13.11.07

sobre guarda-chuva.

Chovia forte, era uma destas tempestades de verão.
Pra variar, eu estava na rua e sem guarda-chuva.
As gotas violentas molhavam toda a minha roupa, até pareciam pequenas bolas de fogo de tão ardidas que encostavam em mim. Corri, como se eu fosse vencer alguma maratona, mas não cheguei a lugar nenhum. Nada, nenhuma loja que pudesse me abrigar, estava sozinho.
Ou quase isso.
Na esquina, sentada entre uma lixeira e uma casa, vi uma menininha vestida por um guarda-chuva. Ela não chorava, apesar de parecer sozinha. Apenas aguardava que o céu parasse de despejar água sobre sua cobertura vermelha.
Um vermelho lindo que contrastava perfeitamente com o cinza escuro do céu.
Me aproximei, ela não me notou.
Seus olhos estavam concentrados em ver seu reflexo molhado em uma poça suja.
Chovia forte ainda.
Agachei ao seu lado.
- Ei, menina.
Ela não respondeu, mas me olhou.
Sorriu, ela não tinha um dos dentes-de-leite da frente.
- Você está aí?
Ela gargalhou.
- Oi, seu moço.
Sim, ela havia me escutado.
- Onde eu consigo um desses aí?
- Um guarda-chuva?
- É.
- Ganhei, eu acho. Estava por aí e eu peguei.
Uma pequena ladrazinha.
- Ah, sim. E está fazendo o quê aqui?
- Sentada? Estou esperando.
- Esperando? Quem?
- Meu pai.
Ela fechou seu sorriso, parecia ser muito mais velha agora.
- E ele volta quando?
- Não volta, eu sei. Ele se foi para sempre, mas minha mãe me disse que é mentira.
Chovia forte ainda.
Eu estava confuso.
- Mas então por que você o espera?
- Ele não vai voltar, mas está aqui.
- Aqui?
- É, lá em cima me olhando - ela sorriu com os olhos - e está com saudades, eu sei.
- Sabe? Como?
- Sei porque ele está chorando.
Chovia forte ainda.

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