27.10.07

sobre o alvorecer.

Ele estava indo embora, desta vez era definitivo. Antes de amanhecer, Fernando já havia feito suas malas e tinha partido rumo à um lugar bem conhecido por ele: a casa de sua mãe. Está certo que não era o lugar mais honroso para alguém que planejou uma fuga estratégica, mas o dinheiro daquele mês estava curto e ir para um hotel - bom -, estava à cima das suas economias.
Os motivos que o levaram à essa atitude não eram muito plausiveis, desavenças com algumas pessoas, uma vida amorosa mal-sucedida, um emprego (mal remunerado) que ele não gostava e várias contas atrasadas - digamos que sua vida esperava por uma virada completa.
No carro levava, como acompanhantes, uma mala cheia das primeiras roupas que conseguiu pegar, sapatos espalhados pelo banco traseiro e, um punhado de sonhos mal-resolvidos. A trilha sonora ficava nas mãos de um CD feito em casa com todas as músicas que marcaram sua extensa vida de apenas 23 anos.
Faltavam ainda 2 horas de estrada e o viajante começou a se perguntar se aquilo estava certo, cedo ou tarde, essa dor-de-culpa iria chegar, ele já esperava e, por mais que desejasse voltar para seu apartamento no Cambuí, preferiu continuar com sua atitude rebelde rumo à Sertãozinho - SP.
Começava o alvorecer por trás de algumas árvores altas, "Nossa que visão linda!", pensou. Fernando se inclinava cada vez mais para perto do pára-brisa, afim ter uma visão melhor daquele momento.
Em um fatídico segundo ele se desiquilibrou e, tentando retonar o controle do carro, virou o volante para esquerda, invadindo a outra pista: o caminhão que voltava não teve tempo de parar. A colisão entre os dois foi fatal: o pequeno Corsa capotou e depois de três rodopios no ar se viu jogado contra uma densa parede de árvores altas.
O sol acabava de nascer atrás da explosão.

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