30.6.08

amélie poulain.

e com um último
suspiro
(nos olhos
e entre os dentes)
encaixou a tampa.

enfim.

a caixa de pandora
estava lacrada
mais uma vez.

quem dera,
para sempre.

29.6.08

inverno de 1963.

Dezembro, 1963.
Londres parece
um deserto alvo.

os flocos de neve,
voando pelo ar
denso dessa
noite e iluminados
pelos postes de luz,
parecem ínfimos
cometas pousando
sobre o Tâmisa
(congelado e só,
como os garotos
dos bairros pobres,
brincando de fazer
anjos na neve).

eu, que nunca gostei
de invernos, não saio
de casa, mas observo,
da minha janela turva,
as crianças correndo.

elas riem.

e eu, velho, lembro da
infância e sinto paz.

uma paz que só é
encontrada no fundo
das xícaras de chá
com leite e no silêncio
das lembranças antigas.

28.6.08

seu gosto.

enquanto o seu beijo
tiver gosto de paixão,
guarde-o na boca.

dê-me apenas o que
tem cheiro de saudade
e saberei o tamanho
do seu amor por mim.

27.6.08

ínfimo.

gosto
de antíteses
e poemas
extremamente
pequenos.

assim
como
gosto
de dar
banho
no meu
gato.

26.6.08

se você quiser.

Eu volto numa noite estrelada
pra gente dividir o cometa Harley.
Se você quiser, é claro.

Eu volto numa manhã de sol
para contar como vão as coisas.
Se você quiser, é claro.

Eu volto numa tarde de outono
pra pisar umas folhas velhas.
Se você quiser, é claro.

Mas se você não quiser,
eu posso não voltar.
E lhe deixo com todas as estações,
mas sem nenhum amor.

Basta querer.

25.6.08

matinê.

quando tudo isso acabar,
ainda haverá sol no céu
e tempo para pegar a
última sessão da matinê.

mas antes,
tudo isso precisa acabar.
do jeito certo, é claro:

cheio de reticências
(...)
e poesia.

como nos filmes estrangeiros,
de mocinhas, bandidos e finais
- felizes, quem sabe.

está na hora:
começaram os créditos.

24.6.08

mosaico.

o brilho das estrelas reflete
no superfície transparente
do vidro da janela:

forma e desforma mosaicos
de luzes distantes e cores
sóbrias, cinzas e chuvosas.

mas não chove.
é uma noite bonita.
há um bom poema na mesa.
uma idéia banal na cabeça.
e um café frio dentro da boca.

engulo o café. a idéia. o poema.
engulo a noite. a janela. as cores.
engulo tudo que preencha esse
vazio humano no meio do peito.

23.6.08

rasgado na pele.

me faltam unhas e
sobram dedos:
todos eles ainda inteiros.

unhas pela metade,
cortadas à deriva de
meus dentes cerrados.

uma marca impressa
e rasgada na carne de
que ainda faz falta.

qualquer coisa faz falta
e me deixa ancioso com
a sua possivel volta
num dia de verão.

rôo mais uma.
e outra. e outra.

tudo que mais quero
é trocar o sem-sabor
das unhas velhas e
conhecidas pelo regresso.

não importa de quem,
do que ou por que.
desde que regresse e
me encha a boca de
sentimentos,


eu aceito.

22.6.08

caminho das pedras.

preciso aprender o caminho de volta pra casa,
encontrar as pedras que marquei.
preciso aprender o caminho das pedras,
encontrar as pistas que deixei.

e até onde eu for, espero que você me veja.
e até onde eu for, espero que não seja

noite entre nós.

preciso entender a lógica do mundo,
o não-porquê das coisas.
ficar cara-a-cara com a verdade,
por um minuto, um segundo só
e perguntar:

se estamos cegos.
o que é certo.
o que há de errado para nós.

preciso aprender o caminho de volta.

pra você.

21.6.08

leis da física.

amor doado
=
amor recebido.

pena que em toda
troca de energia,
parte dela nunca
chega ao destinatário.

20.6.08

terráqueos? - parte final.

[ler parte quatro].

A sigla NASA, para os Treptozitóides, significa "Nüastw Awtz Soliberum Aytrutza" - dessa vez sinto-me na obrigação de traduzí-la para vocês: "Favor Deixar a Esposa na Caixa". Antes que seres femininos, de todas as partes possíveis, se revoltem contra mim, permita-me explicar: no planeta Treptozito há uma fábrica para solteirões de meia-idade, a qual projeta e cria esposas-andróide perfeitas para cada caso, porém, para recarregá-las, favor NASA.
Depois de toda essa explicação, vamos ao que interessa. Tirando os historiadores de Subeta-19 e os terráqueos, nenhum outro ser deve saber que NASA é, também, uma sigla para National Aeronautics and Space Administration, uma agência do Governo dos EUA - país da Terra -, criada em 29 de julho de 1958, responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial. Foi a mesma que mandou a espaçonave para Klaptozioôn, num projeto coordenado pelo astrônomo Henry F. S. Terry e por uma vasta equipe de técnicos e astronautas.
Desde que enviaram-na para 2003-UB313, há três anos, trinta e dois dias e vinte e três horas, a expectativa para desvendar o tal planeta é gigantesca. Milhares de contas e previsões já foram feitas e, na sua maioria, não deram em nada: pouco se aprendeu sobre a nova descoberta. Na verdade, não obtiveram nenhuma informação relevante e nova. Chegamos a parte, imagino eu, esperada por vocês: o apontador.
Geralmente, essas milhares de contas e previsões eram feitas em cima de uma mesa redonda, de vidro, situada no meio da sala de controle mais importante da NASA, por um matemático-físico-engenheiro totalmente excêntrico, Oswald Sompyà, o qual arrumava sistematicamente seu local de trabalho, todos os dias de manhã - uma lapiseira 0,7mm e uma caneta azul esferográfica do lado direito, no centro as folhas pautadas para cálculos e, do lado esquerdo, a borracha verde e um apontador elétrico.
Todos os dias, pouco depois de limparem a sala, Oswald chegava com sua pastinha de couro preto, trocava a borracha, jogava fora toda a sujeira da reservatório do apontador e, por intermédio de uma extensão, ligava-o no painel de força centrar. Cronometrados quatro minutos depois, os primeiros astronautas começavam a chegar.
Porém, nessa manhã, seu carro resolveu pifar, o táxi atrasou, havia congestionamento (por causa de um acidente) e ele chegou vinte minutos atrasado ao trabalho. Desnorteado pela seqüência de acontecimentos, Sompyà esqueceu de ligar o apontador. Ele estava tão desnorteado que, apenas treze minutos antes do tão esperado encontro entre a nave espacial e a o órbita do novo planeta, ele pôde perceber os rituais não realizados. Para muitos, isso não teria importância, afinal a equipe inteira estava amassada nessa mesma sala, fazendo a contagem regressiva.
- Doze minutos! - Henry F. S. Terry gritou animado.
Mas, para Oswald, ver aquela tomada desligada começava a deixar-lhe apreensivo e, de um segundo para outro, passou a desejar ver a nave explodir, caso não ligasse aquele plug. Tentou manter a calma, respirou fundo, fechou os olhos, os punhos, os lábios, cerrou os dentes, mas nada fez seu corpo aquietar-se.
Vários e vários e vários quilômetros dali, num planeta roxo em quase-extinção, Yülitz Gagarin preparava psicológicamente todos os conterrâneos para o fim próximo. Uns klaptozionios enchiam os tanques da "Fantástica Máquina da Implosão Total" com combustível atozônico. Famílias ceiavam a última refeição, jovens solteiros buscavam qualquer menina para namorar e uns velhos jogavam a derradeira partida de bötzslhe (ou bocha, para os terráqueos).
- Retzelis minutos para o encontro! - Yülitz Gagarin gritou, apenas.
- Três minutos para o encontro! - Henry F. S. Terry gritou animado.
Oswald não conseguiu se conter e, com a fúria de uma dúzia de touros artrídizianos, correu, esbarrando e desviando de todos outros, em direção ao Painel de Força Central. Mais furioso ficou, ao ver, no lugar onde deveria estar conectada a sua tomada, uma outra - totalmente desconhecida.
- Quarenta segundos para o encontro! Contagem regressiva! - Henry F. S. Terry gritou animado.
- Trewqa segundos para o encontro. Contagem regressiva. - Yülitz Gagarin gritou, apenas.
Num ato totalmente insano, Sompyà desligou todas as chaves elétricas e desconectou tomada por tomada até deixar o painel nu. Logo, brotaram pessoas afim de pará-lo e tentar concertar o seu erro.
- Não! Não pode ser! - Henry F. S. Terry gritou angustiado.
- Adeus. - Yülitz Gagarin sussurou para si mesmo, no exato momento em que seu planeta desapareceu, como mágica. Havia chegado o fim.
Poucos segundos depois, os computadores da NASA foram religados, mas, para infelicidade geral, não viram mais nada: nem planeta, nem descoberta, nem perspectativas futuras. A nave espacial continuava voando rumo o infinito.

Existe uma teoria muito antiga num lugar bem distante do Sistema Solar, feita por um metafísico meio biruta, que diz: "Se um planeta implodir-se num ato heróico e belo, a fim de salvar toda a sua população de uma crise, então ele resurgirá numa galáxia bem mais distante que essa. Sem nenhum dano, sem nenhum arranhão", pena que ninguém sabe se é verdade.

fim.

19.6.08

terráqueos - parte quatro.

[ler parte três].

Um apontador, esse foi a grande - ou pequena - salvação de Klaptozioôn. Pronto, está (quase) dito o fim da história, se quiser fechar essa página, partir para outros textos, lugares e vizinhanças, eu deixo. Só não diga que eu não avisei: a partir daqui está tudo decifrado. Sim, está tudo decifrado por causa de um mísero apontador de lápis. Dessa vez, eu não estou falando de alguma arma atozônica, mas desse utencílio terráqueo de fazer ponta nos lápis. Veja dentro de sua gaveta se você não possui um exemplar, não importa a cor, o tamanho, o cheiro, o gosto, foi um parecido que salvou o Universo inteiro de um grande colapso.

A nave terráquea ia em direção do planeta recém-descoberto com uma velocidade excessivamente alta para os seus padrões, mas excessivamente baixa para qualquer nave meia-boca de qualquer outro planeta meia-boca, o qual soubesse alçar a velocidade da luz, ou seja, todos os outros tirando a Terra e uns planetóides.
Fazendo os devidos cálculos, até chegar ao 2003-UB313 seriam necessários três anos e trinta e três dias humanos ou, na contagem de dias klaptoziônico, übertid anos e keleft dias. Nos dois casos, tempo suficiente para algum klaptozionio matutar uma forma de impedir o tão esperado encontro entre o antiquado robô terráqueo e a civilização extraterrestre. Claro, um tal Yülitz Gagarin descobriu uma forma heróica e bela de nunca serem descobertos: implodir o planeta com todos os seus moradores. No começo, ninguém aceitou a idéia um tanto quanto irracional, mas depois que Yülitz discursou dizendo que era melhor desaparecer como uma raça brilhante à se tornar alvo de despreso universal, a avassaladora maioria dos seu conterrâneos o apoiou e, num multirão, ajudaram-o a construir a "Fantástica Máquina da Implosão Total", a qual ditaria o fim de uma existência sem-graça dos fazedores de tortas de doce de Ypegife.
- Amigos, daqui há dois meses uma nave terráquea brega colidira com nossa órbita - discursava Mr. Gagarin na inauguração da "Fantástica Máquina da Implosão Total" para todos os habitantes de Klaptozioôn -, mas nesse exato momento, sem que eles estivessem esperando, uma implosão ultra-sônica fará nosso planeta desaparecer como mágica e, todas as mãos terráqueas, prontas para aplaudir a aterrissagem, vão guardar-se no bolso aflitas pelo sumisso do, por lá conhecido, 2003-UB313. Viva a sabotagem à Terra!
- Viva! - bradaram as vozes enlouquecidas dos espectadores.

Mas lembre-se: havia um apontador de lápis em cima da mesa e um outro destino para o planeta Klaptozioôn.

[ler a última parte].

18.6.08

terráqueos? - parte três.

[ler parte dois].

Henry F. S. Terry nunca foi o mais querido da turma, nem o mais bonito, porém sempre foi o mais inteligente - daqueles petulantes que adoram contestar o professor no finzinho da aula. Mesmo quem não o conhecia só de vê-lo podia chutar que era o maior nerd da escola: calças social, cabelo despenteado, meias erradas, all star gasto, cheiro de falta de banho, óculos redondos e, para completar, era ruivo. Apesar de tudo, ele não era um coitado, muito menos um pobre-coitado, para falar a verdade, se sentia muito melhor e mais importante que todos aqueles garotos vestindo grifes e jogando futebol americano.
Realmente, depois de dez anos, Henry é o maior astrólogo do continente, enquanto seus colegas de escola acabaram imersos em pilhas de papel, trabalhando na empresa de seus pais. Irônico, para alguns, justo, para outros, todavia os Vegeveggetis diriam: "Txi yürowm ëloem traosn kïlowdi" - eu sei, eu também me emociono com essa frase.
Ontem mesmo, um antigo colega de classe do astronomo Terry ficou de queixo caído ao ler num famoso portal de notícias:
Gênio da astronomia
Henry F. S. Terry fotografa o nascimento de um novo planeta.
Pena que os klaptozionios não ficaram tão felizes ao saber que um terráqueo, sem importância alguma tanto para a galáxia quanto para o Universo, havia tirado fotos - e com alta resolução - da desastrosa explosão de sua cápsula de invisibilidade. Não demorou para a notícia correr todos os planetas e, de uma hora para outra, Klaptozioôn virou a grande piada de todos os outros povos e piadas, como "Yts lëirov opôat astrubs mundünd" tornaram-se comuns nas festas de família, nas mesas de bar, no recreio das escola, na sala dos professores e até nos parlamentos.
O pior de tudo foi quando uma nave terráquea cruzou o espaço, afim de instalar, no tal 'novo planeta', uma sonda. Foi um grande choque para todos, por dois grandes motivos:

1) Um possível ataque terráqueo com armas de oxigênio
2) Será que os klaptozionios revelariam a existência dos outros planetas?

A bolsa trovteriana caiu 2% naquela tarde e inflação artrezulia subiu 10%. Começava a grande crise da Via Láctea.

[ler parte quatro].

17.6.08

terráquios? - parte dois.

[ler parte um].

Klaptozioôn não era conhecido por seu exértico, nem pelo seu governo (ótimo, por sinal), muito menos pelos seus oceanos de águas verdes (uma cor muito feia, por sinal). Nada disso era tão bom que não existissem melhores, porém as tortas de doce de Ypegife klaptoziônica eram as melhores no Universo, por duas razões:
1) Só havia essa fruta nesse planeta.
2) Só os klaptozianos sabiam como descascá-la.

Uma explicação rápida, a qual pode ser pulada sem que a história se altere. Primeiro, caso ainda não saiba, Ypegife é uma fruta azul, do tamanho de um punho fechado, cheia de espinhos e sua casca é tão resistente quanto concreto. Como em Klaptozioôn só existem dois tipos de fruta (essa e o morangóide, parecido com o morango terráquio), foram gastos muito dinheiro em pesquisas agrículas para conseguir fender a resistente casca da Ypegife.
Conseguiram, depois de muitos milhões de ziondólares, rasgá-la e, para decepção geral, encontraram lá dentro uma polpa viscosa meio amarela. Depois de várias discussões, decidiram quem seria o primeiro a experimentar a descoberta e, dessa vez para alegria geral, a cobaia adorou o sabor, a textura em contato com a língua, o cheiro. Era a fruta dos deuses!
Todo turista que experimentava a Ypegife queria levar um pouco para sua casa, mas como a polpa (sem a casca) apodrecia muito rápido e a fruta (com a casca) era inabrível, decidiram criar um doce. Tchanã, nasceu a Torta de Doce de Ypegife Klaptoziônica.

Voltemos a história. O que aconteceu foi que, após o isolamento dos planetas (devido as carapaças de invisibilidade) o PIB klaptoziônico caiu muito, pois não havia mais jeito de exportar o quitute tão amado. Entre as diversas idéias para aumentar o lucro do planeta, germinou uma que pareceu a mais sensata e científica de todas: secretar, ao redor das tortas, uma carapaça de invisibilidade e arremessá-las para fora do planeta, por intermédio de um canhão atozônico até seus compradores. Não pense: "Mas elas vão apodrecer no caminho", pois não irão - desenvolveram um método de mandá-las em gelo eterno para se conservar até colidirem com o destinatário.
Demoraram muitos anos até desenvolverem as tais tecnologias e, numa manhã clara do mês Dierryt, puseram o plano em prática e foi um tremendo fracasso, talvez o maior fracasso de todos os tempos: quando a primeira torta encostou na carapaça protetora de Klaptozioôn houve uma tremenda explosão - belíssima, similar as explosões solares, porém com menos fogo e mais brilho.

Num país desenvolvido da Terra, um astrólogo trancado em seu laboratório pôde ver a explosão e, aos poucos, viu surgir um planeta, o qual era grande, tremendamente roxo e cheio de fumaça da recém-explosão. Deu pulos de alegria pela descoberta.
"Talvez o Nobel seja meu esse ano" pensou quando seu coração chegou a boca.

[ler parte três].

16.6.08

terráqueos? - parte um.

Existe uma lei muito antiga num lugar bem distante daqui que diz: "Enquanto os terráqueos se acharem os donos de todo o universo, nenhum Neutrônion pode fazer contato (de qualquer forma) com eles".

Obviamente, os Austrugdes, os grandes invejosos da galáxia, copiaram essa famosa regra neutrôniana e, num piscar de olhos (não importa quantos você tenha), todos os planetas instituíram em seu regimento a proibição. Os governantes dos planetas que compartilhavam o Sistema Solar com a Terra, com tanto medo de serem descobertos pela mesma, mandaram construir imensos campos de invisibilidade - mantidos por energia solar e energia atozônica (nanoexplosões de ozônio), ao redor de seus planetas.
Apenas sete planetas não possuiam ziondólares suficientes para gastar com tamanha obra: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão (o planeta-mascote). Alguns historiadores do planeta Subeta 19, formularam a hipótese de que, quando o humano alcançou o espaço, todos os mercurinos, venuzianos, marciano, jupterianos, saturianos, urânios, neturianos e plutoôninos se esconderam em grandes dormitórios subterrâneos, mas por fatalidades acabaram morrendo.

Acho de bom tamanho explicar por que os terráqueos são tão rejeitados. Para começar, fazem guerras. Para muitos esse pode ser o maior motivo, para nossa história é o menor, já que os outros povos também fazem batalhas, com um mínimo detalhe: respeitam as ordens da Ronda Galáctica que manda os combates acontecerem fora das órbitas planetárias. Além de que conflitos entre Globertzes e Yuozos é comum, porém grupos de um mesmo planeta jamais travaram e poderiam travar uma guerra - essa é outra lei da Ronda Galáctica.
Todavia, os terráqueos não seguiram essas ordens e, assim que começaram as primeiras guerras, várias naves vieram ver o que acontecia na Terra, mas ao entrar em órbita, todas as espaçonaves pegaram fogo. Houve grande impacto na mídia tamanho acontecimento. Vários cientistas se empenharam em desvendar qual era essa arma secreta terráquea e, por fim, descobriram: oxigênio. Aconteceu um colapso nas bancadas científicas: O que é esse gás? Como produz? De onde vem? De que forma um povo tão primitivo (o qual achava que o círculo era forma mais complexa que existia!) podia ter tamanha tecnologia?
Temendo um ataque terráquio com sua arma-secreta, vários engenheiros de diversos planetas criaram freqüências resistentes a oxigênio, afim de mandar mensagens de paz aos humanos. O plano fracassou, pois, mesmo após dois mil anos de insistência em fazer contato, não obtiveram nenhuma resposta dos anti-sociaveis habitantes da Grande Esfera Azul. Todavia, o que nenhum Vogon (os seres mais inteligentes do Universo) sabia era que, somente muitos anos depois de pararem de tentar se comunicar com os terráquios, eles descobririam as ondas de rádio.
De qualquer jeito, não havia mais como reverter a situação: por medo do oxigênio e por birra dos seres-humanos, todas as outras formas de vida decidiram se isolar do tal planeta. Foi então que todas as tecnologias para deixar os planetas invisíveis aos olhos humanos foram criadas.
Como nenhum inventor conseguiu criar naves totalmente invisíveis, depois que a Terra passou a observar o Espaço, a liberdade se reduziu ao máximo: se tornaram raras as viagens de um planeta para outro e guerras foram proibidas - para não levantar suspeitas de vida extraterrestre. Os mundos estavam, praticamente isoladas, a única comunicação interplanetária eram os teléfragos-mentais, os quais faziam ligações telefônicas via transição de pensamento.

Até o ano de dois mil e oito (no calendário da Terra) ou ano 4000000002 (no calendário klaptoziônico), tudo funcionava em perfeita harmonia, mas, por um colapso energético, a carapaça de invisibilidade de Klaptozioôn explodiu e, por tremendo azar, pôde ser visto por astrólogos terráqueos, os quais - se achando, mais uma vez, os donos do universo, deram para ele o nome de 2003-UB313.

[ler parte dois].

15.6.08

antes de ir dormir.

as luzes no horizonte,
parecem estrelas:
cheias de graça brincando
de fazer cócegas no céu.

mas ninguém ri, quero dizer,
eu não escuto nenhum riso.
além do grunhido do meu gato,
do berro do papagaio e a
estranha voz da vizinha.

tomo outro gole do espumante
chocolate-quente que esfria-se
em cima da mesa cheia de papéis.

sinto o meu avesso aquecido,
diferente dos meus pés cheios
de meias de lã e minhas mãos
cobertas de luvas.

de repente.
vejo umas luzes se apagarem.
sinto o sopro morno do gato dormindo,
a paz do papagaio quieto e o silêncio
da vizinha portuguesa.

e sobram somente estrelas,
cheias de graça, brincando
de fazer cócegas no céu.
alguém ri.

eu rio, pra falar a verdade.
balanço a cabeça cheia de dúvidas.
fecho a janela, desejo boa noite ao gato,
ao papagaio, às luzes esquecidas,
à vizinha de voz estridente.

e durmo.
sonho com
estrelas.
e luzes.
e gatos.
e papagaios.

menos com a vizinha.
não gosto da voz dela.
que pena.

14.6.08

outros versos.

e no papel ficaram

i
m
p
r
e
s
s
a
s

palavras que jamais
farão sentido
se forem ditas -

sozinhas.

13.6.08

poréns e portantos.

temo, um dia, descobrir
que toda a minha história

(cheia de poréns e portantos)

caiba inteira dentro de
uma caixa de sapatos

velha, por sinal.

12.6.08

esfinge de concreto.

não importa:
quanto tempo passe,
quanto tempo dure.

sou e sempre serei
o que restou dos sonhos.

11.6.08

folhas em qualquer lugar.

Do lado de fora,
as folhas caem
das árvores.

Aqui dentro,
as folhas caem
das mãos.

direto na lareira.

e queimam
dentro e diante
dos meus olhos
molhados.

10.6.08

queridas teorias.

Dizem que, do outro lado do Universo,
há meteoros maiores que continentes,
viajando em nossa humilde direção.

Comenta-se também que, por sorte
ou azar, irão colidir na face de nosso
planeta azul num dia um pouco frio.

Depois, numa mágica fascinante,
o mundo (tanto material quanto abstrato)
tornar-se-á uma bela esfera de fogo.

O que restar, mesmo que seja poeira,
servirá de combustível às novas estrelas,
geradas nos últimos suspiros terráquios.

No fim, sobrará apenas um espaço vago,
sem lápide ou enterro, apenas lembrado
por solenes explosões do nosso velho sol.

E tudo isso dentro da lógica finita das
teorias humanas, as quais tentam
explicar até o não-porquê das coisas.

9.6.08

onomatopéia.

passou voando entre
nossos rostos quase
colados: zuaaaft.

uma brisa fria, dessas
de inverno, que uivam
na grade: vuaaaft.

e continuou seu curso,
atrapalhando beijos de
despedida: muaaaft.

até trombar de frente
com o poste: pruaaaft.

8.6.08

velho menino novo.

O velho menino, o qual esconde-se dentro de mim, decidiu sorrir mais uma vez. Jorrou d'uns poros meus, formou-se magicamente e pediu, com as bochechas em forte tom róseo, que eu me juntasse às suas brincadeiras. No começo, fiquei bravo, a ponto de achar que meu coração era panela de sopa em brasas, pedi que ficasse quieto e assumisse modos de criança adormecidamente educada - mas ele deu de ombros. Preferiu rir dos meus olhos bravos e saiu correndo o mundo de uma ponta a outra, afim de gastar todo o seu combustível. Para quem não sabe, combustível de criança é líquido proveniente de um mundo fantástico (no qual habitam sonhos e seres perfeitos), por isso não seca, não acaba, mas, pelo contrário, multiplicasse exponencialmente hora-a-hora.
Eu, que há muito tempo carrego décadas nas costas, senti a totalidade de seus pesos quando corri atrás desse pivete da minha própria imaginação. Deixo claro: corri atrás dele afim de capturá-lo e pô-lo de volta em sua estante, no fundo escuro do meu inócuo cérebro. Porém, não consegui nada além de degustar poeira, a qual era levantada das passadas ligeiras do perseguido.
Cansei, um dia, de andar contra-corrente tentando evitar o inevitável: queria voltar a ser jovem. Num colapso triste e lindo, deixe-me atar com cordas de sonho e pendi a cabeça para o lado direito - receoso de ser testemunha de um crime cometido contra mim mesmo. Foi então que aquele velho menino, o qual se escondia em mim, cravou seus pequenos, sujos, graciosos dedos infantis na minha barriga e (com precisão cirúrgica, olhos sádicos, sorriso perverso) fez cócegas. Desmanchei-me em rir, até pedir arrego e jurar em voz alta que nunca mais seria triste.

7.6.08

perto do sofá de três lugares.

azul.

não o mar.
nem o céu.

mas sim aquele quadro
exposto na minha casa,
perto do sofá de três lugares.

meu quadro, quero dizer.
monocromático e belo
para meus olhos pretos
de mulato estrangeiro.

a essência de uma única cor
junto a falta de criatividade
de um pintor inesperiente,
criou uma obra-prima:
mais minha e menos sua.

e dentro dessa moldura tosca,
comprada em loja de velharias
e pintada pela décima nona vez,
cabe, sem cortar as beiradas ou
retalhar a sua forma abstrata,
todo o meu deleite secreto.

azul. sublime. esquecido. meu.

6.6.08

explicações.

Passei só para dizer que as chaves,
postas debaixo do tapete, foram
trocadas por poeira e folhas secas.

Mas as janelas ainda estão abertas.

Obrigado.

5.6.08

giram, giram, giram.

De repente, entre uma e outra inspirada de ar, veio à minha minha mente a vontade de escrever sobre coisas incrivelmente redondas. Não, não há um grande motivo para tamanho desejo, ele veio e, por falta de coragem para suprí-lo por outro, decidi realizá-lo. Concordo que parece loucura e não deixa de sê-la, talvez as melhores idéias sejam essas, as quais aparecem do nada, não vão embora e lhe motivam a pensar.
E eu pensei sobre o assunto por alguns minutos. Primeiro, imaginei só a circunferência, depois a mesma cheia de qualquer coisa, depois a transferi para um plano tridimensional e vi surgir a Terra. Na verdade, poderia ser qualquer outro esfera, mas dizer que surgiu o nosso planeta, dá ao meu pensamento a importância necessária, afinal não é todo mundo que gasta tempo falando sobre coisas, como já foi dito, incrivelmente redondas.
É certo que "incrivelmente" só precede "redondas" pela complexidade desenhar um círculo, por exemplo, digo à mão livre, sem compasso. Pelo menos as pessoas normais não conseguem desenhar algo melhor que uma figura oval um pouco torta. Por isso, desenhar um círculo, foge à perfeição geométrica e passa a ser uma realização pessoal - há a possibilidade de você não se importar com geometria e achar tudo que foi falado agora uma tremenda besteira.
De qualquer forma, inegavelmente, o 'redondo' faz parte do nosso dia-a-dia, seja na roda do carro, seja na forma da maçã, seja na barriga grávida, seja na bola de futebol. Somos facinados por tal forma, somos forçados a aceitá-la como normal, praticamente como uma verdade indubitável - vivemos a mercê do círculo, o qual não tem cantos nem lados. Façamos um comentário a parte, nesse momento: não me venha falar do lado de dentro e do de fora, ainda estamos comentando sobre uma imagem plana.
Pronto, agora vamos à parte prática. Fiquei outro tanto de horas pra pensar qual a relação entre nós, seres bípedes pensantes, e as figuras, como você já deve saber, incrivelmente redondas. Nada a princípio. Nada depois de um tempo. Nada. Nada. Até que veio a luz e, geralmente, quando ela aparece fica tudo tão claro que não dá pra manipulá-la direito. É preciso fechar e abrir os olhos várias vezes até que, atravéz da nova iluminação, possa-se distinguir formatos e lugares. Então, depois de ruminar a idéia uma, duas, dez vezes, vem a conclusão, talvez óbvia demais para o tanto de tempo gasto gerando-a.
Poderia, agora, simplesmente, jogar a resposta nos seus ouvidos, até que ela eclodísse perto dos tímpanos, fazendo doer toda sua mente cansada desse papo, desse texto e de tantas outras coisas amontoadas desse dia. Mediante tal, separarei a respostas com reticências, pontos e vírgulas e você, por favor, leia-a da maneira certa, ou seja, sem ignorar as pausas. Depois dessas instruções, vamos ao que interessa, a resposta.
Nós, seres bípedes pensantes, gostamos tanto... das figuras, vamos adivinhe o que eu vou escrever agora, incrivelmente redondas... pois, é de nossa natureza... querer copiá-las. Nesse trecho, no qual a explicação fica muito complexa para ser didática, temo em informar: chegamos ao fim, diferente das circunferências que giram, giram, giram eternamente.

4.6.08

causo de uma família normal.

Dinei gostava de mármore. Por isso, quando se mudou para a nova casa, mandou trocar todo o piso da escada por exuberantes placas de mármore branco. A pedra, brilhante, fosca e bela - tudo ao mesmo tempo, representava riqueza para ela, talvez uma forma de substituir todo ouro e diamante que nunca possuiu. Pena que não dava para vestí-las ou serví-las à mesa para as visitas, mas ficavam à frente da casa, como tapete às solas sujas.
O tempo escureceu as pedras e presenteou Dinei com uma filha, Bruna, menina de cabelos loiros cacheados, pele clara, bochechas rosadas e gorduchas, podia dizer era bonita, mas não o faço, já que todas as pessoas levam em si a beleza e a feiura, está em nós a capacidade de ver uma ou outra. A rapariga que antes era a miss da cidade, por exemplo, pode vir a ser a velha mais feia e rabugenta do bairro, e nem assim a sua beleza de moça será esquecida. Por isso, não julgo Bruna, deixo que cada par de olhos, que cruzarem os delas, decida entre feia ou bonita. E quer saber? Isso pouco importa para mim, você ou quem quer que seja.
O que tem importância mesmo é vê-la sentada ao pé da escada, no canto, com as mãos enfiadas no meio das pernas e os pés descalços - não suportava sapatos. Toda tarde era possível encontrá-la nesse lugar fisicamente, já que seus olhos vagavam em fantasias ao fitar as mais diversas pessoas que passeavam na calçada. Às vezes, perversa, deseja que senhoras metidas a francesa caíssem, outras horas, enchiasse de compaixão e quase ia se desculpar por pensar o mal dos outros, porém não havia nada que pudesse fazê-la se levantar.
Na verdade, havia somente uma coisa, o cheiro de comida. Logo que começava a escurecer, podia sentir o cheiro de alho fritando e corria para a cozinha e despencava a contar tudo que tinha visto naquele dia à sua mãe. Dinei, com sua gigantes paciência materna, pedia que a menina fosse ter com o pai. A pequena hesitava um pouco, lembrava umas coisas de criança e corria para o colo do papai, o qual a abraçava e, cheio de alegria e cansaço, dizia sempre a mesma coisa:
- Você passou a tarde inteira naquele degrau, menina? Deve ter visto um bocado de coisas, mas antes de contá-las, você precisa de um banho!
- Mas pai, foi tão...
- Não querida, primeiro o banho, depois você me conta suas histórias antes de eu dormir.
É certo que ele dormia antes do fim do primeiro causo e ela enchia-se de risos, beijáva-lhe a bochecha e corria para suas cobertas. A mãe, dona-de-casa tradicional, ainda lavava louças e podia escutar a menina orando e pedindo pelos seus pais, seus amigos, seus vizinhos, seus desconhecidos. Dia sim, dia não, podia perceber que a menina pegava no sono bem antes de chegar ao Amém.
Quando terminava as suas tarefas, Dinei passeava uns segundos pelo escuro de sua casa, saía e ia à escada sozinha. Observava o canto mais claro do último degrau, onde a filha se sentava todas as tardes. O resto da escada permanecia empoeirado e cada vez mais escuro. Todo mármore, toda a riqueza que sonhou um dia, estava atrofiando aos poucos e a deriva do tempo. Caberiam algumas lágrimas aqui, mas ela não chorava, não sei se ficava alegre também, emoções vazam a parte exterior e só podem ser entendidas totalmente quando vista de dentro pra fora.
Para todo caso, gastava alguns bons minutos olhando as pedras e, antes de ir embora, depositava debaixo de seus pés, uma prece, um desejo, um sonho, um pouco de si, esperançosa de poder dormir mais leve.
Partia aliviada para ser quarto, mas antes deixava um beijo colado à testa da filha. Deitava-se e, ao som do coração pulsante, alçava o merecido descanso, enquanto o mármore frio, do lado de fora casa, cravava em si novas lápides.

3.6.08

sei que está aqui.

sinto no embalo do vento,
no coro das ondas,
nas fases da lua,
na fumaça dos carros,
no quente das cobertas,
no som do meu violão.

é um sussuro, algo que
impregina nos meus
ouvidos e não me
deixa aquietar.

soa igual a voz de
alguém conhecido, porém
não reconheço rostos e jeitos
nessa presença invisível.

mas eu sei que ela está aqui e
posso até escutá-la entre
os passos da minha caminhada,
no meio do meu almoço, no fim
das minhas lições, antes de ir.

ir embora, ir dormir, ir viver.

chego a achar que a voz vem de mim,
aqui de dentro, do vão dos sonhos.

acredito que ela nasceu junto ao futuro
e se renova todos os dias, nas horas
esquecidas que passo dormindo.

para mim, não importa sua origem,
sua intensidade, seu combustível.
importa mesmo a sua volta
para me dizer que as esperanças
não morrem durante as madrugadas.

2.6.08

plágio.

faço das suas palavras as minhas.
encho as mãos de um punhado delas
e devoro-as lentamente, saboreando
o quente, frio, salgado, doce sabor
dos seus paradoxos incolores.

cor não é tão importante como
sabor e conteúdo, os quais aguçam
o meu faro animal não-extinto.

e quando sobra somente suco
dentro da minha boca, imundo
a minha caneta de frases feitas
e as solidifico no papel calado:

a sua literatura tímida e esquecida,
toma poder e graça quando posta
junto ao meu nome, escrito às pressas.

1.6.08

preguiça.

- Você está aí? - uma voz conhecida ecoa do lado de fora.
Queria não responder para continuar mergulhado em minhas cobertas, mas não tenho coragem de mentir e me resolvo vivo. Atravesso todo apartamento até deparar-me com a porta.
- Lucas, você está aí? - a voz berra impaciente.
Observo as ranhuras da porta e sua falta de tinta, lembro-me que nunca a pintei - nem ela, nem as paredes, nem o quarto, nem minha vida. Gosto das coisas meio estragadas, cheias de marcas do tempo como prova das histórias que passaram. Ergo uma sobrancelha ao focar a maçaneta cheia de pontos escuros ofuscando seu brilho dourado, faz tempo que não limpo nada nesse velho apartamento herdado.
- Abre a porta.
O novo grito explode dentro dos meus neurônios vagos e lentos: vejo as cores da porta se misturarem lentamente. Achei que iria desmaiar, porém foi somente um susto, uma falha desse meu cérebro congestionado de tantos pensamentos ilógicos.
Dou mais um passo rumo à porta e lembro que estou de pijama. Em outros momentos poderia receber um conhecido, mas estar com esse roupa me lembrou que faz três dias que não tomo banho. Me sinto sujo, talvez mais que isso, sinto um manto de passado em mim.
O chão está frio, caso queira saber, e os meus dedos gorduchos mal relam os pisos, receosos de fazer qualquer barulho que conflite com minha respiração pesada. Falando neles, percebo que um dos assoalhos está solto. Desvio, esbarro na parede e chuto o rodapé. Dói, mas não falo nada, mais por preguiça do que por rouquidão.
- Você não vai abrir?
Ainda recostado à parede, me movimento uma distância que julgo ser um passo. Paro. Fecho os olhos e mergulho num sonho que é meu - talvez não faça sentido para você, logo não irei contá-lo. Mas me alimento dessa ilusão. Antes que pudesse decidir girar a chave na fechadura, escuto passos se distanciando e percebo que a voz foi embora.
Sorrio, não por alegria, mas por força do hábito. Abro os olhos, vejo um bilhete que passou no vão da porta. Peço que se faça vivo e leia seu conteúdo, mas nem ele, nem eu o faço.
Minha barriga ronca, eu ronco e o sono me leva, numa dança quase ensaiada, até a cama. Receio acordar só amanhã de tarde.