1.7.08

em outras fronteiras.

A estrada de pouco asfalto e muita terra, levantava uma alta nuvem de poeira para cada carro de passava, fosse ele grande ou pequeno, novo ou velho. Assim aconteceu por horas, até um Monza vermelho parar com um dos pneus furado. O motorista desceu xingando todas as gerações possíveis do automóvel, uma mulher tentou consolá-lo com um abraço, duas crianças gritavam incessantemente no banco traseiro.
Ali perto, sentado no acostamento, apoiado nas malas, Juan observava a cena. Ria muito por dentro, porém mantinha uma fisionomia sem-graça por fora. Apesar do desespero do casal, ele nem fez menção de levantar-se ou de ir ajudar. Apenas observava a cena, acompanhado de seu chapéu de palha e capim na boca.
Desesperada, a moça olhou para todos os lados e encontrou apenas sol, cana e, possivelmente, milho, nada havia naquela região. Avistou Juan. Fitou-o. Fitou-a. Uma gota de suor escorria pela testa dela, limpou-a com um dos dedos sujos. Uma mosca orbitava pela cabeça dele, matou-a com um tapa (que acertou seu rosto também). Olharam-se por segundos longos e angustiantes. O sol queimava a cabeça nua do homem metralhando palavrões.
Uma das crianças anunciou sede. "Quero água, mamãe! Quero água!". Os gemidos mal chegaram aos ouvidos maternos, afinal sua cabeça estava inteira voltada para aquele rapaz. "Quero água, mamãe! Eu quero!", agora elas vazaram o consciente da mãe.
- Não tenho água, pede pro seu vô que não pára de falar coisas feias! - gritou.
"Vô, eu quero água!", disse uma dela. "É, Vô, a gente 'tá com sede!", completou a outra, mas ele não deu ouvidos a nenhuma delas, exeto aos milhares e milhares de xingamentos que jorravam na sua mente a cada milésimo de segundo.
A moça continuava com os olhos fixos em Juan e ele fazia o mesmo. Por falta de idéia ou saída melhor, ela correu em sua direção. Não, não correu - isso quebraria totalmente o drama da cena, por isso ela foi andando com passos longos, grandes e decididos. Seus olhos meio fechados e nervosos ainda estavam fixos nele.
- Você fala português?
- Yo sólo hablo español.
Elizeth percebeu quão difícil seria comunicar-se: sabia muito pouco de espanhol, por mais que acabasse de cruzar a fronteira para a Argentina.
- Por favor... usted conoce...
Salivou procurando as próximas palavras e demorou algum tempo até achá-las.
- ¿Cualquier... mecánico... de aquí?
- ¿Mecánico?
- Sí!
- Yo soy mecánico!
- ¿De verdad?
- Sí!
- ¿Usted podría ayudarnos?
- Yo no trabajo el sábado, perdón.

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