17.7.08

donos da nossa noite.

Dirigia na contramão da avenida, estava alcoolizado e ria daquela travessura quase infantil. Tragava um cigarro barato comprado com dinheiro roubado, as pressas, da carteira do pai. Seus amigos gritavam de prazer com o ar gelado da noite batendo nas suas caras sem barba: era uma aventura dirigir o carro do irmão do Dinho - escondido, é claro. Leonardo guiava, por ser o mais velho: dezessete anos e duas surras bem dadas.
Essa era a grande aventura daqueles cinco meninos: fingir-se de bons moços durante o dia para seus pais e, pouco depois da meia-noite, pular a janela de suas casas, afim de tornar-se quem queriam ser: os donos de suas próprias vidas adolescentes. Seus nomes, seus pudores, seus medos, suas faces perdiam-se nas pedras do asfalto. A noite era o habitat deles e da noite eles eram escravos por opção. Ali, dentro daquele Punto quase novo, não deviam explicações para ninguém e podiam fazer exatamente o que queria. Uns chamam isso de liberdade, outros, de covardia. De qualquer jeito, lá estavam adolescentes sentindo-se homens.
Guigas abriu outra garrafa de vodka.
- Um brinde aos Laranjas Mecânicas!
Riram. Uma risada seca, acompanhada da tosse de pulmões mal-acustumados à fumaça do cigarro barato. De certo modo, todos eles eram Alex, exceto por jamais terem estuprado alguém, batido em um idoso e sido presos.
Ingeriram fartos goles da bebida importada.

***

Dirigia na contramão da avenida, estava alcoolizado e ria daquela travessura quase infantil. Tragava um cigarro barato comprado com dinheiro roubado, as pressas, d'uma senhora de idade. Seus amigos gritavam de prazer com o ar gelado da noite batendo nas suas caras sem barba: era uma aventura dirigir um carro - roubado, é claro. Crico guiava, por ser o mais velho: dezessete anos, duas noites na prisão e três surras bem dadas.
Essa era a grande aventura daqueles cinco meninos: trabalhar o dia todo afim de obter o sustento dos irmãos e, pouco depois da meia-noite, pular a janela de suas pequenas casas, afim de tornar-se quem queriam ser: donos da cidade. Seus nomes, seus pudores, seus medos, suas faces surgiam das pedras do asfalto. A noite era o habitat deles e da noite eles eram escravos por opção. Ali, dentro daquele Corsa quase novo, riam da cara espantada da velha que assaltaram e podiam fazer exatamente o que queria. Uns chamam isso de liberdade, outros, de covardia. De qualquer jeito, lá estavam adolescentes sentindo-se alguém.
Dérique abriu outro saco.
- Bala pros Parceiros!
Não riram. Nem uma risada seca, não havia palhaço ou graça naquela ocasião. De certo modo, não deve haver riso enquanto alguns jovens perdem sua vida em busca de prazer.
Ingeriram pequenas doses da droga nacional.


***

Leonardo freiou bruscamente, fazendo Théo derrubar a garrafa de bebida quase cheia. Uma parte molhou o tapete do carro.
- Você tá loco, Léo? Se meu irmão sentir cheiro de bebida no carro ele vai perceber que a gente pegou o carro escondido! - Dinho espumou em raiva.
- O guarda, velho. O guarda!
Lá longe, na mesma pista que eles, mas em sentido contrário, vinha o famigerado Gol 1000 da segurança. Sempre que havia guarda novo, Leonardo fazia cara de santo e mostra sua carteira de habilitação falsa, porém se fosse o Seu Luiz...
- É o Seu Luiz, cara! - Nando balbuceou.
O carro do guarda noturno, parou ao lado do Punto. Ambos abaixaram os faróis e os vidros. Seu Luiz tinha idade para ser avô daqueles garotos, mas seu cabelo comprido não negava a sua participação nos movimentos hippies. Ele parou bem perto do carro dos garotos, pôde sentir o bafo de álcool e cigarro.
Todos riram.
- Vocês são fogo, hein? Não escapam uma noite! Toma cuidado pro guarda novo não pegar vocês!
Outras risadas.
- Entra aí, parceiro. Quer um gole?
- Não posso, tô trabalhando. Bom proveito! Se cuida, vê se não bate esse Punto, hein Léo!
- Pode deixar companheiro.

***

Crico freiou bruscamente, fazendo Brito derrubar uma carreira inteira.
- Você tá loco, mano? Você vai pagar outra pra mim, se não vai tê treta! - Brito espumava de raiva.
- PM, velho. PM!
Lá longe, na mesma pista que eles, mas em sentido contrário, vinha a famigera GARRA.
- Corre, cara, corre! - Nirso balbuceou.
O motorista estava muito drogado para fazer manobras bruscas. Tentou virar o carro, mas na primeira oportunidade colidiu com um poste, como a velocidade não era grande, a lataria estragou, mas os cinco garotos sobreviveram. O carro da polícia continuava se aproximando.
- Deu cana pra nóis!

***

Dentro da viatura estavam Humberto e Freitas. Escutavam uma música eletrôncia da rádio quando o carro dos garotos bateu. Eles sabiam as suas obrigações: estacionar ao lado do acidente, descer do carro, verificar se eram ladrões e depois ajudar. A primeira parte eles até fizeram.
- São adolescentes. - havia um descontentamento na voz do policial.
- Vamo embora, tem coisa melhor por aí. Eles se viram.
Os policiais Freitas e Humberto não gostavam de trabalhar a noite, muito menos de prender pirralho.

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