14.4.08

o homem de terno - parte um.

É importante dizer antes de tudo: estava sóbrio. Não eu, nem você, mas ele - esse ele que margeia a história toda. Não o conhecia de rosto, apenas de nome, mas morava no mesmo bairro que eu. O quintal de seu casarão dividia muro com os fundos do meu sobrado. Era rico. Dizem que herdou tudo da herança de uma avó falecida, outros preferem a versão que é dinheiro de jogo, porém, de qualquer forma, vivia muito melhor que todos nós - vizinhos dele. Raramente punha os pés fora de sua casa, tinha mordomos que iam à quitanda, traziam o leite, compravam remédios e alugavam atores - esses últimos serviam somente para alegrar o tal senhor, como bobos da corte em um castelo medieval.
Tinha filhos e era viuvo (a esposa faleceu no parto do segundo filho). Dizem uns fofoqueiros que ele amava sua mulher o suficiente - nem ao ponto de se fazer de escravo, nem ao ponto de tratá-la como lixo. Outro boato diz sobre a sogra: nunca ousou entrar na casa do genro, ou por medo, receio e precaução, ou por falta de oportunidade (ele não estimava muita a presença dela). Seus pais faleceram há algum tempo, era filho único e não tinha tios.
Quase me esqueço de dizer que, às quintas-feiras, uma criada ia até o tintureiro retocar os ternos do patrão. O motivo era sempre o mesmo: toda sexta-feira ele dava uma festa, fosse baile de máscaras ou um saral, os convidados sempre pertenciam a mais nobre elite de Campinas.
Para que fique mais fácil, aqui vão-se os nomes: Joaquim, o 'ele' dessa narrativa e Stefano, eu que voz falo.
Lembre-se: estava bem vestido.
A história fica para outro dia, quando a pena estiver a mão, o tempo não estiver curto e o papel não estiver tão caro.

[leia a parte dois]