15.6.08

antes de ir dormir.

as luzes no horizonte,
parecem estrelas:
cheias de graça brincando
de fazer cócegas no céu.

mas ninguém ri, quero dizer,
eu não escuto nenhum riso.
além do grunhido do meu gato,
do berro do papagaio e a
estranha voz da vizinha.

tomo outro gole do espumante
chocolate-quente que esfria-se
em cima da mesa cheia de papéis.

sinto o meu avesso aquecido,
diferente dos meus pés cheios
de meias de lã e minhas mãos
cobertas de luvas.

de repente.
vejo umas luzes se apagarem.
sinto o sopro morno do gato dormindo,
a paz do papagaio quieto e o silêncio
da vizinha portuguesa.

e sobram somente estrelas,
cheias de graça, brincando
de fazer cócegas no céu.
alguém ri.

eu rio, pra falar a verdade.
balanço a cabeça cheia de dúvidas.
fecho a janela, desejo boa noite ao gato,
ao papagaio, às luzes esquecidas,
à vizinha de voz estridente.

e durmo.
sonho com
estrelas.
e luzes.
e gatos.
e papagaios.

menos com a vizinha.
não gosto da voz dela.
que pena.

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