Estou em um quarto pequeno de hotel barato, desses a beira da rodoviária e que parece perfeito para um eu-lírico ferido. Escrevo, como se nunca tivesse visto papel e caneta antes. Na verdade, escrevo um pouco e apago outro tanto, é uma história de amor e eu já perdi a prática: faz tempo que não vivo uma. Ainda sei o básico: Há o mocinho e a mocinha que se amam, mas o amor que dá certo não vende e não é bonito. Amor de verdade é aquele que passa por turbulências antes dos apaixonados viverem felizes para sempre, no estilo Romeu e Julieta - e, por incrível que não pareça, nosso amor foi assim.
Escrevo as dez coisas que ficaram por falar antes de você ir embora. Poderia listá-las, só que não pareceria romântico. Pensei em mandá-las uma a uma em cartas para você, mas seria perda de tempo: ao ler o remetente, logo jogaria todas elas na lareira. Mas escrevo-as para mim mesmo, como forma de consolo, às vezes imagino que você está ao meu lado lendo - não sei se chora, ainda não pensei como você reagiria, mas você me ama e me abraça forte.
Começo a escrever, esbarro sem-querer no café que está na mesa e caem algumas gotas no papel - parecem lágrimas escuras e antigas. Lembro-me da vez que, aos prantos, juramos amor eterno e dou risada. Rio da minha ignorância de achar que algum sentimento duraria para sempre, existe apenas uma coisa imortal: palavras. Quer dizer, elas definham também - a gente se acustuma com sua presença e elas vão embora, mas demora muito tempo para isso acontecer.
Espere, então para que eu estou escrevendo isso? Para eternizar essa minha covardia em te dizer poucas e boas? Pode até ser que me sinta melhor depois de pô-las no papel, porém continuarei sozinho. Solidão não passa com frases perfeitas, novos amores e noites bem dormidas.
Solidão é estado de espírito e não tem cura.
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