Os olhos fechavam periódicamente para não se cansarem, as mãos trêmulas seguravam o cobertor com toda a força que possuía, um frio percorria todo seu corpo deixando-a arrepiada, o fôlego faltava em seus pulmões vez ou outra - a vida parecia ir e vir de seu corpo antigo. Adolfa sabia que o fim estava chegando, restava-lhe apenas mais alguns minutos neste mundo: era a hora de revelar seu segredo.
Por 65 anos ela o guardou trancado a sete chaves no seu coração, ninguém nunca suspeitou e por isso ela precisava confessar.
Em volta da cama estavam seu marido, Ernesto, e os filhos - Joel, Ricardo (e a esposa, Joana), Graça (e o namorado, Tonny).
- Eu preciso... contar uma coisa... para todos vo...cês.
- Não, querida, repouse, é melhor.
- Não posso, eu passei todos esses anos escondendo isso de vocês, está na hora de revelar.
- Nã...
- Deixe-a, pai, deixe-a falar.
- Filhos queridos, seu pai foi o melhor me aconteceu na vida, mas... mas...
Uma única e sutíl lágrima riscou o rosto pálido da velha.
- Sogra...
- Mas não foi o primeiro.
Todos os olhos que a observavam se arregalaram, ninguém intendia ou não queria intender.
- Mãe, você não está bem, pare de gastar seu fôlego.
- Não, filho, não posso mais. Antes de encontrar seu pai... - outra lágrima - eu trabalhei em uma casa... um bordel.
Os olhos de Ernesto se encheram de raiva, Graça soltou um estridente grito de espanto, ninguém dizia nada, um silêncio contemplava a cena.
De repente, um som mais forte que a alma de qualquer um rasgou o quarto de um lado ao outro: Adolfa soltou a mais deliciosa flatulência de sua vida. Logo, suas bochechas, antes com pouca vivacidade, se encheram de vergonha - ela não iria morrer, fora um alarme falso.
Daquele dia em diante, ela entendeu por que "segredos devem ser levados para o túmulo".
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