24.12.07

sobre a véspera de Natal.

Minha família está reunida na sala enquanto escrevo aqui. Dá para escutar que estão falando mal de alguém - mas eu não sei quem é, talvez saiba e não queira falar. Minha avó ri alto após um comentário maldoso da minha tia - os outros escutam a conversa calados, fingindo não estarem interessados. A porta de algum carro bate lá fora e eu tenho a certeza de que meu pai chegou com as pilhas para a câmera.
Nada de novo acontece por alguns segundos.
Eu respiro profundamente, tentando achar forças para enfrentar a tal confraternização familiar. A porta se abre, meu pai entra em casa com uma gargalhada típica. Eu rio pensando na cena. Sinto um cheiro de comida pronta e meu estômago ronca - estou com fome. Sei que é a hora certa para me juntar à ceia. Corro as mãos pelos cabelos ainda um pouco molhados. O barulho familiar de refrigerantes sendo abertos, estrala nos meus ouvidos.
Me olho no reflexo da tela do computar e decido descer as escadas, mas antes ligo para ela e desejo um ótimo Natal para toda sua família - mas era um pouco de falsidade, não gosto do irmão dela. Desligo e percebo que há um par de olhos parado junto ao vão da porta - antes de ver quem era, já podia imaginar: minha prima.
- Vem, estão a sua espera.
- Eu sei, estou desligando.
Respiro mais uma vez e gosto da minha confiança - eu vou sair vivo dessa ceia de Natal.
Desligo o computador.

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