador derramar
seus soluços por todo o quarto.

mas ontem foi um dia bonito.
pena que havia silêncio dentro,
bem fundo, duma gaveta minha.

silêncio é o pretexto da solidão,
o anti-passo da saudade.
silêncio é o berro mais incontrolável
da nossa alma, não há rédias que
o segurem dentro das palavras.

ontem, eu aprendi a andar com
as minhas próprias pernas.
você não sabe, nem pode imaginar,
como dói olhar crianças brincando
de vida... enquanto a minha vida
brinca de ajuntar cacos de esperança.

mas, agora, eu sei.
sei o peso da mão do mundo,
quantos passos são precisos para
subir essa escada.
estou só no começo, ainda me
assusto com vultos, com marionetes
iluminadas por velas brandas.

ontem, eu dormi sorrindo.
eu tinha certeza que você estava
à porta, me observando, calado.
mas não abri os olhos, não tive
coragem de ver a escuridão
dançando solitariamente.

sem você, à procura de mim.
assim é a vida, o curso das águas.
rios que cruzam leitos e se compartilham
(quando em foz rasa), mas nunca
fazem parte do mesmo mar.

rios que seguem viagem, solitários,
sorridentes, sonhadores, silenciosos.

hoje, eu sinto o silêncio.
eu sou o silêncio das águas em calmaria.

Um comentário:

Elefante disse...

Caramba.
como consegue escrever assim, tão bonito?


considere isso como um elogio.
mesmo que seja de alguém que achou o Link de seu Blog ao acaso, numa página de scraps, e que agora virou leitora assídua de seu Blog.