Olhei para trás e vi várias pegadas minhas na areia, todos os dias bem cedo eu andava na praia - era minha rotina, mas dessa vez faltava algumas outras coisas - 4 outras pegadas, para ser exato, era o que faltava. Dei mais alguns passos, mas as lembranças não foram embora.
Escutei um latido vago no ar, tentei achar de onde vinha e entendi que era só ilusão - uma pena. Tirei os tênis e me deixei pisar na areia ainda gelada, a maré ia e vinha e, as vezes, molhava meus pés - eu ria, eu corria, eu sentia - a falta do meu companheiro.
Cavei ao meu lado as outras 4 pegadas que faltavam, para ver se melhorava essa dor de culpa. Nada, ainda sentia um vazio aqui dentro.
Sentei encima d'uma folha de bananeira que dormia sozinha perto do mar. Eu me sentia sozinho e essa sensação não passava (e jamais vai passar). Abro os braços na espera de que ele pulasse no meu colo e se acomodasse entre minhas pernas e minha barriga, mas ele não veio e, em seu lugar, senti o vento bater contra meu corpo como consolo.
"Foi culpa minha, eu sei!", me repreendia de hora em hora, achando que assumir a culpa melhoraria meu dia, porém só piorou meu humor: deu vontade de chorar, mas segurei as lágrimas dentro dos olhos - tentando sufocar minha alma.
Levantei e corri sem direção pelo que restava da praia. Joguei nas ondas a minha máscara de tentar ser forte e chorei até soluçar.
- Eu preciso de você - gritei pro mar, pro mundo, pra areia - que guardava dentro dela as pegadas dele.
Derrotado, deitei na calçada de barriga para cima e vi sua silhueta nas nuvens - sim, era pro céu que ele havia ido. "Porquê?", eu me perguntava quando uma senhora que caminhava me cutucou.
- Você está bem, meu rapaz?
Me levantei e fingi um sorriso.
- Claro! Só um pouco cansado.
Voltei para casa sozinho, assim como cheguei na praia, mas a saudade do meu cachorro me acompanhava - marcando no asfalto as as quatro pegadas que faltavam.
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