Era uma tarde nostálgica - o sol custava a passar pelas nuvens-tom-de-chuva, o vento gelado colidia nas janelas de metal fazendo um uivo fantasmagórico, as árvores do quintal deixavam parte da sua copa voar mundo a fora, nenhum vestígio de vida ultrapassava as paredes daquela casa imensa onde morava, o seu quarto branco parecia cada vez menor, uma densa fumaça saía do escuro chocolate-quente que Clarice segurava enquanto se aquecia debaixo de suas várias cobertas.
Ela não pensava em nada, só estava ali olhando as ondas ínfimas dentro da sua xícara colorida, mas ela queria sentir: sentir o abraço de seu pai distante, a alegria de sua mãe falecida, as risadas dos irmãos mais velhos, o beijo do marido que não tinha.
Fechou os olhos, sentiu o calor da bebida que esfriava a sua frente, abriu os olhos, tomou um gole, sentiu toda sua garganta quente, amarrada.
Era a vontade de chorar, um choro sozinho, profundo e lindo como a manhã que se punha lá fora.
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