Somos humanos, é fato.
Destes feitos em fábrica,
cheios de marcas
e pobres de essência.
Mecânicos até no que
julgamos natural:
articulações de aço
e fibras de carbono.
Seríamos assim pra sempre:
iguais, frios e sozinhos,
se não ocorresse você:
máquina-mulher.
Corria por seu corpo
o mais nobre sangue:
se antes era azul,
escureceu ao preto.
Guardava em seu átrio
os sonhos do mundo,
desejos escondidos
amaldiçoados pelo tempo.
Enfim, se apaixonou,
contrariando a lógica velha:
amor não é necessário,
ninguém mais ama.
Foi chamada de louca
pelos aristocratas e
definhou sozinha, no escuro:
ela e o maior amor do mundo.
Não tinha como fugir:
cabos a mantinham presa
ao sistema - com quem nunca falou,
ceiou ou bebeu um copo de diesel.
Morreu é certo.
Dizem que sonhou antes
com o mar, o céu e a lua.
Mas ela nunca tinha visto a lua.
No fundo, era difícil de entender,
pois ela não amava o outro.
Ela amava a si própria
e o encanto de poder sonhar.
à quem quiser ser máquina-dos-sonhos.
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