14.5.08

naipes - espadas.

As gotas amargas escorrem
e me encobrem de um
manto vermelho.

Sinto-me rei e herói,
e, aos poucos, vejo
a realidade se apagar
dos meus olhos.

Onde havia cavalhos,
cavaleiros e espadas,
surge a escuridão
e seus fantasmas:

o passado, o futuro, o eu, o você.
Chamo seu nome, mas estamos longe,
como as estrelas e a imensidão
que nos separa delas.

Seguro as lágrimas dentro
das pálpebras fechadas
e o grito, embaixo do nó da garganta:
não há tempo para despedidas.

Cruzo as mãos sobre o peito
e sinto meu coração frio
(cheio de mágoas e livre de culpas).

Respiro, prendo o ar -
minha cabeça gira
numa dança que não ensaiei.

Enfim, puxo o punhal
de dentro do peito.
Um último ato heróico
antes de me tornar
busto de mármore
nos jardins de Atenas.

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