8.11.07

sobre Carlos.

Carlos era escritor e não sabia nada sobre o mundo. Era como se ele vivesse nas suas histórias de ficção toda sua vida. Nenhum dos fatos cotidianos eram absorvidos sem antes serem misturados a histórias inventadas por ele. "Uma árvore caiu com a chuva", logo ele pensava num deus grego rompendo com o caule da coitada. Vai ver era por isso que seus poucos conhecidos preferiam manter distância.
O seu melhor livro vendeu um bocado de cópias, chegou até a terceira edição, o título da obra era "O cotidiano mirabolante", a história de um rapaz que vê na arte sua salvação do mundo que não o compreendia: a pura literatura romântica de um personagem que ele conhecia muito íntimamente: era uma auto-biografia.
Ontem, Carlos decidiu mudar sua forma de ver o mundo. Começou por aceitar uma das verdades incontestáveis: a Terra é redonda. Pois até ontem ele tinha sua própria teoria que o nosso planeta era uma ilusão mantida por uma máquina - no estilo Matrix. Decidiu também começar a comprar roupas, pois ele só usava roupas que tinham sido de seu avô paterno: seu ídolo. O velho cursou, durante seus 80 anos, cinco faculdades incompletas e abidicou dos estudos quando decidiu escrever.
Assim como Carlos, seu avô estreveu apenas livros sem sucesso. Tá, um teve certa repercução, "O fogo que escorre de mim", chegou a ganhar um prêmio: a pior obra de ficção de 1997.
Porém nesta manhã era diferente, saido da loja de roupas, com todo o visual novo, decidiu comprar um barbeador e um desodorante - artefatos dos quais ele havia abidicado faz tempo.
Passou a se alimentar de fast-food, nada mais de regimes indus - agora ele queria carne.
Chega de socialismo, ele queria comprar e comprar cada vez mais.
No fundo, ele chegou a conclusão que era estranho. Mas foi bom, pelo menos ele se aceitou. Ele era um perdedor, mas quem se importava com isso?
Qual era o nome dele mesmo?

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