18.4.08

o homem de terno - parte cinco.

[leia a parte um, a parte dois, a parte três, a parte quatro]

Gritei, isso é fato dito, porém não importa agora o porquê. Quero ir direto para o final, apesar de toda a graça da história estar no meio, mas entenda que é importante deixar o melhor por último. E lembre-se: me olhava fixamente.

Confesso que nos primeiros dias após o causo passei um pouco de medo: dormi duas noites na casa dos meus pais (claro que não contei o motivo certo, falei que estava ali por saudade), mas, ao perceber que mais nada ia acontecer, passei a aceitar a hipótese de que tudo não passara de um sonho. Arranque essa página, jogue tudo na fogueira e me esqueça de tanto ódio, mas eu preciso adimitir que o fim desse meu causo é tão medíocre quanto tantos outros: foi sonho. Sim! Foi sonho e eu me convenci disso.
Passaram uma ou duas semanas de sossego e eu pude voltar a dormir bem, sair e voltar a hora que bem queria sem me preocupar com nada. E foi numa sexta-feira, enquando voltava a pé de uma reunião na casa de um amigo vizinho, que minha felicidade de areia foi ao chão mais uma vez.
Estava frio o bastante para congelar minhas mãos que se abrigavam nas luvas. Eu olhava para baixo mirando numa pedrinha que chutava durante toda a rua - já era a rua de casa. De repente escutei um assobio estranho, mórbido e desafinado. Parei, tirei os olhos da calçada e senti meu corpo inteiro bambear.
Era ele. Seu semblante transtornado me fez querer correr, mas não sai do lugar. Dessa vez não estava bem vestido, parecia vestir retalhos de um terno antigo.
- Você não sonhou. Você não sonhou. Foi tudo real. - disse essas palavras e vagarosamente foi embora.
Fugi o mais rápido que pude.
Não entrei em casa, nunca mais entrei naquela casa. Troquei todo conforto daquele sobrado por um apartamento, mas, por infelicidade, ainda passo pela casa do Joaquim pra ir e voltar do trabalho - só que evito olhar e até pensar naquele vitral.
Não dá pra esquecer essa história: depois daquela noite, Campinas se tornou um fantasma na minha vida.
Só mais uma coisa: os filhos dele não estavam dormindo.

[leia a última parte]

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