12.11.07

sobre uma pequena caixa.

A noite estava densa lá fora e aqui dentro ela se preparava para seu ritual noturno.
Os olhos cansados daquela pobre velha se fixaram na mobília antiga que enfeitava o quarto, se aproximou dela.
Respirou fundo. Uma, duas, três vezes.
Era muito importante aquele momento.
As mãos enrrugadas abriram suavemente a primeira gaveta, no meio das peças de roupa havia uma caixinha - pequena, cor de madeira velha, cheiro de memórias.
Respirou fundo. Uma, duas, três vezes.
Ela queria chorar, um choro angustiante que vinha da alma.
A sua alma estava cheia de amor e solidão que se colidiam lindamente.
Ainda com a caixa na mão, falou um nome bem baixinho, "Adolfo", era seu marido falecido - vai ver era por ele que ela queria chorar.
Sentou-se na cama, tentando se convencer que aquilo era o mais normal possível.
Tirou a tampa de mógno da caixa, dentro dela havia duas fotos antigas do seu casamento.
De repente uma música começou a soar de dentro do porta-jóias, era uma valsa linda e serena.
Respirou fundo. Uma, duas, três vezes.
Se levantou, forçou um diálogo imaginário com seu falecido esposo.
Começou a dançar valsa, sozinha.
Os passos exatos, o corpo ereto, e a sensação que havia um outro corpo colado ao dela.
Era a sensação de ter o marido mais uma vez, pela última vez.

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