21.12.07

sobre um brinde.

Acendo as luzes pisca-pisca que enfeitam o muro de casa. Escuto, dentro de mim, uma dessas antigas canções natalinas. O guarda da rua passa com sua moto, eu aceno e grito "Feliz Natal!", ele pára, olha para trás e me cumprimenta de volta. Ele vai embora, mas eu fico alguns outros segundos do lado de fora, respirando o cheiro de Peru assado que vêm das outras casas.
- Vem, o jantar está na mesa! - minha mãe me chama.
Eu corro, antes que orem sem minha presença - é costume aqui em casa orar antes de qualquer refeição, principalmente em jantares/almoços comemorativos.
Escuto o começo da oração quando chego no meio do caminho. Paro, fecho os olhos e fico escutando cada palavra de agradecimento.
- Amém - um coro de vozes termina a reza.
- Amém - eu digo sozinho.
Abro os olhos e continuo minha jornada rumo a sala, onde todos se reúnem em volta da mesa enfeitada e do Chester recheado. A maioria dos meus familiares está de branco e se servem desesperadamente como se nunca tivessem visto uma ceia. Eu espero a confusão acabar para pegar minha comida - não estou com fome, comi uns chocolates antes dos convidados chegarem. Alguém derruba molho de manga no tapete preferido da minha mãe - ela nem repara enquanto conversa com a irmã. Num dos cantos da mesa, meu tio conta uma piada, alguém ri e os outros não entendem a graça da história. Vejo de relance meus avós darem as mãos por debaixo da mesa, como dois namoradinhos de escola.
O telefone toca e meu irmão se levanta rapidamente para atender - ele sabia que era a namorada. Eles conversam uma boa meia-hora, se despedem e cada um volta pra sua família - seu mundo.
De repente silêncio, todos enxem a boca de um garfadas fartas de comida, meu pai me cutuca e pergunta se eu não vou comer - eu respondo que sim e começo a amontuar comida no meu prato. Todos riem quando, sem querer, eu deixo cair um tomate dentro do copo do meu primo - ele e eu também damos risadas.
- É onze e cinqüenta! - minha tia grita com um tom histérico na voz.
Num passe de mágica, várias taças de champagne são traziadas da cozinha e, quando faltam dez segundos para a meia-noite, o mesmo coro que disse amém no termino da oração, começa a fazer uma contagem regressiva - dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, UM! FELIZ NATAL! Cada um ergue o seu copo e depois toma goles grandes da bebida.
Uns riem, outros se abraçam, mas todos estão felizes.
Ou demonstram estar.
É Natal mais uma vez, mas poderia ser Natal por toda vida.

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