19.10.07

sobre janelas e segredos.

Ele tinha o que muitos fofoqueiros adorariam ter: uma grande janela que dava-o vista para a rua toda. Tudo que acontecia por lá, tinha-o como testemunha: desde pais brincando com seus filho até a cena mais estranha, que se passou na noite passada. A história, narrada por ele, é exatamente assim:

"Eu estava, assim como todos os dias, com minha janela aberta. Apesar da vista que tenho atravéz dela, nunca me empenhei em bisbilhotar a vida dos outros: o que não quero pra mim, não faço pra ninguém.
Hoje não era diferente, por mais que ela estivesse escancarada eu nem sequer olhava pra ela, até escutar uns barulhos estranhos na rua. Nada de muito extraordinário, parecia o estouro de alguns traques infantis, mas eu não escutava mais nada além daquele 'tec tec tec' intimidador. Curioso, virei-me, vagarosamente, para a janela - afim de averiguar. Nenhum garoto ou garota na rua, todas as casas estava apagadas, as ruas estariam vazias se não fosse pela presença do meu vizinho na calçada oposta a da minha casa. 'Que diabos ele tá fazendo de pijama na rua agora?' eu pensei enquanto observava-o, ele estava de costas pra mim.
Num fatídico momento, ele se virou para a minha janela e eu pude ver, então, a cena que eu desejava nunca ter visto, o cara segurava uma pistola apontada pra mim, apesar da distância, o medo foi tão grande como se estivesse do meu lado. Uns segundos à mais de tensão, o disparo veio: a arma não tinha munição. Acho que ele me viu, ficou constrangido, colocou a arma dentro do samba-canção e entrou para sua casa. Eu fiquei estático olhando um pouco mais para o 'cenário do crime'.
O que se passou depois me deixou mais apavorado.
Eu voltava a pé da escola como todos os outros dias.Parei na guarita do condomínio para me identificar.
- Boa tarde, Lucas, deixaram uma carta pro senhor.
- Pra mim? Você tem certeza?
- Tenho. Foi o Chico da casa 301.
Um frio percorreu todo o meu corpo, Chico era o vizinho que eu flagrei na noite passada.
- Muito obrigado, Jair.
Abri a carta tentando não mostrar pavor, mas não tinha como ficar calmo com a mensagem nela escrita:
'O que você viu ontem à noite é um segredinho nosso. Espero não descobrir que você espalhou a notícia. Coopere e eu te deixarei em paz.'
Saí correndo para minha casa, entrei desesperadamente no meu quarto, traquei aquela janela - para nunca mais abrir."

Ele tinha o que muitos fofoqueiros adorariam ter e se amaldiçoava por isso.

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