Um gosto ferroso inundou todo o seu paladar e não era sabor de sangue - não cheirava e não tinha cor de sangue, mas estava lá e não iria se dissipar tão cedo. Engoliu mais um pouco daquela saliva quente e estranha, aproveitando cada gota do líquido viscoso. Flávio nunca tinha provado daquela sensação, porém tinha certeza do motivo de tudo aquilo: e saber só deixava sua boca cada vez mais amarrada.
Colocou a cabeça entre as pernas, tentando esconder as lágrimas que recobriam suas bochechas - ele preferia ter apanhado a levar aquele soco na boca-do-estômago da vida - a vida é má o suficiente para acabar com a vida de qualquer um. O corpo ficou cada vez mais mole e sem motivação para se levantar daquele degrau da praça. Gritou, mas o som permaneceu quieto em seu peito. Deixou que uma ave pousasse em sua cabeça, sentiu uma massa densa se estabelecendo junto a seus cabelos: era seu prêmio de consolação.
Fazia frio naquela tarde de Junho e ele não usava casaco, mas não precisava - sentia o calor que vinha de dentro da sua alma magoada e viva. Engoliu mais uma porção daquela substância se instalara na sua boca - continuava estranha e deliciosamente consoladora.
Era o sabor amargo da verdade que ele nunca esperou saber, era o sabor de um coração que implorava por ser arrancado do peito.
Era a dor de perder um filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário