27.4.08

plano perfeito - parte um.

Chorava debaixo da chuva - esta que molhava seu cabelo, sua roupa e lavava seus pés sujos de terra. Estava certa de que não havia volta: o fim chegara de mansinho, aos poucos, sem fazer barulho, enquanto estava tudo escuro, mas chegara e nada mudaria isso.
Levantou-se do chão, tentando achar coragem e o caminho de volta: nenhum vestígio, nenhuma alma-viva, nenhuma expectativa. Saiu correndo: mato. nada. mato. nada - não necessariamente nessa ordem. Perdeu o fôlego e a coragem, parou, pensou - sentiu lá dentro do coração que nunca conseguiria chegar em casa.
Pingo a pingo a chuva ia passando e a penumbra da noite tomava conta de tudo ao seu redor.
Deitou, a adrenalina estava abaixando e tudo passou a fazer sentido. Percebeu quão idiota havia sido ao se entregar inteiramente àquela idéia maluca. "Idiota, idiota, como você pôde ser tão cega?", se culpou várias vezes até entender que brigar consigo não levaria a lugar nenhum. Limpou uma lágrima que teimou em escapar do olho direito - estava decidida que não iria mais chorar (não enquanto estivesse perdida).
Cravou os dedos na terra molhada que estava fria e confortavelmente molhada. Começou cavar vagarosamente - a idéia não era criar um poço, e sim fazer daquilo uma terapia. Estava frio e seu corpo encharcado começava a tremer. Levou as pernas até perto do peito e as abraçou, numa tentativa de se aquecer (no fundo, sentiu-se mais afagada do que quente). Fechou os olhos e tentou imaginar um lugar bonito e uma cama bem aconchegante. Por fim, dormiu com os olhos bem cerrados de medo dos momentos-fantasmas que poderiam vir para atormentá-la.
Ainda a observavam de longe. Estavam apreensivos que mal respiravam, o peso da culpa começava a fazer efeito sobre as fracas mentes dos dois rapazes. Não tinha como voltar atrás e pedir perdão - estava feito, restava esperar o fim (próximo, por sinal).
- Podemos ir, ela apagou!
- Conseguimos!
Antes de ligar o carro, respiraram fundo e aliviados. Partiram rapidamente e logo sumiram na escuridão.

[ler parte dois]

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