Eu estava deitado no divã e havia um gordo senhor com cara de alemão na minha frente, que estava sentado em uma poltrona confortável de couro - melhor que o velho sofá de camurça no qual eu me encontrava. Ele me perguntava e eu fazia o meu máximo para parecer confiante nas minhas respostas. Numa prancheta cor de carvalho, ele fingia anotar cada uma das minhas palavras - no fundo, imagino que ele estava desenhando e nem prestava atenção nas coisas que eu falava.
Eu sempre imagino, esse é o problema. Se eu mentisse menos, ou não viajasse tanto nas histórias que invento, a escola nunca teria me mandado para o psicólogo. Qual o problema de acrescentar uns detalhes mais emocionantes nos fatos do meu dia-a-dia? Por quê um dinossauro não pode invadir a minha casa e ter comido minha lição de matemática? "Um dinossauro? Dessa vez eu fora longe demais".
Uma vez, pouco depois de começo das aulas da primeira série, descobri que a mãe de uma amiga minha estava grávida! Ah, não demorei pra dizer em alto e bom som na classe:
- Professora, minha mãe também está grávida e serão gêmeos!
(Eu tenho uma fissúra por gêmeos, por causa do meu signo).
Não bastou muito tempo para a notícia se espalhar, mas se espalhou muito. Num belo dia, minha mãe foi me buscar na escola - eu ia embora de perua - e a professora comenta com ela:
- Mas você não aparenta estar grávida. Ainda mais de gêmeos!
Pronto, não preciso nem dizer que aquela noite eu dormi com a orelha quente. Mal sabia, que aquela seria a primeira de muitas noites cheias de sermões sobre o mesmo assunto: Mentira. Os comentários eram basicamente sempre os mesmos e, por mais que os escutasse por diversas vezes, não consigo parar com esse vício maldito.
A voz rouca do loiro senhor me fez voltar à realidade.
- Por quê você mente?
Eu pensei na verdade e bolei uma mentira. Analisei qual era melhor.
- Eu? Minto? Sabe que eu não tinha percebido!
É, eu não nasci para falar a verdade.
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