23.5.08

fio de cabelo.

há um fio de cabelo
na minha sopa.

um fio escuro e denso,
boiando sozinho no
caldo amarelo quente.

por tempo, quis trocar
o prato, mas me acostumei
com a presença indigesta
daquele visitante.

com fome e coragem,
engulo às pressas gordas
colheradas, esperançoso
em afogar o pêlo e mágoas.

quero misturar à comida,
o seu cheiro, o seu gosto,
o seu rosto, o seu jeito,
afim de lhe esquecer.

pois o seu cabelo preso ao chão
da minha eternidade,
incomoda mais que esse
dentro da minha boca.

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