8.6.08

velho menino novo.

O velho menino, o qual esconde-se dentro de mim, decidiu sorrir mais uma vez. Jorrou d'uns poros meus, formou-se magicamente e pediu, com as bochechas em forte tom róseo, que eu me juntasse às suas brincadeiras. No começo, fiquei bravo, a ponto de achar que meu coração era panela de sopa em brasas, pedi que ficasse quieto e assumisse modos de criança adormecidamente educada - mas ele deu de ombros. Preferiu rir dos meus olhos bravos e saiu correndo o mundo de uma ponta a outra, afim de gastar todo o seu combustível. Para quem não sabe, combustível de criança é líquido proveniente de um mundo fantástico (no qual habitam sonhos e seres perfeitos), por isso não seca, não acaba, mas, pelo contrário, multiplicasse exponencialmente hora-a-hora.
Eu, que há muito tempo carrego décadas nas costas, senti a totalidade de seus pesos quando corri atrás desse pivete da minha própria imaginação. Deixo claro: corri atrás dele afim de capturá-lo e pô-lo de volta em sua estante, no fundo escuro do meu inócuo cérebro. Porém, não consegui nada além de degustar poeira, a qual era levantada das passadas ligeiras do perseguido.
Cansei, um dia, de andar contra-corrente tentando evitar o inevitável: queria voltar a ser jovem. Num colapso triste e lindo, deixe-me atar com cordas de sonho e pendi a cabeça para o lado direito - receoso de ser testemunha de um crime cometido contra mim mesmo. Foi então que aquele velho menino, o qual se escondia em mim, cravou seus pequenos, sujos, graciosos dedos infantis na minha barriga e (com precisão cirúrgica, olhos sádicos, sorriso perverso) fez cócegas. Desmanchei-me em rir, até pedir arrego e jurar em voz alta que nunca mais seria triste.

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